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Mulher

(Woman, 2019)
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Busca por individualidade

5,0

Unir um grupo de pessoas de características em comum necessariamente as individualiza? Sectorizar grupos sociais traria voz suficiente aos mesmos? Os diretores de Mulher tinham uma tarefa inglória em mãos, ainda que repleta de belíssimas intenções: traduzir, em setores temáticos, a amplitude e a complexidade do nascer em solo feminino. Para isso, reuniram 2000 mulheres de inúmeras origens, etnias, credos, países, formações, com um vasto diferencial de passado, presente e futuro, para tentar criar um painel sobre possíveis diferenças que as aproximassem, teorizando em relatos sobre as dores e delícias de ser o que são.

Se na teoria esse 'calhamaço' de entrevistadas poderiam fazer notar padrões, na prática fica óbvio que a beleza do indivíduo está em ser único. Como colocar no mesmo parâmetro uma sudanesa em existência miserável e uma francesa bem sucedida? Como não compartimentar o olhar de uma australiana de meia idade casada e o de uma mexicana jovem solteira? O ser humano é uma infinidade em cada um, e rapidamente percebemos que o projeto de Anastasia Mikova e Yann Arthus-Bertrand deixa de particularizar o gênero perseguido para priorizar a quantidade de inserções, prejudicando a ideia.

Em aparições que duram em média de 1 minuto cada uma, o filme passeia em temas caros à figura feminina, tais como a perda da virgindade, a primeira menstruação, a sexualidade, o casamento, a emancipação monetária, a violência contra si (sexual e não-sexual), a maternidade, a vaidade, a velhice, entre outros. Cada bloco não chega a durar 10 minutos e não tem um anúncio formal, mas tem uma progressão com certa lógica. Cria-se então um excesso de entradas em cena intercaladas por instantâneos filmados que ilustram cada tema, que pela rapidez com que se apresentam não conseguem o que seria necessário - capturar quem assiste para o cerne da discussão, ou seja, àquelas vidas, e fazer jus às suas camadas.

Muitas dessas entrevistadas conseguem criar uma conexão empática com o espectador graças ao poder de sua oratória, pela força da sua mensagem, ou por seu carisma, claro. Mas com pouco mais de 60 segundos em cena, suas histórias não são apenas esvaziadas como absolutamente vetadas de impacto e relevância, como se estivessem num eterno looping de silenciamento. Seus rostos à frente de um fundo preto até mantém uma estratégia padronizada, mas ao custo de igualmente uniformizar cada uma daquelas histórias, algumas tão devastadoras e únicas exatamente por serem dotadas de personalidade.

Ainda que a produção naufrague em um dos aspectos mais particulares, tendo em vista o lugar de responsabilidade com cada uma de suas infinitas personagens, Mulher não deixa de gritar por direitos que tantas ainda não têm. Em momentos de ambiguidade, essas mulheres e todas as outras espalhadas pelo planeta declaram umas seu amor pelos filhos e outras pela liberdade pessoal de não ser mãe; umas mostram seu amor pela família e outras pela solteirice; umas lamentam a passagem do tempo e outras festejam a longevidade. Ou seja, muitas mulheres em suas diferentes idiossincrasias que não mereciam ser espremidas em nome da quantidade, quando deveriam ter mais espaço em prol das próprias vozes, sendo ampliadas de verdade.

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