Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Narrativamente pobre, mas consegue arrancar algumas risadas.

5,5

Há pouco tempo, o diretor e roteirista Cláudio Torres confessou em entrevista que um dos erros cometidos em Redentor, seu trabalho de estreia, foi exatamente a ânsia de querer fazer vários filmes em um só. De fato, Redentor mesclava diversos gêneros e ideias em uma produção claramente ambiciosa, mas com resultado bastante irregular. Ainda assim, era possível perceber que Torres era um diretor com certa ousadia e originalidade, capaz de realizar filmes interessantes quando obtivesse alguma experiência.

Assim, não deixa de ser decepcionante que este A Mulher Invisível seja uma obra tão convencional e repetitiva, além de claramente se inspirar (leia-se, copiar) em outras produções com temática semelhante. O roteiro do próprio Torres conta a história de Pedro, um controlador de trânsito que, após a mulher pedir o divórcio, entra em profunda depressão. Um dia bate à sua porta a vizinha Amanda, uma loira escultural que não demora a se apaixonar por ele. Os dois começam uma relação, até Pedro descobrir um pequeno problema: Amanda não existe.

Em seus primeiros trinta minutos, A Mulher Invisível sofre do mesmo mal de boa parte da produção cinematográfica brasileira: o artificialismo das situações e das atuações. Os diálogos demoram a soar naturais e, por consequência, o filme leva algum tempo para realmente convencer o espectador de que os personagens realmente estão passando por aquilo. Para piorar, grande parte das piadas desse primeiro ato realmente não funcionam, como a montagem com as mulheres que Pedro leva para a cama e as brincadeiras com o fato de Amanda não ser real (“Eu só existo com você!”).

Felizmente, o filme se torna mais interessante quando o casal sai do apartamento e começa a interagir com as pessoas. São nesses momentos que A Mulher Invisível consegue arrancar algumas boas risadas, quando outros vêem o protagonista agindo sozinho como se fosse maluco. Estas cenas são o grande destaque e o que realmente faz da produção algo passível de se assistir. Ainda assim, Torres exagera na quantidade delas, e A Mulher Invisível acaba limitando seu alcance às gags visuais decorrentes de tal situação do que a uma maior inteligência ou ironia do roteiro.

Nesse sentido, é difícil não mencionar os méritos de Selton Mello, que se sai particularmente bem na comédia física – com ecos claros de Steve Martin em Um Espírito Baixou em Mim. Talentoso, Mello não está em seus melhores momentos no restante do filme (fica sempre a dúvida sobre se o personagem está se divertindo ou sofrendo com a situação), mas o ator realmente se destaca nas cenas em que deve agir sozinho como se estivesse com Amanda, demonstrando mais uma vez o ótimo timing cômico que fez sucesso em O Auto da Compadecida.

Por outro lado, Luana Piovani nada tem a fazer além de parecer bonita, no que é muito bem-sucedida. Torres, aliás, parece completamente enamorado da atriz, pois em todas as cenas com ela os planos são criados de forma a explorar seu corpo escultural – como aquela na qual o casal discute em frente à televisão com a câmera ao nível do chão, dando destaque às longas pernas de Piovani. Na realidade, o ponto alto do elenco é, como sempre, Fernanda Torres, que mais uma vez comprova ser a melhor atriz de comédia do Brasil ao entregar com perfeição absoluta todas as suas falas.

Porém, ainda que consiga gerar algumas risadas, A Mulher Invisível falha em termos narrativos. A história e os personagens jamais são desenvolvidos de maneira satisfatória, tornando-se meros instrumentos para as cenas físicas. Os romances, por exemplo, não convencem, com os personagens se apaixonando de maneira rápida e abrupta. Torres ainda erra a mão em diversos momentos, como quando, após Pedro descobrir que Amanda não existe, utiliza uma montagem com o personagem se dando conta de que fazia tudo sozinho. Essa cena teria algum impacto se a plateia não soubesse da condição do protagonista (vide Clube da Luta), mas acaba perdendo todo o impacto por isso não ser um segredo.

Outro exemplo de derrapada de Torres na construção de sua história diz respeito ao fato de como Pedro vê Amanda. Em certos momentos, parece que ele apenas a enxerga, falando com alguém que não existe. No entanto, em uma cena dentro de casa, o personagem parece incorporá-la, pois pergunta e responde pelos dois. É uma incoerência do roteiro que demonstra, mais uma vez, como o grande objetivo do filme não é contar uma história, mas simplesmente fazer algumas piadas. Aliás, isso fica bem claro quando se percebe que Torres não sabe como encerrar sua obra, estendendo-se demais em diversos finais – ainda que a ideia de Pedro pensar ver outra mulher seja interessante, porém mal aproveitada.

Para uma comédia, A Mulher Invisível não chega a ser um desastre, pois oferece momentos divertidos e algumas boas risadas. Não muitas, é verdade, mas o suficiente para fazer o filme cair no gosto do público. Em contrapartida, é uma obra com diversos problemas narrativos, que falha em construir uma história ou personagens interessantes. Ainda não foi dessa vez que Cláudio Torres acertou.

Comentários (0)

Faça login para comentar.