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Críticas

Cineplayers

Falta de lógica é a marca registrada desse terceiro "A Múmia", um dos piores filmes do ano.

3,0

Nesse mesmo período de 2007, três filmes chegavam aos cinemas para encerrar trilogias: Homem-Aranha 3, Piratas do Caribe: No Fim do Mundo e Shrek Terceiro. Os três filmes em questão foram duramente criticados pela mídia especializada e por parte de seu público, que esperavam no mínimo a mesma qualidade apresentada nos dois primeiros exemplares de cada história. O que difere os filmes citados de A Múmia: Tumba do Imperador Dragão nesses apontamentos é uma simples questão de calendário.

Quando lançado em 1999, A Múmia apresentou ao mundo um novo herói. Arqueólogo e aventureiro, especialista em causar problemas e em seqüência resolvê-los, o tipo nunca perdia a oportunidade de flertar com a mocinha principal e de fazer algum comentário sarcástico, mesmo nas situações mais inadequadas. Quaisquer semelhanças com outro conhecido personagem não são mera coincidência, e embora Rick O’Connell tivesse suas próprias qualidades e defeitos, as mesmas não o diferiam muito daquele icônico personagem que obviamente inspirou sua concepção.

Tanto a primeira quanto a segunda parte da série dos embalsamados funciona da seguinte forma para seu público: quanto mais descompromissado o espectador estiver, mais chances de bom entretenimento terá, ficando fácil que o mesmo se prenda à divertida história, aos carismáticos personagens e que perceba os bons efeitos especiais e sonoros. Com a terceira parte da já franquia o que se sucede é o enfraquecimento de alguns dos apontamentos aplicados na frase acima, assim como o súbito desaparecimento de outros, em um filme que se esforça, porém não consegue ser mais que decepcionante.

Do roteiro estapafúrdio de Miles Millar e Alfred Gough, o novo A Múmia introduz à saga o grande Imperador Dragão da China, Han, que faz um acordo com uma feiticeira para torná-lo imortal e assim ter mais tempo para dominar o mundo. Quando ele não cumpre sua parte da promessa a feiticeira o amaldiçoa, transfigurando-o em uma escultura de terracota, junto com seus 10 mil soldados. Após a extensa e explicativa narração que esmiúça o trecho da sinopse apresentado até aqui, a trama segue para 1947, quando Alex O’Connell localiza a tumba do imperador juntamente com seus soldados. O desejo de Alex é que a grande descoberta o tire da sombra de seu pai, o aventureiro Rick O’Connell. Para que a história siga em frente, o imperador é acidentalmente ressuscitado e os pais de Alex voltam à ativa, para ajudar o jovem a impedir os maléficos planos do déspota.

Substituindo o fraco Stephen Sommers, Rob Cohen consegue provar que o diretor de A Múmia e de O Retorno da Múmia não fora a pior escolha do estúdio para a franquia. Cohen apresenta uma direção insegura, convencional e pouco rebuscada, que é tão pífia quanto seus trabalhos anteriores, sempre priorizando a ação frente a qualquer resquício de cérebro. O diretor aplica tantos cortes bruscos em determinadas cenas de luta que fica praticamente impossível definir qual personagem está em vantagem, isso quando não aplica o recurso de câmera lenta em algumas cenas rápidas, para maximizar a tensão. Também é risível o esforço de Cohen para utilizar o que (não) aprendeu com os mestres Ang Lee e Zhang Yimou, em filmes como O Tigre e o Dragão e Herói, ao construir uma rápida seqüência com Michelle Yeoh e Jet Li, respectivamente protagonistas dos filmes supracitados, em uma luta de espadas. 

Os personagens e seus respectivos intérpretes ora parecem acreditar na situação em que se encontram e ora produzem seqüências que beiram o constrangimento - do espectador, claro. Para citar um exemplo que se volta contra a própria produção, o personagem de Brendan Fraser é introduzido ao filme à beira de um lago, tentando pescar algumas trutas para o jantar. Insistentemente o personagem fala sozinho (assim como quase todo mundo no universo do novo A Múmia) e explica ao espectador o que está a fazer. Ao movimentar a vara para atirar a linha de pesca em direção ao lago, ele prende o anzol em seu pescoço. Quando percebe que não possui talento para tal atividade, saca sua arma e atira tresloucadamente em direção ao lago, tentando atingir algum peixe. A cena traça um paralelo óbvio com a saga de Indiana Jones. Uma vez que Rick não possui habilidades para exercer o movimento com a vara de pescar, muito parecido com o de um chicote, desiste do instrumento e parte para a sua especialidade. Pior que essa seqüência é apenas a que a segue onde, já no jantar, Evelyn (uma insossa Maria Bello, sem o sotaque britânico da personagem) dá uma garfada em uma truta e encontra, evidentemente, uma bala.

Um último apontamento para o filme é o péssimo tratamento que a produção deu às línguas que utilizou. Inicialmente o filme possui uma narração em off completamente em chinês feita pela feiticeira, personagem de Yeoh. Fica indefinido após algum tempo a intenção da produção ao inserir uma cena onde a feiticeira conjura um feitiço, lendo um pergaminho escrito em chinês antigo, falando inglês! Assim como em uma cena onde a mesma conversa com sua filha - e as duas são as únicas personagens presentes na seqüência - também em inglês.

Cavando um buraco suficientemente grande para sepultar este filme, Rob Cohen e seus roteiristas ainda deixam em evidência a intenção da mudança futura de protagonistas: de Rick O’Connell e sua esposa, para Alex O’Connell e sua namorada. Se muitos não conseguem imaginar a franquia do Indy não protagonizada por Harrison Ford, fica ainda mais difícil esperar algo bom da próxima seqüência de A Múmia, caso seja liderada por esses personagens fracos, interpretados por atores pouco carismáticos.

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