Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Pouco original, de soluções irrisórias e mal interpretado. Precisa de algo mais?

4,5

Os filmes de terror adoram abordar assuntos espirituais, obviamente. Isto quando não têm por tema os famosos assassinos sanguinários e as adolescentes estereotipadas que só se põem a correr. Mas há excelentes obras deste gênero, que não apelam para a violência exagerada ou a fórmula básica e nem um pouco inovadora de sustos recorrentes - O Sexto Sentido, por exemplo.

Ringu, no Oriente, é certamente um filme de terror que ficará marcado por muito tempo na cabeça de muitos espectadores. O sucesso da maldição da fita de vídeo foi tão grande que chegou a ser disseminado também no Ocidente, com O Chamado. A partir de então, seria perfeitamente normal que esse novo estilo, o que joga mistérios assustadores para cima do espectador e que usa de elementos não muito comuns, fosse copiado. E então, surgiu Na Companhia do Medo.

Na Companhia do Medo conta a história de Miranda Grey (Halle Berry), uma psiquiatra que trabalha num lugar não muito agradável. Ela tem que lidar com todo o tipo de loucos (ou melhor, loucas, pois se trata de um local destinado a mulheres apenas), e o próprio aspecto físico do prédio - um emaranhado de concreto, grades, corredores e pequenos quartos - não é muito animador. Miranda tem seu trabalho bem reconhecido, é bonita e tem um casamento estável. Ela tem uma boa casa, um bom carro... enfim, um status perfeito para o tipo de sociedade em que vive.

Porém, certa noite, após ter de lidar com uma paciente definitivamente assustadora (interpretada por Penélope Cruz) e sua história aterrorizante sobre o Diabo e um estupro, ela sai do trabalho e vai dirigindo até a sua casa. No meio do caminho, ela encontra um desvio, tem de tomar outro caminho e, após um certo acontecimento, acorda no local em que trabalha: agora, ela é a paciente - e foi acusada de matar o próprio marido. Algo interessante sobre a inversão de papéis que sofre a doutora Miranda Grey é que se permite uma melhor análise sobre como os loucos são subestimados e carecem de confiança.

Halle Berry, atriz que já levou um Oscar para casa, aparentemente cai bem em sua personagem. Depois, entretanto, observa-se que ela se rende a ataques histéricos, e ela passa grande parte do filme correndo, gritando e fazendo cara de assustada: enfim, transforma-se numa completa louca. Penélope Cruz, que não está com a bola toda, soube segurar sua personagem com decência. Há a participação menor de outros atores, como a de Charles Dutton (no papel de Dlougas Grey, marido de Miranda Grey) e Robert Downey Jr. (interpretando Pete Graham, também psiquiatra), mas tais participações são tampouco suficientes para se afirmar que o filme consta de boas atuações.

Na Companhia do Medo teve muitos de seus elementos copiados de outros filmes, como O Sexto Sentido ou O Chamado. Algumas falas foram plagiadas, como "O que você quer de mim?", ditas com a mesma entonação e com exatamente as mesmas palavras, no mesmo contexto; Rachel, a "vilã" do filme, interpretada por Kathleen Mackey, lembra bastante a garota Samara (de O Chamado), embora seu papel seja só andar pelos corredores, perseguir a protagonista ou ficar parada no meio da rua.

A trama é contada de tal modo que as situações tornam-se muito previsíveis. Lá pela metade do filme você imagina mais ou menos como tudo aconteceu. O final do filme reserva algumas revelações, que são atiradas ao espectador de uma forma tão rápida que se corre o risco de não entendê-las. O clima de tensão estabelece-se exatamente pela previsibilidade dos fatos: o espectador fica tenso porque sabe que vai se assustar - diferentemente de Ringu ou O Chamado, por exemplo, em que a tensão é estabelecida simplesmente porque a situação é, por si só, tensa. Quando o espectador não é assustado, é presenteado com algum acontecimento simplesmente risível, ou por ser ridículo ou estranhamente fora de contexto.

A produção técnica foi pouco original, mas houve alguns efeitos interessantes e inteligentes. Enquanto a iluminação é a mesma de sempre (as situações assustadoras decorrem à noite) e as músicas não chegam a variar, há jogadas inteligentes de câmera (que atravessa até mesmo paredes) e efeitos especiais surpreendentes.

Enfim, Na Companhia do Medo não é exatamente um bom filme - poderia ser outro, bem diferente, se a execução não patinasse ou se a trama fosse contada de outra maneira. A cena final sugere uma continuação. Se contiver os mesmos erros que o primeiro teve, é melhor que não exista.

Comentários (0)

Faça login para comentar.