Não Pare na Pista falha miseravelmente ao não solucionar o maior mistério de Paulo Coelho: afinal, por que diabos aquele rabicho no cabelo?
O subtítulo nacional de Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho (2014) poderia ser verdadeiro, mas infelizmente não o é, por mais pessimista que isso possa soar. Sofrendo com o problema clássico das cinebiografias, o filme tenta dar conta de toda a vida do biografado. Porém, acaba por deixar uma sensação de vazio sem ter se aprofundado em momento algum da vida de Paulo Coelho.
Busca-se traçar, por meio de uma montagem não-linear e um tanto histérica, os vários momentos da vida de Coelho em um modo causa-e-efeito quanto ao desencadeamento óbvio da trama, sempre nos permitindo vislumbrar facilmente a próxima cena. Quando o pai pergunta ao filho o que quer ser quando crescer, corta para o personagem já adulto e com uma carreira bem definida – e a lógica, claro, se repete. O roteiro, escrito por Carolina Kotscho, apresenta várias fases da vida do escritor: o jovem rebelde engajado politicamente, o compositor e amigo de Raul Seixas, o amante-poeta apaixonado, o místico numa jornada interior e o escritor famoso em crise de meia-idade (com um rabicho ridículo no cabelo). Talvez o único Paulo Coelho a realmente conhecermos seja o jovem, ao passo que os demais momentos de sua vida são tratados de forma passageira e superficial.
Todas as fases possuem em comum pelo menos um elemento, a saber, o vitimismo com que o protagonista é abordado. Desde sua adolescência, Paulo Coelho é retratado enquanto vítima completa de quem o cerca. Na juventude, por exemplo, seus pais são os conservadores que sufocam sua liberdade criativa. Justificam-se, assim, todas as atitudes mesquinhas e pequeno-burguesas do personagem. Nos seus romances, as figuras femininas são sempre a voz do conservadorismo, a força da cobrança, que buscam colocar uma camisa de força nesse suposto espírito libertário. E o cúmulo do canalhismo surge quando, na sua relação com Raul Seixas, qualquer possibilidade de nuances é descartada em prol de uma traição deliberada de Raul, demonizando por completo o brilhante roqueiro. Sim, houve um processo de ruptura, e Paulo Coelho dificilmente é evocado ao lembrarmos, por exemplo, de Meu Amigo Pedro. Contudo, nem por isso existem anjos ou demônios nessa amarga separação, superada anos depois por ambas as partes. O maniqueísmo chega a tal ponto que, ao se exibir o clipe de Gita (cuja letra fora composta pela dupla) na TV, evocando o sucesso de Raul, a montagem mostra Coelho assistindo, alternando cenas em que está passando mal com o próprio clipe, estabelecendo-se uma relação direta entre os eventos.
O tom chapa-branca dominante, inclusive ao tratar o uso de drogas do protagonista apenas como uma “fase” passageira, revela o caráter quase publicitário da obra, destinada a vender tanto quanto os livros de Coelho. Com o selo Rede Globo de novelas, os diálogos expositivos causam vergonha alheia por sua obviedade, alcançando momentos emblemáticos quando, por exemplo, o jovem rebelde, ao ser reprimido pelo pai, grita, em tom caricato: “Seu capitalista! Seu mercenário!”, nos restando rir da situação. Mais cômico ainda são os ensinamentos pretensamente filosóficos narrados por um guia espiritual do personagem – uma tônica bastante auto-ajuda. Além disso, a direção engessada e a montagem pragmática, onde tudo precisa necessariamente servir de alavanca narrativa, matam qualquer boa vontade por parte do elenco.
Há uma cena em Não Pare na Pista que serve de metáfora ao próprio filme. Ao entregar seu manuscrito do romance O Alquimista para seu editor, Coelho, crente quanto à qualidade de seu trabalho, decepciona-se ao escutar que “o seu livro não é bom”. O público, pelo contrário, se apaixonou absolutamente e a obra obteve um sucesso absurdo. É possível que alguém tenha avisado a Daniel Augusto, diretor do filme, sobre a má qualidade de seu produto (e o termo adequado seria este mesmo). No entanto, ainda assim, não deve ter desistido. Se o público elevará a produção como ovacionaram O Alquimista, apenas o tempo dirá.
Paulo Coelho é um pé no saco. Ô cara chato. O Alquimista é um lixo.
Não posso comentar sobre o filme por não tê-lo visto, mas cheguei a ler O Alquimista e Diário de Um Mago e os trato como livros pra adolescentes. Li com 14 ou 15 anos e achei um saco. Uma espécie de masturbação intelectualóide de autoajuda. Autoajuda? Autoajuda é a masturbação física hahahahaha. Que fique claro que estou julgando mediante uma leitura feita ha mais de 10 anos atrás. Eu lendo hoje talvez nem tenha este ranço contrário aos livros. Ou mesmo que ele aumente...
Porra beleza Kadu, compreendi bem sua defesa e até darei uma investigada, por interesse mesmo, nas suas citações. Como eu comentei, minha interpretação da obra dele (do pouco que li) foi embasada em uma leitura feita há 10 anos ou mais. Ou seja, uma situação um pouco turva que só posso reafirmá-la com maior valoração após uma revisitada ao material.
Só a música tema "Não Pare na Pista" é que se salva no filme. Quanto ao rabicho supostamente ridículo do Paulo Coelho é questão de gosto.