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Noite de Aventuras, Uma

(Adventures in Babysitting, 1987)
7,0
Média
44 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Gatinhas, gatões e uma noite muito louca

6,5

Quando se analisa a filmografia de Chris Columbus, é fácil reconhecer títulos extremamente populares. Quantas vezes, por exemplo, não vimos reprisado na TV os dois Esqueceram de Mim, os primeiros filmes da franquia Harry Potter, além dos super simpáticos Uma Babá Quase Perfeita e Lado a Lado? Diante dessas obras, não é equívoco afirmar que o cineasta é um tanto quanto subestimado, principalmente por aqueles que misturam os significados de “simples” e “simplório”. O cinema de Columbus é simples em forma, mas a abordagem do diretor sobre os roteiros é azeitada. Não há nada de extraordinário na execução, mas há carisma que conquista em um desenrolar nada piegas. Pelo contrário, é cheio de coração e vem na forma daquele abraço nostálgico.

Em seus Esqueceram de Mim, Columbus claramente bebeu muito na fonte hughesiana. John Hughes esteve ali, por trás de toda a concepção, e Columbus tratou muitíssimo bem os arquétipos do cineasta aficionado pela juventude oitentista. Contudo, antes de trabalhar no filme protagonizado por Macaulay Culkin, Columbus já aplicava alguns aspectos de Hughes em seu Uma Aventura de Babás (nome adotado pelo Disney+), divertido longa, ainda que não fosse tão bem resolvido quanto os que dirigiria adiante. Embora já tivesse atuado em Hollywood por meio da escrita de roteiros, o debut do cineasta na direção foi com o Aventura de Babás. No filme, o diretor já no primeiro ato demonstra toda uma veia pop juvenil com a dança e toda jovialidade da personagem de Elisabeth Shue abrindo o filme. A ambientação, dos móveis à trilha de John Williams remetendo ao melhor das discotecas, soma-se ao figurino e performance de Elisabeth para injetar no filme toda a roupagem que este carregará até seu final.

Se o início do filme é meio truncado com um humor que não se acerta nos seus flertes com o besteirol do adolescente danadinho, ele ainda tem saldo no verde porque a figura da babá de Shue é magnética. Columbus registra bem a imagem dela, explorando seus olhares e traços marcantes, como o cabelo de um loiro vivo. O diretor decupa bem na ideia de fazer da babá seu sol com adolescentes e crianças orbitando em seu entorno com o objetivo de fazer um contraponto de posturas etárias. Nem todas as piadas funcionam e, maneira geral, esse começo do filme não se encontra muito.

Mas eis que o jogo vira e Columbus passa a filmar uma espécie de road movie noturno no segundo ato, com alguns embaraços deliciosos de se acompanhar. Parece até que tudo se verte em um Depois de Horas com pegada teenager. Os desafios vão desde encontrar um caminhoneiro com gancho na mão após uma parada na estrada até escapar de um galpão de ladrões altamente especializados no roubo de carros. Os entre-tempos dessas missões nada usuais, ou seja, o que acontece no intervalo delas, são os que menos funcionam e que pouco acertam no tom. A tentativa de aprofundamento pra alguns personagens e o engate de romances em encontros forçados com piadas pouco espontâneas em uma casa de shows ou restaurante não convencem e deixam o filme enroscado.

O que há de mais espirituoso e que bem evoca a direção são as arapucas em que caem a babá com as crianças enquanto tentam chegar à rodoviária para buscar a amiga da protagonista, Brenda, interpretada por Penelope Ann Miller. Embora sejam de uma encenação mais quadrada na comparação com o que Columbus viria a apresentar no próprio Esqueceram de Mim, as situações aqui em Uma Aventura de Babás têm seus pontos altos na hilaridade personificada que é a sequência, por exemplo, em que o diretor filma a babá, com suas crianças, se contorcendo toda para sair de um covil de bandidos, tendo que andar por vigas no teto, se equilibrando para que nada caia e chame a atenção dos delinquentes. Um pouco do humor físico é explorado nessa sequência e logo já partimos para uma outra, envolvendo perseguição de carros e, progressivamente, as furadas que a babá Chris Parker se mete vão ficando cada vez mais complexas.

E é interessante que o registro delas acompanha todo o intuito do filme, que é o de trazer uma tensão calculada, pois percebe-se sempre em cada uma dessas fase do videogame geracional que Uma Aventura de Babas é, uma iminente resolução facilitada. Nitidamente os personagens não estão em perigo factual. Há sempre um escape fácil para eles. É como o sair às ruas de Ferris Bueller no Curtindo a Vida Adoidado. Sente-se um perigo só de leve. Uma ameaça que, na verdade, é só a ameaça açucarada que Hollywood nos apresenta pra ficarmos um pouco mais mergulhados na pipoca e no olhar para a tela.

É como a sensação experienciada em Férias Frustradas, de 1983, e tantos outros desta vertente. E se Columbus não é tão detalhista na caracterização de tudo e nem lida da maneira tão ímpar com esses filmes “non stop” e de muita confusão oitentistas, soando até meio automático no filmar de algumas sequências, ele não perde de vista o carisma que cada um ali fornece. Seja Sara, com seu apreço pelo Thor, ou Brad, com sua fixação pela babá, que o faz admirá-la como uma deusa. É tudo no ponto certo pra despertar a empatia do espectador e, embora Columbus não tenha o mesmo refinamento de mise en scène de Hughes, tem senso para colocar o coração em primeiro lugar, encontrando em seu uma Aventura de Babás os melhores momentos na correria por Chicago.

Os respiros do filme não lhe fazem bem, com diálogos e desenrolares que quebram o ritmo. Mas cada uma das fases desse game em que se metem babá e crianças geram um delicioso gato e rato para a época disco. Daqueles filmes para se ver numa noite sem muita coisa melhor pra assistir, mas com a certeza de que se dará play numa aventura escapista das mais dignas às gatinhas e aos gatões.

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