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Críticas

Cineplayers

A noite mais chata do ano.

2,0

Uma Noite de Crime (The Purge, 2013) mal chegou e já pode entrar para a lista de abacaxis do ano. Com direção e roteiro de James DeMonaco e participação de Ethan Hawke no elenco e na produção, o filme decepciona por jogar fora uma premissa bem interessante, que poderia render um grande suspense, ou pelo menos mediano. Na visão distópica de uma América futurista, o governo sanciona uma lei de expurgo (o “the purge”) que permite que, durante doze horas por ano, qualquer crime seja liberado e legalizado, incluindo assassinato, assalto, estupro, invasão, vandalismo e depredação em propriedades públicas e particulares. A polícia e os hospitais fecham seus serviços e as pessoas estão livres para fazerem o que bem entendem, com a desculpa de que precisam de um momento para expurgar suas frustrações, ou simplesmente aliviarem a tensão de suas vidas.

Ethan Hawke é James Sandin, um pai de família bem sucedido que trabalha como vendedor de sistemas de segurança máxima, usados especialmente para as noites de expurgo. Obviamente, sua casa se encontra bem protegida na noite de terror, mas a segurança de sua família é arriscada quando o filho mais novo, Charlie (Max Bukholder), abre secretamente o portão da casa para um desconhecido, que implorava por ajuda diante da câmera de segurança. Agora abrigando um estranho, a família começa a ser atacada por um grupo de mascarados que querem a qualquer custo a vida deste homem.

Em alguns aspectos, Uma Noite de Crime lembra o eficiente terror Os Estranhos (The Strangers, 2008), que também coloca seus personagens isolados em uma casa, à mercê de um grupo de mascarados dispostos a causar dano, sem um motivo aparente. Mas, diferentemente do filme de Bryan Bertino, DeMonaco não consegue criar um clima envolvente, assustador, por mais que sua premissa praticamente emane uma atmosfera sufocante. Chega a ser incômodo notar a incapacidade do diretor em aproveitar uma história que poderia caminhar com as próprias pernas, e o que temos é um filme sonso, sem graça, que sequer desperta algum interesse, comandado por personagens inúteis e uma atriz principal risível (não se via tantas caras e bocas de susto pavorosas desde as clássicas de Shelley Duvall em O Iluminado [The Shining, 1980]).

A princípio há um dilema moral: entregar ou não aquele homem ferido e acuado para os maníacos? Se não, vale a pena colocar em risco a vida de pessoas que você ama para poder fazer o que é certo? Mas acontece que estamos em uma era em que dilemas morais não são exatamente incômodos, já que o próprio governo permite e até estimula o ódio ao próximo. No fim, sob a escuridão da casa e espalhados pelos cômodos, cada membro da família tomará uma atitude diferente diante da situação, até o momento em que os mascarados decidam invadir de vez a casa, agora dispostos a fazerem o pior não somente ao homem ferido como a todos ali presentes.

Se o filme é cambaleante em sua trama inicial, a espera por um guinada é sabotada quando o diretor não consegue criar ao menos um único momento de tensão, após a invasão da casa. Tudo estava ao seu favor: uma casa mergulhada na escuridão, um grupo de psicopatas com máscaras horripilantes e a impossibilidade da ajuda de qualquer autoridade policial. Resumindo: matar ou morrer. O que poderia ser uma empolgante ação de luta por sobrevivência se transforma em um insosso corre-corre, comandado por um vilão sem peso algum (uma espécie de tentativa estúpida de imitação do requinte e crueldade frios de Hannibal Lecter). Por trás de tudo, há um suposto discurso sobre os limites da violência, e como ela se expande sutilmente suas fronteiras.

Na visão de DeMonaco, haverá um dia em que a mídia se livrará de sua hipocrisia e incentivará abertamente e sem nenhum pudor a violência irracional, assim como a sociedade, que por trás das aparências esconde pessoas que só precisariam de uma única chance de extravasar todo seu ódio contido. Em Uma Noite de Crime, todos ganham essa oportunidade. Só não ganha o espectador, que tem que se contentar com um discurso final fuleiro e ver uma premissa tão interessante sendo jogada no lixo.

Comentários (14)

Bruno Kühl | sábado, 09 de Novembro de 2013 - 17:17

nada é o que parece, meu jovem

Júlio César Filho | sábado, 09 de Novembro de 2013 - 18:13

toda vez que eu vejo esse urso com uma arma começo a rir! 😏

Alexandre Marcello de Figueiredo | sexta-feira, 24 de Janeiro de 2014 - 19:18

Não é tão ruim assim, a ideia do filme é até interessante, porém, se perde um pouco ao longo da projeção embora tenha algumas cenas tensas; os atores também não correspondem muito.

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