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Noite do Chupacabras, A

(A Noite do Chupacabras, 2011)
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Críticas

Cineplayers

O título pode ser do chupacabras, mas a noite é dos Silvas e dos Carvalhos!

6,5

Em dado momento, após meia hora de filme, fica fácil pensar que Rodrigo Aragão está bancando o Steven Spielberg brazuca e guardando o grande protagonista de seu filme de monstro para o clímax como forma de contornar o baixo orçamento do longa (“esta é uma produção independente” é a primeira coisa que ficamos sabendo sobre a obra). Porém, não demora para que fique claro que apesar do título, os personagens para os quais se direciona o olhar do cineasta são os membros das duas famílias rivais, os Silvas e os Carvalhos, que enquanto o tal chupacabras ataca escondido entre árvores, se mutilam e matam à luz do dia como parte da rotina de suas vidas.

Sempre fica evidente o interesse de Aragão em lotar seu filme de uma brasilidade genuína que não seja apenas territorial, mas que reflita em diversos aspectos do filme. Assim, não basta passear com câmera entre cenários de nosso país, é necessário que o monstro do longa tenha nos assombrado por aqui (ou feito rir naqueles programas de televisão que só os anos 90 poderiam proporcionar) e não seja apenas herdado de um filme hollywoodiano. Na sonoridade toda própria e inigualável de um palavrão de nossa língua dito em alto e bom som (e, convenhamos, nem uma centena de fucks possui a força de um “fia da puta” e A Noite do Chupacabras deve ter dezenas deles) nossa língua é valorizada. E até mesmo nomes como Joel Caetano ou Petter Baiestorf no elenco se tornam um reconhecimento de que fazemos, sim, esse cinema de gênero por aqui, ainda que sob muita luta.

A própria rixa entre Silvas e Carvalhos acaba refletindo os diversos conflitos familiares que permeiam nossa história e que fariam Hatfields e McCoys se envergonharem tamanha a violência e quantidade de sangue derramado. Sangue esse que Aragão não economiza ao longo do filme já que desde antes do chupacabras tomar o filme de assalto, o cineasta abraça o choque da violência e do gore com prazer e talento, ilustrando de maneira impressionante esse embate que parece tomar conta daquelas terras de uma maneira tão violenta que não sobra espaço para mais ninguém habitar ali além daqueles corpos prontos a explodirem em selvageria a qualquer momento. A cena da briga no boteco ou o tiroteio na casa dos Carvalhos são cenas muito bem executadas pelo cineasta, trazendo uma genuína incerteza se sobrará um daqueles homens para o monstro devorar ao fim já que não demora para que todos estejam cobertos de sangue e com partes do corpo faltando. Talvez o grande problema do filme seja esse: o momento climático acontece muito cedo e o que vem depois parece sempre ficar aquém dessas cenas tanto em violência quanto em execução já que o confronto com o chupacabras (apesar da caracterização interessante do monstro) jamais parece repetir essa magia, chegando até mesmo a “atrapalhar” a cena na propriedade dos Carvalhos quando a montagem paralela precisa alternar com o ataque nas casa dos Silvas interrompendo o fluxo da ação que está no ápice.

Da mesma forma, a sequência com o monstro abraça uma previsibilidade e preguiça que as brigas entre a família recusavam – em dado momento parece que Aragão até repete algumas ideias vistas minutos atrás com os mesmos personagens –, o que enfraquece a força da reviravolta final envolvendo um rapaz e duas mulheres importantes em sua vida. Talvez se mantivesse o chupacabras à margem e fosse até o fim com o foco nessa ideia de que os homens da narrativa são os grandes monstros do filme, o resultado seria ainda mais poderoso.

P.S.: na moral, quando sai um spin-off com o Velho do Saco? A cena até soa meio deslocada, mas o personagem é tão sinistro, o clima que aquele momento possui é tão pesado, que fica fácil querer mais daquilo.

 Crítica integrante do especial Abrasileiramento apropriador do Halloween

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