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Críticas

Cineplayers

Nem mesmo Steve Carell e Tina Fey conseguem salvar essa comédia pouco inspirada.

5,0

Steve Carell e Tina Fey são dois dos melhores comediantes da atualidade. Quem conhece o trabalho de ambos, principalmente nas séries The Office e 30 Rock, dificilmente irá discordar dessa afirmação. Tanto Carell quanto Fey são mestres em atuar no limite do nonsense, mas sem perder a conexão com a realidade, tornando quase tudo o que fazem uma genuína fonte de diversão. No entanto, intérpretes talentosos sem sempre são capazes de compensar um material sem inspiração e este é o caso de Uma Noite Fora de Série, novo trabalho do fraco diretor Shawn Levy, que, mesmo com a presença de Carell e Fey, entrega em um filme com muitos problemas e poucas risadas.

A premissa não chega a ser original, mas certamente poderia render algo mais interessante. Tudo tem início no dia-a-dia do casal Foster. Presos em um casamento feliz, mas não necessariamente estimulante, os dois decidem ter uma noite diferente, jantando em um dos restaurantes mais caros de Nova York. Como não possuem reserva, resolvem se passar por um casal que não apareceu no local. Em meio ao jantar, dois homens o confundem com uma dupla de marginais e pedem para que eles se retirem, ameaçando-os para que entreguem um pen drive. Os Fosters conseguem escapar, mas se veem presos em uma enrascada da qual não sabem como se livrar.

Uma Noite Fora de Série é o típico filme que sofre do mal dos trailers: quase todos os melhores momentos estão presente nas prévias. Quem foi ao cinema nos últimos meses provavelmente já assistiu ao trailer, viu cenas como a da baba no aparelho e ficou sabendo de algumas das participações especiais. Assim, a plateia já começa o filme conhecendo as poucas piadas que funcionam e as ainda mais raras surpresas do roteiro. Infelizmente, conhecer o trailer não é o único problema de Uma Noite Fora de Série, que ainda falha na construção da história e dos personagens.

Escrito por Josh Klausner, o roteiro parece jamais se decidir sobre um tom a ser adotado. Assim, o filme oscila entre cenas mais plausíveis, com o casal realmente encontrando dificuldades para se livrar da situação (como se espera de duas pessoas cuja vida está longe de tudo aquilo) e momentos nos quais eles aparecem completamente preparados para o que estão enfrentando, como quando se fantasiam e demonstram total autoconfiança para mentir e enganar. Além dessa indecisão sobre a melhor maneira de abordar a história, o roteiro ainda parece insultar a inteligência da plateia, com os vilões tomando toda espécie de atitudes estúpidas, e total falta de lógica – ou continuidade –, como quando Claire se disfarça e arrumar o cabelo para, logo na cena seguinte, voltar a aparecer desleixada como antes.

O grande mal de Uma Noite Fora de Série, porém, é mesmo o trabalho de direção de Shawn Levy. Aliás, o currículo pobre do cineasta (com obras de arte do quilate de Doze é DemaisUma Noite no Museu) já bastava para diminuir qualquer expectativa em relação ao filme. E Levy realmente entrega exatamente o (pouco) que se esperava dele. Seu trabalho é desleixado e irregular; o filme perde o ritmo diversas vezes, com longas cenas de ação que nada acrescentam. Da mesma forma, o diretor não consegue equilibrar o lado cômico com o aspecto dramático da produção. Assim, sempre que Uma Noite Fora de Série deixa de lado as piadas para tentar contar a história do casal, o resultado é superficial e acumulado de clichês.

No entanto, estamos diante de uma comédia, e o grande objetivo do gênero é fazer rir. Neste sentido, Uma Noite Fora de Série tem seus altos e baixos. Além das já citadas gags vistas no trailer, são poucos os outros momentos no quais o filme realmente se mostra capaz de fazer gerar risadas – a cena do barco, por exemplo, é um dos poucos instantes inspirados de Levy. Em diversas partes da projeção, porém, o cineasta atinge resultados que chegam a ser constrangedores, tanto pela falta de coerência da situação em si quanto pelo fato de não gerar um único sorriso – é o caso, por exemplo, da sequência de dança do casal.

Na realidade, se existe alguma graça em Uma Noite Fora de Série, ela está unicamente em Steve Carell e Tina Fey. É da química e do timing cômico da dupla que vêm as partes mais engraçadas do filme. Carell tem uma habilidade rara de dar inflexões particulares e hilárias às falas, enquanto Fey passa a impressão de ser a responsável por boa parte de suas piadas. Aliás, os melhores momentos são exatamente os que trazem interação entre os dois, como as cenas dos jantares, onde tentam adivinhar a história de outros casais – cenas que parecem resultado de improvisação. É importante citar também que o elenco conta com algumas rápidas participações de rostos famosos, todas subaproveitadas: James Franco, Mila Kunis e os demais entram e saem da tela sem deixar impressão – exceto, talvez, por Mark Wahlberg.

Mesmo despretensioso e inofensivo, Uma Noite Fora de Série jamais chega a ser uma comédia recomendável. As risadas estão presentes em momentos ocasionais, mas só isso é muito pouco para sustentar uma narrativa que sofre pela escassez de ideias. De alguma forma, Steve Carell e Tina Fey conseguem escapar incólumes. Porém, três episódios de meia hora de The Office ou de 30 Rock valem muito mais do que essa hora e meia pouco inspirada.

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