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Críticas

Cineplayers

Uma comédia que faz rolar de rir, mas não é mais do que um programa de duas horas.

5,0

Foi uma tremenda satisfação chegar ao cinema para uma sessão às dez da noite de pleno Domingo e ver o cinema tão lotado para prestigiar Os Normais. O programa da TV foi um verdadeiro fenômeno, alcançando níveis invejados com uma qualidade excepcional de rara opção hoje em dia. Portanto, apesar de satisfeito, não chegou a ser uma surpresa que o cinema estivesse tão cheio. O problema é que estava bem receoso quanto à qualidade do filme, onde não excluía a possibilidade do que eu poderia ver ser uma bomba total. Felizmente o filme correspondeu a todas as minhas expectativas, mesmo não sendo tão bom assim. Do início ao fim (apesar de perder um pouco a força no final) eu estava rindo, sendo que pelo menos nos trinta minutos iniciais chorava de rir com todos os meus amigos que foram comigo ocupar uma fileira inteira do cinema. O filme tem seus defeitos (muitos, por sinal) que acabaram prejudicando seu resultado final, mas por parte da história (que é só o que interessa para muitos), é um dos filmes mais engraçados do ano.

Assinado por José Alvarenga Jr., que dirigiu vários filmes antigos dos Trapalhões e fez, mais recentemente, Zoando na TV, o filme caiu em um ponto que temia antes de assisti-lo: está bem dividido entre uma linguagem cinematográfica e televisiva. Só que o 'bem' que acabei de falar, tratando-se de um filme, e não de um programa, não é uma qualidade, e sim um defeito grave que vai incomodar muito algumas pessoas. Mas ao mesmo tempo em que o filme tem uma bola fora dessas, ele traz uma característica que o seriado sempre teve como qualidade suprema: a versatilidade para suprir a falta de recursos nas produções brasileiras. Há especialmente uma seqüência, a minha preferida do filme sem sombra de dúvidas, que essa falta de recursos foi suprida de modo extremamente original e inteligente: a perseguição dos policiais por Rui, perto do final do filme. Quando comecei a ver a cena, pensei ‘putz, que mal feito’, mas quando vi o que aconteceu logo a seguir, pensei ‘genial a saída!’. É simplesmente inacreditável o que acontece, só vendo para entender (e vale a pena!).

O roteiro (de três roteiristas, incluindo Jorge Furtado, de O Homem que Copiava e Lisbela e o Prisioneiro) é ótimo e cria diversas situações muito boas, perdi a conta de quantas vezes me peguei chorando de rir no início do filme. Do meio para a frente o ritmo diminui um pouco e a história vai sendo contada, tendo um final inclusive simpático e extremamente agradável (previsível aqui não é um contra, já que todos sabemos como a história vai terminar), identificando-se como uma verdadeira comédia romântica. Mas não essas podres que vem de Hollywood, sempre a mesma coisa, em que você não ri, situações improváveis e tal, e sim uma comédia que vai lhe fazer rir bastante, se identificar com os personagens pela situação (como quando Evandro Mesquita e Fernanda Torres estão indo de carruagem para a recepção do casamento) e um romance na medida certa para não ficar piegas ou cansativo. Não tem o objetivo de encantar, fazer chorar, nada disso, e sim vai trazer um ótimo entretenimento descompromissado sem ofender a mente das pessoas com um final idiota como se não fosse esperado.

A história é a seguinte: Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) estão com casamentos marcados na mesma igreja, ele com Martha (Marisa Orth), ela com Sérgio (Evandro Mesquita). Até aí tudo normal, se não fossem os famosos Rui e Vani os envolvidos. Obviamente tudo começa a dar errado. Dessa história toda, sabemos como Rui e Vani se conheceram para aprontar todas as confusões que vimos nos episódios do seriado. Luiz Fernando Guimarães é o ator brasileiro mais engraçado da atualidade, às vezes, sem intenção, já me dá vontade de gargalhar, só com as caras que faz. Suas cenas são sempre as melhores. Fernanda Torres tem uma grande energia, dá para perceber o quanto a atriz se esforçou para trazer o vigor de Vani para as telonas. Já os coadjuvantes Marisa Orth e Evandro Mesquita estão em dois pólos diferentes. Enquanto Marisa faz a gostosona (justificável, só que bem mais bonita que a Magda de Sai de Baixo, uma maquiagem que lhe fez muito bem), Evandro Mesquita faz o malandro safadão que solta palavrões pelos cotovelos.

O problema com isso é que eles (os palavrões) soam engraçados por duas ou três vezes, mas depois eles ficam repetitivos demais. Ainda bem que o único personagem que realmente abusa disso para tentar ser engraçado é o de Evandro Mesquita, e justamente o que não é engraçado. Rui, como já foi dito, utiliza dos palavrões em seu pró, todos sendo muito engraçados e em perfeitas horas. Vani também, mesma coisa, nunca um palavrão soa falso ou gratuito, pois as situações são sempre favoráveis para que tais palavras sejam pronunciadas. Pena que a péssima dublagem que o filme recebeu não ajude mais ainda nesse fator, principalmente no começo, onde ainda não estamos acostumados a uma qualidade tão ruim de som. O som ambiente está um lixo, as falas não sincronizadas, uma vergonha, principalmente pela evolução nacional de nosso cinema. Outro erro que me incomodou bastante foi o excessivo número de cortes, pois há cenas extremamente simples em que se cortam várias vezes de um personagem para o outro, ditando o ritmo de TV que falei no início do texto e acarretando alguns problemas com a continuidade das cenas.

Pelo que foi dito, há de se perceber que o filme está bem mais pesado do que a série que passava na TV. E apesar de utilizar alguns recursos bem simples, como os cenários que não inventam muito, há uma abertura muito bela toda feita em computador. Eles não se preocupam em esconder isso, é perceptível a todo o momento que nada é real, o que não deixou com que soasse em um tom incômodo. E o filme está mais violento também, pois algumas piadas utilizam a violência como humor negro. Bom, isso varia de pessoa para pessoa, mas em termos narrativos e de construção de personagens, gostei muito do tom dessas cenas.

Outro aspecto forte do filme é o som. Além das músicas serem muito bem escolhidas (há uma sacada muito engraçada de legenda e música em inglês, mas nada de novo e bem brega), os efeitos sonoros são usados em pró do filme para que uma linguagem mais complexa seja usada. É algo como Mel Brooks faz em seus filmes, como exemplo um som que vemos no filme, mas que os personagens escutam. Só que são sons incomuns, que não deveria se ouvir realmente, o que nos põe em dúvida se aquele som realmente aconteceu no filme ou só serviu para deixar a cena mais bonitinha. Gosto muito desse tipo de brincadeira com o som, será que só nós ouvimos o sininho ou eles também realmente ouviram?

Falei bastante sobre Os Normais, e posso afirmar que, apesar de todos os erros, saí bastante satisfeito de dentro do cinema. Talvez se a história fosse mais fraca e menos engraçada, o filme teria sido uma bomba atômica, pois apesar de umas saídas de gênio (como a cena da perseguição), o filme peca em outros aspectos técnicos bem básicos e já superados pelo nosso cinema. Só que os roteiristas estavam inspirados ao escrever a história de como o casal mais divertido de nossa televisão se conheceu, criando situações que vão fazer você chorar de rir. Valeu o cinema lotado, e voto para que todos ajudem isso a acontecer várias e várias vezes (o filme já tem a segunda maior estréia depois da retomada, ficando atrás somente de Carandiru). Já aguentar tudo em vídeo é uma outra história.

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