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Críticas

Cineplayers

Faltou Nova York...

6,0

A franquia dos filmes “cidade, te amo”, inaugurada com Paris e que ainda terá longas sobre Xangai e Rio de Janeiro, é uma ideia bastante agradável para apresentar sob a ótica de cineastas de diversos locais do mundo as cidades-tema.

Nova York, Eu Te Amo reinventa o formato de seu predecessor ao não dividir as histórias em capítulos, mas ao optar por mesclá-las de forma a construir um filme homogêneo. Neste aspecto, o longa-metragem composto por vários curtas acaba se auto sabotando porque, inevitavelmente, umas histórias são melhores do que outras, e a inconstância no ritmo da narrativa é prejudicial ao resultado geral. Em Paris, Eu Te Amo, por exemplo, os dezoito curtas eram claramente divididos, um após o outro, e o mosaico de histórias – independente de serem ruins ou boas - resultou em um filme mais completo e que cumpria seu objetivo de pincelar as várias caras da capital francesa, sem deixar de explorar suas peculiaridades.

Aqui, não parece haver declaração de amor alguma à cidade norte-americana, contrastando bem com o exemplar parisiense que, até na retratação de locais desconhecidos, esbanjava charme pela tela, tornando-o uma eficiente declaração à cidade e um convite para conhecê-la. As onze pequenas histórias de Nova York parecem centradas mais em seus personagens coadjuvantes, no caso todos os atores, do que no principal: a cidade. Assim, as ruas, cartões postais e particularidades que poderiam servir como uma apresentação carinhosa da famosa cidade americana são relevadas a segundo plano.

O maior problema de o filme não representar de forma eficaz a cidade de Nova York é o fato de isso deixá-lo sem personalidade, podendo ser aplicado a qualquer outra grande metrópole, como São Paulo, por exemplo.

Mas, se eu te amo do título não tem ligação direta com Nova York, precisa ter alguma ligação com o filme. A escolha, aqui, foi apresentar várias formas de amor – e suas vertentes – por meio dos personagens, sejam eles casados, solteiros, machistas, prostitutas etc. Mesmo assim, falta algo: a exploração de subculturas e da diversidade que uma metrópole mundial fornece. Muito disso está presente, como os estrangeiros e as etnias, mas ainda falta tudo aquilo que só uma grande cidade pode proporcionar que se correlacionem pacificamente. Faltaram mais nichos, mais guetos, mais Nova York.

Bastante apurado e que contribui para o filme é o senso de humor de parte dos diretores em suas histórias, caso do trecho dirigido pelo francês Yvan Attal, sobre a tentativa de um homem em conquistar uma mulher do lado de fora de um restaurante. Infelizmente, outra história acabou por explorar uma situação semelhante e isso pesa contra o objetivo do filme por escancarar o que talvez seja uma cidade óbvia. Além disso, a passagem sobre um casal de velhinhos, a que encerra o filme, é uma das melhores, também pelo seu delicioso senso de humor e humanidade. A direção deste trecho foi do nova-iorquino Joshua Marston, que estreou no cinema ao dirigir Maria Cheia de Graça. O longa conta ainda com trechos comandados pelas atrizes Scarlett Johansson e Natalie Portman.

Nova York, Eu Te Amo deixa a desejar, mas mesmo assim suas histórias permanecem vivas na memória. Deveria ser mais Nova York, com tudo o que a cidade tem de bom e de caótico. Seria melhor se tivesse o efeito de Paris, quando por um momento pelo menos passa a ser possível acreditar que conhecemos cada canto daquela cidade e as pessoas que lá vivem.

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