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Críticas

Cineplayers

Encontro de titãs do cinema norte-americano em delicioso drama super-sentimental.

8,0

Baseado em uma peça teatral escrita por Ernest Thompson, Num Lago Dourado foi transposto para o cinema como um daqueles filmes criados para emocionar seu público. Inegavelmente piegas, por esse motivo não é tão bem visto por muitos críticos. E, sim, o filme é absolutamente piegas. Mas também é absolutamente delicioso de ser assistido. Com três lendas do cinema em seu elenco principal, Katherine Hepburn, Henry Fonda e Jane Fonda, sendo que os dois primeiros estavam em estágios avançados de suas vidas e de suas carreiras, Num Lago Dourado (veja, até o nome é piegas) é uma viagem sentimental acompanhada de fotografia esplendorosa e interpretações que beiram o impressionante, de tão naturais que são.

Trata-se de uma história bem simples sobre relações familiares, sem pretensões narrativas de cinema indie (o filme é totalmente mainstream, ou seja, feito para o grande público). Um casal de idosos vai passar uma temporada em sua casa à beira do lago. Receberão a visita de sua filha (Jane Fonda, linda e já quarentona), por quem Norman, o pai (Henry Fonda), guarda ressentimentos que vêm desde a juventude da garota. E vice-versa. A mãe vive no muro e tenta balancear os dois lados. Tudo isso vem acompanhado de uma trilha sonora melosa e, como já foi comentado, fotografia lindíssima. O filme foi feito para vencer prêmios e, de fato, levou um bocado deles (mais sobre isso abaixo).

O relacionamento entre Ethel (Hepburn) e Norman varia do sarcasmo saudável (que muitas vezes mantém casamentos duradouros em pé) até o amor incondicional. Ethel é o elo mais forte entre ambos; Norman é uma pessoa difícil de se lidar, mas percebe-se que não há maldade em mau humor. São dois personagens interessantes e as boas cenas do filme são sempre entre eles. Os coadjuvantes servem para ilustrar uma parte mais leve, casual e cômica, como quando o novo namorado de sua filha, Bill Ray, um dentista (o que dá espaço para algumas piadas óbvias e charmosas), confronta-se com um ranzinza Norman. Se a situação é constrangedora para Bill – um adulto de meia idade tendo que encarar um velho senhor e se sentindo um adolescente – o espectador mais sensível consegue captar esse sentimento e ter na pele a mesma sensação de Bill ao encarar Norman. É quase genial!

Há ainda um garoto na história, que ficará hospedado com o velho casal um tempo, e, claro, muitas lições serão aprendidas para ambos os lados. Existe uma sensação de previsibilidade nisso tudo. Não é um filme de surpresas. É como a vida dos protagonistas: as coisas ocorrem lentamente, com momentos inspirados aqui e ali que compensam as dificuldades da vida na idade deles. Momentos que dificilmente os jovens notariam – por exemplo, podemos citar uma cena em que os animais da região foram “dar as boas-vindas” ao casal. É a soma desses momentos preciosos que torna Num Lago Dourado deliciosamente piegas e, principalmente, de forma alguma monótono, pois há uma boa quantidade deles.

Num Lago Dourado é um filme cercado de inúmeras curiosidades, ou seja, é um prato cheio para cinéfilos. Ele deu a Katharine Hepburn seu quarto Oscar de melhor atriz. Para Henry Fonda foi sua coroação: ele viria a ganhar, finalmente, seu Oscar de melhor ator, após uma carreira de incontestáveis sucessos mas nenhum reconhecimento por parte da Academia. Não que ele precisasse de uma dessas estatuetas, pois naquele momento Fonda já era imortal no mundo do cinema. Ali, foi o ator mais velho (76 anos) a vencer o prêmio. Finalmente, vale citar que este foi o único filme em que Henry atuou ao lado de sua linda filha, Jane, e também este foi o último filme da vida do ator.

O filme de Mark Rydell (que recentemente dirigiu o razoável A Última Aposta, com Kim Basinger, que foi direto para as locadoras) não é, de fato, uma obra-prima. Não é pretensioso o suficiente para tal e é muito clichê para ser reconhecido com uma grande obra do cinema. Mas dentro do gênero drama, é um dos bons trabalhos dos anos 1980 a serem relembrados sempre. Filme rico em interpretações e em história, torna sua recomendação óbvia para quem gosta de momentos aconchegantes em uma bela sessão de cinema.

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