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Críticas

Cineplayers

Com premissa original, antigo projeto de Christopher Nolan sai do papel e já chega aos cinemas hypado.

7,0

Depois de engavetado por 10 anos, Christopher Nolan vê um de seus projetos mais antigos transformar-se em realidade dentro de um orçamento bastante confortável de 160 milhões de dólares. Grande parte dessa generosidade dos estúdios vem da reputação acumulada pelo diretor pós- O Cavaleiro das Trevas e todas as polêmicas políticas e necrófilas agregadas a ele. Com essa grana no caixa a tarefa acaba parecendo fácil.

Difícil mesmo é tentar resumir uma trama cujos elementos buscam apoio em questões como moral, mitologia e categorias psicológicas já há muito popularizadas como o subconsciente, lançando também a magnífica possibilidade da arquitetura onírica, atividade na qual os limites físicos podem ser solenemente ignorados juntamente com todos os detalhes esdrúxulos que formatam o cotidiano. Neste universo de cores saturadas, a barreira entre sonho e realidade já está mais do que borrada e o cinema é deslocado do lugar manjado de metáfora óbvia para o de palco criativo.

Neste sentido a personagem que – literalmente – mais faz sonhar é interpretada por Ellen Page. Aqui, Ariadne não fica apenas com o papel de coitadinha que entrega o fio da meada à Teseu: ela será a responsável pela criação dos labirintos nos quais Dom Cobb (Leonardo di Caprio) e sua equipe irão encurralar as vítimas desse minotauro metafórico.

Antes de maiores e talvez desnecessárias explicações, convém dizer que o filme já começa jogando todos nós à deriva, inclusive Cobb. Daí pra frente é preciso bastante atenção, já que o roteiro vai desenrolando seu novelo aos poucos, ao mesmo tempo em que encobre algumas questões com uma densa camada de fumaça, intercalada às várias camadas dessa incrível lasanha de sonhos forjada por um time de especialistas: arquitetos, atores, químicos e golpistas baratos.

Apesar dos mais de 120 minutos serem suficientes para que o arco da história principal – no qual Cobb precisará livrar-se do fantasma (ou não) de sua ex-esposa, Mal (Marion Cotillard), para então terminar este último serviço que o levará de volta para a realidade de sua casa e seus filhos – Michael Cane é um dos grandes enigmas que ficam sem resposta. Mal e porcamente usado, seu personagem surge como, provavelmente, o único vínculo do protagonista com alguma coisa próxima ao cotidiano que ele precisou deixar para trás. Além disso, se há alguém implicado na origem do procedimento que o time de Cobb aperfeiçoa a cada golpe, certamente é o personagem de Cane. Mas nada disso será desenvolvido por Nolan.

Apesar da ótima premissa original sobre a expertise na manipulação dos sonhos, o filme se perde justamente na institucionalização de seu elemento narrativo mais forte, que são os procedimentos de inserção e permanência nos chamados sonhos compartilhados. A tentativa exagerada de cientifização do procedimento burocratiza a idéia que, inicialmente é apresentada como libertadora.

Àqueles que recorrem ao método comparativo para julgar, vale uma ressalva: há mesmo algo de Matrix em A Origem, principalmente na relação entre sonhador e arquiteto, na criação de realidades paralelas e na necessidade dos sonhos compartilhados para que o efeito da ação se concretize. Mas apesar dessa irmandade temática, os conflitos criados para cada personagem no filme de Nolan deixam muito a desejar.

Acontece que o grande problema do filme nem passa pelos lugares-comuns visitados pelos personagens. A tristeza maior é sentir que uma ótima chance de imersão cinematográfica foi desperdiçada porque, apesar de todo esse papo de sonho, A Origem se desapega muito pouco da realidade. Prova de que Nolan não foi capaz de ouvir um conselho posto por ele na boca de Eames (Tom Hardy): nos sonhos a gente não precisa ter medo de pensar grande.

Comentários (5)

Kennedy | sexta-feira, 07 de Dezembro de 2012 - 14:47

Com certeza, e dos usuários também. Eu, particularmente, detesto esse filme. Acho enjoado ao extremo, apesar de ser criativo e bem conduzido. Não é o tipo de filme que me atrai.

Araquem da Rocha | quarta-feira, 17 de Dezembro de 2014 - 13:28

Nao acho espetacular.Mas e a maior viagem.

Kennedy | quarta-feira, 17 de Dezembro de 2014 - 21:11

Nossa! Fui ver agora meu comentário abaixo de dois anos atrás. Mudei minha opinião sobre o filme.🙂

Luiz F. Vila Nova | quinta-feira, 18 de Dezembro de 2014 - 15:53

Não tem como não gostar deste filme. O roteiro é sensacional, a direção exemplar, a técnica sublime, as atuações inspiradas, a trilha épica, as cenas de ação soberbas, e por aí vai. Não é um filme perfeito, mas funciona muito bem dentro do se propõe. Um dos melhores filmes de 2010 e de Christopher Nolan.

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