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Críticas

Cineplayers

Thriller genérico é mais um trabalho de Nicolas Cage para cair no esquecimento.

4,0

Parece difícil de acreditar, mas houve um tempo em que o nome de Nicolas Cage estava associado a bons filmes. Depois de um início de carreira promissor nos anos 80, quando trabalhou com cineastas como David Lynch e os irmãos Coen (além, claro, de seu tio Francis Ford Coppola), o ator se consagrou de vez em meados da década de 90, quando levou para casa um Oscar por sua belíssima interpretação de um alcoólatra suicida em Despedida em Las Vegas (Leaving Las Vegas, 1996). Após o prêmio da Academia, surpreendentemente, Cage tornou-se um improvável herói de ação, além de estrelar algumas outras boas produções, como Vivendo no Limite (Bringing Out the Dead, 1999), Um Homem de Família (The Family Man, 2000) e Adaptação (Adaptation, 2002). Nos últimos anos, porém, o (ex-)astro parece ter perdido o dom de escolher roteiros de qualidade, atuando em um sem-número de bombas e filmes esquecíveis, como O Sacrifício (The Wicker Man, 2006), Perigo em Bangkok (Bangkok Dangerous, 2008) e Caça às Bruxas (Season of the Witch, 2001), o que fez com que seu nome passasse a ser sinônimo de produções a serem evitadas.

E ainda não é desta vez que Cage voltará ao primeiro nível. O Pacto (Seeking Justice, 2012), seu último trabalho, é apenas mais um thriller genérico e sem qualquer inspiração, criado como nada além de um produto para plateias com preguiça de pensar. Dirigido pelo veterano Roger Donaldson, o filme parte de uma premissa até certo ponto interessante, que poderia gerar uma história envolvente: após o estupro de sua mulher, o professor Will Gerard recebe a proposta de uma organização misteriosa, que promete eliminar o criminoso desde que Gerard assuma o compromisso de cumprir um “favor” a eles em algum momento futuro. Obviamente (até porque sem isso não haveria filme), o professor aceita o pacto e, seis meses depois, esta organização volta a entrar em contato para solicitar que ele assassine um homem que eles julgam ser um pedófilo.

Não é preciso ser um gênio para perceber que roteiristas de talento e um cineasta com um pouco de visão poderiam transformar este ponto de partida em uma história envolvente. Afinal, a trama não apenas aborda a questão da vingança e suas possíveis justificativas (sempre um material repleto de possibilidades), como também coloca o protagonista em um dilema moral, sendo obrigado a executar algo que vai totalmente contra seus princípios. Claro que também não é preciso ser um gênio para perceber que questionamentos éticos e profundidade estão longe de ser o objetivo de O Pacto. Na verdade, é exatamente o contrário. O roteirista Robert Tannen prefere deixar de lado qualquer possibilidade de conteúdo, passando por cima destas questões com total superficialidade e construindo uma trama vazia, confusa e repleta de furos. É uma pena.

O primeiro ato, no qual as peças são apresentadas, até consegue despertar a noção de que o filme pode vir a ser algo interessante. O enredo se desenvolve de forma rápida, sem perda de tempo, e Donaldson imprime um ritmo ágil, que consegue envolver o espectador. No entanto, isso logo se revela um truque do cineasta. Experiente em filmes do gênero – tendo no currículo alguns bons trabalhos, como Sem Saída (No Way Out, 1987) e Treze Dias que Abalaram o Mundo (Thirteen Days, 2000), Donaldson sabe que o material em suas mãos não é bom o suficiente para se sustentar durante quase duas horas e, dessa forma, acelera o seu filme, empilhando um acontecimento sobre o outro de modo que não sobre tempo para o espectador pensar sobre o que está assistindo, o que faz de O Pacto o tipo de produção mais perigosa que existe: aquela que trata o espectador como idiota – e nada é mais sintomático nesse sentido do que a necessidade de entregar tudo mastigadinho, como os rápidos flashs de situações já mostradas, inseridos apenas para que não haja qualquer risco de o espectador ter de pensar por si só.

Mas, infelizmente (tanto para a plateia quando para Donaldson), isso não é suficiente para desviar a atenção do roteiro cheio de inconsistências e do desenvolvimento nulo dos personagens. Desde o princípio, as perguntas em relação ao que está acontecendo e as atitudes nem sempre lógicas tomadas pelas pessoas em tela vão se acumulando na cabeça do espectador. Afinal, qualquer pessoa em sã consciência perguntaria para o tal do Simon quem eles são e como sabem do acontecido, o que Gerard não faz, aceitando tudo de prontidão. Além do mais, como a “organização” conhecia a identidade do estuprador? E que tipo de mulher, após descobrir que seu marido está com o colar que havia perdido durante o ataque, Laura, aceita como resposta um básico “não posso falar sobre isso”? Sem contar, claro, que para um grupo secreto, a turma dos vilões é bastante espalhafatosa, atirando sem qualquer medo no meio de uma rua movimentada – e nem vou comentar sobre a natureza da organização, que jamais fica clara.

Como já mencionado, o tratamento oferecido aos personagens também não contribui para tornar a experiência de assistir a O Pacto mais agradável, uma vez que o roteiro não busca oferecer ao menos um sinal de personalidade a eles. Este é o tipo de filme do qual, alguns minutos após a sessão, é difícil lembrar de um só nome, de tão inexpressivos que são os personagens. Na verdade, Donaldson parece apostar na presença de atores conhecidos para criar algo como uma identificação com a plateia, mas nem isso é capaz de superar a limitação do roteiro. Enquanto Nicolas Cage nada faz além de ser o preguiçoso Nicolas Cage dos últimos anos, ao resto do elenco sobra apenas a curiosidade por ser formado quase exclusivamente por intérpretes que se destacaram na TV nos últimos anos – como Harold Perrineau (Lost), January Jones (Mad Men) e Jennifer Carpenter (Dexter).

Assim, não resta muito em O Pacto. Ao optar pelos tiros e pela previsibilidade em detrimento de uma história mais inteligente e personagens com alguma personalidade, o espectador fica indiferente ao filme, jamais se importando com o que irá acontecer com aquelas pessoas. Assim como os recentes trabalhos de Nicolas Cage, é um filme ordinário, que será esquecido dentro de alguns meses. Mais um para a lista.

Comentários (2)

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 30 de Novembro de 2013 - 17:45

O filme nem é tão ruim, não. O pior são aquelas cenas horríveis de como as pessoas respendem à proposta de Simon: comprando chocolates!!!!

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