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Críticas

Cineplayers

Um conto de fadas maravilhoso sobre uma bela relação entre pai e filho.

8,0

O que é real e o que é imaginário? Ou melhor, o quanto o imaginário pode ser melhor que o real? São por essas linhas que o novo filme de Tim Burton segue em sua maravilhosa trilha. O cineasta parece se recuperar bravamente da tragédia que foi sua versão – bem pretensiosa – de Planeta dos Macacos e faz um filme leve, sentimental e divertido, onde o clima lembra, nem que razoavelmente, sua obra-prima Edward: Mãos de Tesoura. Inclusive a música tema deste foi usada no trailer de Peixe Grande, sem dúvidas uma grande homenagem aos fãs.

Edward Bloom tem um dom enorme de cativar a todos com suas histórias fantásticas, cheias de criaturas estranhas e imaginação. Só que todo esse carisma teve um efeito colateral em uma das pessoas mais importantes de sua vida: seu filho Will Bloom. Ao invés de se encantar como todos os outros com todas as invenções cativantes de seu pai, Will simplesmente passou a criar um certo tipo de mágoa por não conhecer seu pai da maneira que gostaria. Quando recebe a notícia de que ele está no hospital, Will parte com sua mulher Josephine para tentar confrontar toda essa mágoa e tentar conhecer um pouco do homem que tanto ama, antes que seja tarde demais. A história vai sendo desenvolvida na tentativa de aproximação de Will com seu pai, enquanto suas magníficas histórias vão sendo contadas pelos personagens.

Cativante é o mínimo que podemos nos referir à elas. São tão mágicas, tão encantadoras, que fica impossível não embarcar na história de Edward, que vai desde sua infância (interpretado por Perry Walston), passa por sua fase adolescente e já pai de família (Ewan McGregor), e termina na menos surreal fase idosa de Edward (Albert Finney), que é a época aonde as histórias vão sendo contadas, não se passando necessariamente nessa ordem de acontecimentos, o que deixa o filme até um pouco confuso. As melhores, e também maiores, histórias são por parte de Ewan McGregor, que vai desde o início da sua amizade com o gigante Karl (interpretado pelo gigante real Matthew McGregory, de 2,3m de altura) até sua ida à guerra, recheada com uma bela história de amor de Edward por sua esposa Sandra (quando jovem é interpretada por Alison Lohman, quando um pouco mais madura por Jéssica Lange, que assim como o trio principal que interpreta Edward, são muito parecidas). McGregor acerta o tom de charme que deveria dar a Bloom para que suas histórias funcionassem dentro daquele mundo maravilhoso e incrível a qual nos é apresentado, sempre sorrindo e buscando soluções carismáticas para os mais diversos tipos de problemas.

Espere por cenas belíssimas e inteligentes, como quando Edward narra a primeira vez que viu seu grande amor, com literalmente o tempo parando e ele seguindo até ela, pelo meio de tudo o que estava a sua frente, inclusive pipocas, até cenas engraçadíssimas, como Denny DeVito explorando o pobre Edward. Aliás, o elenco merece um destaque a parte. Além da semelhança física dos protagonistas já citadas anteriormente, e do gigante Matthew, diversas outras figuras estranhíssimas marcam presença na telinha, seja por sua naturalidade física ou pela magia do cinema – somada a maquiagem. Mesmo que alguns personagens, apesar de interessantes, tenham sido pouco explorados, nenhum parece realmente estar deslocado de todas as criaturas magníficas que deparam com o caminho de Edward tentando ganhar o mundo.

As situações são bizarras, mas como o tom do filme é de tudo ser propositalmente exagerado, modificado, nada parece soar ridículo. Muito pelo contrário, nos sentimos a todo momento dentro de um delicioso livro de fantasia muito bem escrito. Além da cena do circo, existem algumas outras marcantes, como a do próprio peixe que intitula o filme e a da guerra, muito divertidas e sensíveis. Seria seu título uma referência às histórias mentirosas contadas por pescadores? Some isso ao senso de grandeza que o personagem Edward deseja alcançar e temos a perfeita explicação. O erro de Tim Burton, talvez, é que, após encantar a todos com as maravilhas que as histórias fantásticas, já tendo convencido a todos do que queria, ele tenta achar uma explicação para tanta fantasia. Sua intenção de mostrar que tudo isso está ao nosso redor, apenas não conseguimos enxergar claramente a razão do final do filme acaba por falhar – mesmo caso de Will, que conhecia muito de seu pai, apenas não tinha processado a informação ainda.

Mas ainda assim é uma conclusão que funciona, tamanho o carisma arrancado de seus personagens anteriormente em nossos sentimentos. Das duas vezes que assisti no cinema, ambas foi possível perceber diversas pessoas emocionadas pela magia que são as histórias de Edward. Difícil não se cativar. E por que não se emocionar?

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