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Críticas

Cineplayers

Corpos em crise.

7,5
O debut diretorial de Julia Murat em longas-metragens de ficção, Histórias que Só Existem Quando Lembradas, norteou um caminho que Pendular mostra como rápida evolução ao menos em um sentido: o espaço para a crise. Tônica usada para um estudo influído de emoções de um casal de artistas isolados em um galpão no Rio de Janeiro. 

Desenvolve-se a relação com o externo, mas a visão de Murat é tão incrustrada ao íntimo que poucos são os planos não delimitados por uma parede ou teto. Uma alegoria subjacente ao que é simplório a Pendular: a rotina de um casal em crise. Interessa mais à diretora o olhar ao contracampo desta história; a rotina de trabalho, o silêncio que guia os conflitos e, principalmente, como estes corpos dominam o espaço de trabalho. Espaço este que é delimitado para cada um, a separação explícita de dois mundos de interesses e motivações distintas. 

Juntam-se para necessidades maiores: comer, transar, se banhar. É o espaço suficiente para que Pendular se torne discursivo e provocador pelo que filma e não por aquilo que incita. Não há persuasão ou o aumento de tom, há apenas ação – a dança, o (des)equilíbrio. Mesmo com a modulação simplória desta relação – corpos, espaço, cidade – impressiona a sugestão de esculpir estes sentimentos. O filme guarda uma agressividade como limiar, assim como a fita e o cabo de tensão – dois intensos personagens do filme. 

Interessa a Murat o modo de observação, com distância ao julgamento sobre os desejos e ações de cada personagem. À observação de uma jornada estática, mas de tremores e equilíbrio; a opção de Pendular ser um filme sem intervenções é instigante e desafiador para quem oferece e também para quem o receberá. Longe do masoquismo ou amplificações que o espaço normalmente sugere como máxima alegoria do vazio, Murat aposta na interpolação dos códigos exibidos, de almas entrincheiradas pela atmosfera, pura e simples. 

Portanto, Pendular se faz como falsa peça didática, livre para a contradição que se justifica pelo amor – pelo cônjuge ou pelo que se faz da vida – e se faz mais um norte para Murat: o das reações, antes pouco exploradas em sua filmografia, agora como mais uma bifurcação a sublinhar.  

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