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Críticas

Cineplayers

Destruindo o tempo.

3,0
Karyn Kusama confirma com seu novo filme uma característica forte para a montanha russa na carreira. Irregular e inconstante, vinha de um belo êxito chamado The Invitation, que poderia ser uma possível nova guinada na carreira. Por isso voltou a conseguir holofotes e uma estrela de primeiríssima grandeza como Nicole Kidman a seu novo projeto e acabou concebendo o decepcionante O Peso do Passado, um projeto preguiçoso com uma cara ambiciosa fake, que tem pouca coisa a seu favor. Das raras é a própria Nicole, uma atriz que raras vezes escorregou em suas composições (embora suas escolhas não sejam de fato acima de qualquer suspeito, o empenho dela como atriz raramente é afetado) e que ainda assim se viu refém de uma armadilha.

O filme é daqueles produtos mais básicos entregues semanalmente nos multiplexes do mundo, porém travestido com pompa por uma atriz indicada a prêmios frequentemente e posicionado nos festivais para gerar um burburinho desnecessário. É a prova de que não existe nenhuma garantia por um filme X passar numa mostra Y do país W; existem muitos propósitos em selecionar algo para passar (em competição ou não) em um festival, incluindo aí a qualidade dos mesmos, mas não essencialmente. A existência desse filme e o rumo dele - ok, até tímido - está aí pra provar que é muito legal ter um filme com esse tanto de visibilidade, mas que essencialmente isso não significa qualidade garantida.

Na trama (esburacada e óbvia) contada em dois tempos, onde Nicole está fabricada para ter menos anos de um lado e para ter mais anos em outro, a policial interpretada por ela está detonada, fisica e emocionalmente. Acabou de encontrar um corpo e através dele terá novo encontro com eventos e personagens de anos atrás, que podem estar ligados a esse novo crime. No passado, ela e um parceiro se infiltraram numa equipe de junkies que eventualmente roubavam bancos, para sustentar seus vícios. Nesse lugar, eles acabaram criando um laço real juntos e se viram em encruzilhadas morais que podem arriscar seus disfarces. Entenderam a sinopse? Pois é, em tese é um remake do Caçadores de Emoção de Kathryn Bigelow, ainda infinitamente inferior.

Morno no seu lugar de filme de gênero (no caso, o policial) e raso no que deveria transformá-lo em algo mais encorpado, o filme tenta roubar da série da HBO True Detective seu clima mais enraizado na hora de tratar personagens, ações e soluções de sua narrativa. A diferença "básica" é que não adianta importar clima se você não tem um roteiro à altura, desenvolvimento de personagens condizentes, organização de cenas diferenciado, ou uma trama propriamente dita atraente, ou dirigida de forma atraente. O que existe é uma repetição de fórmula de maneira nada inspirada, uma escolha de elenco muito duvidosa (quem em sã consciência escala Toby Kebbel esperando que surja daí um grande ator?), e das coisas mais involuntariamente engraçadas, que é a caracterização pretensamente elaborada quando tudo na verdade é falso ao extremo.

Nicole de fato sobra, em todos os sentidos. Mas no meio do nada, não há o que fazer diferença - seu grande momento acontece praticamente no desfecho, quando ela e Sebastian Stan tem um belo momento juntos. O filme apresentou sua maquiagem como se fosse algo espetacular; não é, e muito do 'gancho' do filme é garantido nessa imagem, que não convence ninguém. No que só depende dela, a competência de sempre tá garantida, mas é insuficiente para inchar uma produção que é um arremedo de muitas coisas, narrativa ou esteticamente. Um desperdício enorme, muito mais do tempo do espectador.

Filme visto no Festival de Cinema do Rio de Janeiro

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