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Piranha

(Piranha, 1978)
6,4
Média
103 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Mais para Romero que para Spielberg.

8,0

O lançamento do novo Piranha 3D (Piranha 3-D, 2010), de Alexandre Aja, remete à lembrança do filme original que o inspirou, ainda que Piranha (idem, 1978), de Joe Dante, prossiga quase sem ser comentado, ou então seja mais mencionado do que propriamente visto. Mesmo quando diretamente abordado, o filme parece tratado com certa incompreensão como pouco mais que uma paródia de Tubarão (Jaws, 1975), e ainda que certamente o filme de Dante não existiria se não houvesse o arrasa-quarteirão de Spielberg, Piranha vai muito além de outros filhotes surgidos nas costas de Tubarão. Uma visão atenta do filme de Dante deixa claro que suas referências mais significativas são outras.

O Piranha original recupera uma veia de filme B que em Tubarão (também um filme de orçamento reduzido) era inexistente ou atenuada, pois o trabalho de direção de Spielberg era inflado o suficiente para o seu filme querer tomar ares de grande produção (acabou se tornando o primeiro blockbuster do cinema), enquanto que Joe Dante não renega, e até reafirma, a sua condição de filme pequeno. Jack Arnold, um dos mestres do cinema de fantasia da década de 1950, é citado em mais de uma ocasião em Piranha, enquanto que a referência mais direta à obra de Spielberg é a da introdução em cena da protagonista, Maggie (Heather Menzies), jogando um fliperama baseado justamente em Tubarão, onde no jogo o que se controla é o tubarão, e o objetivo é devorar os banhistas. Passada essa menção muito rápida e até irônica, Dante pode continuar o seu filme do modo que lhe interessa, e que se distingue de Tubarão não apenas em estética, mas também em ponto de vista, porque se no filme de Spielberg o que há é um desejo de retornar o mais rápido possível à ordem como ela era antes, em Piranha a tragédia que prenuncia um caos apocalíptico serve de oportunidade para pensar no sistema que entrou em colapso, no caso a partir dos males da ciência a serviço dos políticos e militares (as piranhas destruidoras foram criadas pelo exército como estratégia de guerra na possibilidade de contaminar os rios vietnamitas, conforme declara o cientista responsável pela criação delas, e num descuido escapam do tanque em que estão confinadas e chegam aos lagos da região, com o risco de alcançar o oceano e se espalharem pelo mar de todo o país).

Quem quiser ver Piranha apenas como um divertido e assustador filme de espécies assassinas e devoradoras não deixará de ficar satisfeito mesmo se ignorar o seu subtexto político que, de modo ora direto, ora bastante sutil, se apresenta nas entrelinhas e o torna um filme de horror sério e incômodo. Dante aglutina os elementos que lhe interessam integrando-os à narrativa de terror (cujas cenas de ataques são viscerais), até porque para o diretor o cinema interessa muito mais que a política, numa proposta semelhante a dos filmes de mortos-vivos de George A. Romero. Aliás, se existe um outro filme dos anos 70 bastante próximo a Piranha em termos estéticos e de conceito, esse filme é O Exército do Extermínio (The Crazies, 1973), que não é de zumbis, mas no qual a catástrofe de uma comunidade eclode também de uma praga a partir do vazamento de uma arma bacteriológica criada em laboratório como parte de um projeto secreto do Estado, e com burocratas e militares empenhados em resolver o problema que criaram de maneira lógica, fria e determinante.

Mesmo que nunca calcado diretamente em política, Joe Dante é considerado por muitos como um dos mais políticos cineastas contemporâneos, geralmente em alegorias que tomam o formato de divertidos filmes de gênero. Vinte anos depois desse seu primeiro filme solo (houve um antes, em que ele co-dirigiu com Allan Arkush, Hollywood Boulevard [idem, 1976]), Dante reimaginaria muito de sua estrutura em outro grande filme negligenciado, Pequenos Guerreiros (Small Soldiers, 1998), no qual troca o par central do filme de 1978 por um casal de adolescentes e substitui as piranhas superdesenvolvidas por bonecos de guerra, criando mais uma inventiva peça política cujas verdadeiras qualidades passaram despercebidas à época do lançamento.

Voltando as referências mais antigas, a obra de Joe Dante não trata de um cinema reiterativo, mas de um cinema que cria a partir de outras influências, e o que o diretor absorve é condição para aquilo que se tem a dizer de novo. Vale destacar também os parceiros com que o jovem realizador se cerca à época desse seu começo de carreira: o roteirista John Sayles (que depois desenvolveria uma importante obra como diretor independente), que aparece em uma ponta, o também diretor Paul Bartel, que integra o elenco, e as estrelas envelhecidas Kevin McCarthy (de Vampiros de Almas [Invasion of the Body Snatchers, 1956]) e Bárbara Steele (dos filmes de Mario Bava e Roger Corman), cujas presenças servem de homenagem a clássicos do gênero. E para completar, o filme se serve muito bem da trilha de Pino Donaggio, colaborador habitual dos filmes de Brian De Palma na época.

Piranha se encerra com um final aberto bastante sombrio, após o clímax antológico no ataque das piranhas a uma colônia de férias infantil, que segue um desfecho aparentemente feliz no qual é impossível vivenciar um sentimento de triunfo ou vitória, o que é mais desconcertante e negativo que qualquer coisa encontrada nos filmes de gênero do seu tempo.

Comentários (4)

Alexandre Guimarães | segunda-feira, 14 de Dezembro de 2015 - 12:47

Tetas grandes ou tetas caídas? Seja mais específico.

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 14 de Dezembro de 2015 - 13:01

Nenhuma teta é mais caída que as da protagonista de The Funhouse.

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