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Críticas

Cineplayers

Uma sequência coerente para O Baú da Morte. Frenético, lindo e divertido, mas totalmente desprovido de alma.

6,0

A maldição do terceiro filme de uma trilogia continua valendo em Hollywood: Piratas do Caribe: No Fim do Mundo, o terceiro episódio da série, é, como X-Men e Homem-Aranha, inferior aos demais, mas com a diferença de ser melhor que o primeiro da série. Mais uma vez é o roteiro a principal fonte de problemas. A história da segunda parte era engraçada demais, frenética, inteligente, cheia de traições e reviravoltas, fato que levou o terceiro a tentar amarrar todas as pontas e dar um final convincente a tudo aquilo. Resultado: o terceiro filme é uma continuação do segundo, estando sempre a seu reboque, fornecendo conclusões para aquilo que ficava estrategicamente em suspenso antes.

Piratas do Caribe começou com um filme fraco, A Maldição da Pérola Negra, um surpreendente sucesso de bilheteria que alavancou as demais continuações. Apesar das boas sacadas de roteiro, das interpretações de Johnny Depp e Geoffrey Rush, da direção um tanto sombria do diretor de filmes de terror Gore Verbinsky e dos bons efeitos especiais, o filme era excessivamente longo, povoado de clichês surrados e com um mocinho de amargar, Orlando Bloom.

O segundo filme da série, O Baú da Morte, foi uma revelação: excelentes efeitos especiais e maquiagem, atores mais entrosados, a presença fundamental de Davy Jones, o fantasma que governa os mares interpretado com fúria por Bill Nighy e, principalmente, o roteiro, certeiro em captar a atmosfera dos filmes de pirata, repaginar a idéia, adaptar aos novos tempos e produzir um produto que é entretenimento de primeira, no que pese o politicamente incorreto, a misoginia e o conservadorismo republicano que o filme não cessava de propagar – afinal, é ainda um filme da Disney com ranço reacionário.

Apesar da entrada de outros personagens, como o pirata de Chow-Yun Fat, No Fim do Mundo não avança muito e repete as situações anteriores, o que provoca um certo clima de dèja vu comum em continuações. Keira Knightley e Bloom nunca estiveram tão canastrões, Rush e Depp forçaram a mão na caricatura, de forma que restou para os departamentos de efeitos visuais e direção de arte segurar as longas 2 horas e 45 minutos nas costas. E dão conta: é um deslumbre atrás do outro, como a visão do Kraken, o monstro marinho que engolia navios inteiros, morto numa praia, ou a genial sacada do que seria o fim do mundo.

A ação nunca pára, turbinada pela edição sem fôlego, característica dos filmes do produtor Jerry Bruckheimer, e o diretor Verbinsky não nega fogo. Há ótimas cenas de batalha (brilhantes efeitos visuais) e a tripulação de Jack Sparrow continua garantindo o humor. Os cenários são o que o filme tem de melhor (do diretor de arte do Tim Burton, Rick Heinrichs, nunca menos que brilhante). Tudo correto e funcional, curiosamente destituído de alma. Mesmo com o deslumbre técnico, não é mais capaz de nos emocionar ou divertir com inteligência. Tornou-se apenas mais um filme da franquia Bruckheimer pelos excessos e pela falta de crença do produtor em deixar com os atores e diretores o principal do filme. Ele prefere dar preferência à parte técnica.

Pelo menos o filme teve a coragem de terminar de maneira triste (não vou contar), o que acentua a sensação anti-climática que norteia todo o filme. Por terem sido feitos juntos (e terem a mesma equipe técnica), O Baú da Morte e No Fim do Mundo guardam uma certa coerência interna que os distancia do produto inaugural (este, sem dúvida num patamar inferior), mas que perdeu o pique ao não dar conta da escala mastodôntica a que se propôs.

O Senhor dos Anéis escapou da sina e produziu seu melhor no desfecho. Aliás, as novas "trilogias" não acabam: como Homem-Aranha, Piratas do Caribe termina tão em aberto para um quarto filme que já teria até nome: A Fonte da Juventude.

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