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Críticas

Cineplayers

Pra tijucano ver.

5,0

Não é de hoje que realizadores se aproveitam do cinema para homenagear seus locais e cidades favoritos. Woody Allen fez de Manhattan uma grande declaração de amor à região mais charmosa de Nova York e um de seus melhores filmes. No Brasil ainda temos poucos exemplos, o mais interessante do cinema contemporâneo sendo Proibido Proibir, com um olhar aguçado sobre a área próxima à UFRJ no Rio, e um mais direto, porém menos bem sucedido, Copacabana, de Carla Camuratti.

Os primeiros planos de Praça Saens Peña são tomadas fixas, primeiro de uma rua próxima, e depois de imagens da própria praça, tudo auxiliado por um som ambiente, inicialmente do trânsito e depois de pássaros. Depois de um tempo entra a voz de Chico Diaz, lembrando como sua personagem, Paulo, conheceu a esposa Teresa, e dos primeiros encontros até o nascimento da filha Isabel que acarretou a mudança da família de um quarto-sala no bairro do Estácio para um apartamento de dois quartos na Tijuca, em frente à Praça Saens Peña, coração do bairro.

Cortamos então para fevereiro de 2003, um jantar de família, entre Paulo, Teresa (Maria Padilha) e Bel (Isabela Meireles). Parece uma família típica normal, que se dá muito bem, com casuais conflitos causados pela filha adolescente. Paulo é um professor de literatura e que ocasionalmente escreve artigos sobre a história da região. Ele anuncia que recebeu uma proposta de escrever um livro sobre os diferentes aspectos da Tijuca.

Este é o início dos conflitos no filme. Os próximos meses testemunharão várias mudanças nas relações entre as famílias e nas personalidades centrais. Enquanto Paulo começa a se desesperar entre conflitos na realização do livro, seja de ordem burocrática ou artística, Teresa aproveita a vinda de mais dinheiro para começar a procurar um apartamento para comprar, mesmo sendo ainda um sonho distante, enquanto Bel implora por um novo computador para a casa. Durante uma visita ao apartamento dos sonhos, Teresa começa um caso com o jovem músico João (Gustavo Falcão).

Toda a história se passa em 2003, tendo como pano de fundo o início da Guerra do Iraque e o início do Governo Lula. O longa-metragem acaba se perdendo em meio a tantas referências. A ideia de estrear o filme apenas na Tijuca por uma semana foi uma esperta jogada, já que muitas das pessoas do bairro tendem a se identificar com cenários e referências. Mas esse é justamente um dos problemas do filme, normais a um cineasta estreante.

A comparação é injusta, mas quando Allen realizou Manhattan, trinta anos atrás, ele conseguiu integrar de forma tão genial os seus aspectos favoritos da cidade em sua história que tinha um quê de universal e local. Dada as respectivas proporções, o cineasta Vinícius Reis tentou fazer o mesmo aqui. Enquanto conta a história relativamente banal de um triângulo amoroso e suas implicações, ele tenta situar estas cenas nas mais variadas partes do bairro, enquanto põe em xeque sua posição na cidade, distante socialmente da Zona Sul mas também afastada de bairros mais pobres da Zona Norte. João serve de link, tentando vender seu apartamento para se mudar para um lugar menor no Leblon.

As cenas entre Teresa e João são as mais interessantes, dando um ar fresco ao longa. Enquanto isso, a saga de Paulo em tentar escrever o livro mais parece uma forma de contar a história da cidade, seus habitantes, suas diversidades etc. Soa forçado, apesar de acabar contribuindo com certa simpatia do espectador diante do bairro. Pena que essa história só fique no diálogo.

Estranhamente, existem poucas cenas que mostram o dia-a-dia do bairro. As imagens são rígidas, e a fotografia em digital, um desastre, com mudanças bruscas de luz e baixíssima definição, condição que é só piorada na exibição digital, que parece ser o único formato de distribuição. Para um longa que pretende ser uma homenagem ao bairro, até funciona, mas deve agradar mesmo somente aos tijucanos. Quem por enquanto tem que ir ao bairro para assistir ao filme, dificilmente vai acabar sendo levado a passar algumas horinhas a mais passeando por volta do cinema.

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