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Predador 2 - A Caçada Continua

(Predator 2, 1990)
6,1
Média
208 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Calor e violência urbana a serviço do Predador

8,5

Selva de pedra. Cores quentes. Calor. Estabelecimento de conflito. Overdose do fim dos oitenta. Violência absurda, uma herança da influência do Robocop – O Policial do Futuro (Robocop, 1987), na questão da imprensa inclusive. Briga de gangues. Personagens fortes e abusivos. A demonstração de força aqui é pela pura brutalidade. Seja pelo próprio predador ou pelos combatentes/vítimas circundantes que ele ao redor os perambula com curiosidade e tesão. E é este expediente excessivo de uma visão de futuro próximo que é divertido, haja vista o zeitgeist cultural quando se tratava de futuros alternativos. Se é pra ser violento, ah meu chapa vamos aloprar no tiroteio e na pancadaria. Todo mundo armado – algo que rende a cena do metrô com muitas justificativas estratégicas do conjunto de regras do modo de conduta do predador. Afinal, literalmente, todos com armas. É uma espécie de distopia abusiva com características próprias que sirvam como mosaico estrutural para a vinda do alienígena. Tudo tem de ser maior. Los Angeles, mais quente, violenta e brutal do que uma selva centro-americana. E para se chamar atenção quanto a isso, o espectador tem que sentir a justificativa dessa sequência pela escala. Por isso os estereótipos são grosseiros. Traficantes jamaicanos e sul-americanos outros em guerra tanto entre si quanto com a polícia. A cidade é uma zona de guerra. Até os programas sensacionalista de Tv policiais são viçosamente afetados. É microcosmo do exagero quanto a uma barbaridade assustadora que percorre sim a realidade periférica ocidental. O que acaba por deixar o predador como uma figura de vilania claro, mas meio que há uma diversão dele trucidando a bandidagem sem preconceitos. Simplesmente por serem objetos de caça. Um dos personagens policiais até brinca com a situação, afirmando que poderiam dar um emprego na polícia pro bichoso. Serve como comentário – exorbitante – em proposição do crescimento da agressividade urbana e em como as forças políticas não conseguem lidar com a situação, mas mesmo assim propõem chibatear pra cima normalmente contra negros e imigrantes como vilões e foda-se. Mas o predador, que os também estraçalha, e o faz sem distinção de raça, cor e classe. Obviamente que os brancos do governo federal vão querer capturar o sujeito sem matar. Para estuda-lo. Fiz essa pequena digressão interna nesse parágrafo como forma de apontar que segmentos o filme acaba por discutir. Não é a intenção dele propor um debate sobre racismo e os caralhos, mas arranha o tema por ser fruto de uma construção sociocultural existente e exposta dessa maneira, com esses atores assim posicionados. Como fruto de uma época, carrega suas idiossincrasias, escrotas ou não.

Ação bem desenvolvida e com atrocidade. Efeitos práticos. Visuais. O filtro de cores quentes acerta ao propor o calor como elemento primordial, com o excesso que delicioso é. Todos os personagens suados e transitando naquele inferno de quentura, na qual o predador se dá bem. A mensagem para ser executada teria de ser pelo engrandecimento das sensações. Por isso as cores e o calor em demasia. Esse aqui é um exemplo de buscar enriquecer a mitologia da obra original, mas sem se expor a elementos novos demais. E recauchutar na cara de pau o filme anterior Predador (Predator, 1987). Com todos os pacotes possíveis. Da proximidade da trilha sonora (mas ainda assim muito bem executada e usada decentemente, trazendo elementos de percussão que remetam a urgência e posicionamento espacial urbanoide), à estrutura de ações de caça e descoberta em relação ao predador. Até a morte de um personagem importante é seguida da mesma trilha dramática tal qual a morte de Blain (Jesse Ventura) na fita de 1987. E cito isso como amostra de que, mesmo assim tudo é tão bem ajustado com suas características próprias e com um adireção segura do Stephen Hopkins, que o material acaba por funcionar muito bem. O clichê do governo querendo a criatura também é aproveitado aqui. Outro elemento pegue da saga Alien (a junção dele desde o nascedouro misturava Aliens – O Resgate (Aliens, 1986) e Rambo – Programado para Matar (First Blood, 1982). Competente ao que se propõe não decepcionar em momento algum. Vai no caminho dessa segurança com qualidade e coerência. Com ação de ritmo excelente e dinâmico nas construções de novos personagens dando-lhes carisma com o tempero certo. E os últimos 40 minutos são de ação quase ininterrupta. O jogo de caça é bem registrado fazendo com que sigamos esta criatura em seus percalços de caça e começamos a entender as intenções da figura. Com mudanças em seu visual que remetam novamente a questão da escala. Tudo tem que ser maior e mais foda. Não consegue em sua completude ser mais impactante que a primeva fita, mas a tentativa é sensacional.

A figura do predador. Mostrado agora sem segredo, mas, com mais poder e apetrechos diversos. Com a câmera aproveitando bem o seu tamanho. Ora, uma criatura dessas merece o tratamento mitológico e místico merecido. Aqui se configura tanto visual quanto tribalmente sobre seu poder e no quanto nós gostamos de acompanhar esse animal. E ele é mostrado com ângulos de câmera que quando não o mostram a observar, mostram os resultados de sua carnificina e quando ele realmente aparece é numa condição de força. Em contra-plongees e momentos de contemplação sem pressa. A criatura está plenamente satisfeita e no controle de suas ações dentro de um universo desconhecido espacialmente, mas altamente adaptada a uma praia sua de maneira conjuntural: violência e Sol em demasia. A mitificação do monstro já determinado está. A juntura de todo esse jogo de idas e vindas de caça, procura e estabelecimento da grosseria, é desenvolvido de maneira frontal. E interessante é por conta dessas emendas em repetição serem bem montadas e com uma escolha de paleta de cores que encaixa bem na gênese do personagem, além de servir como elemento tanto de pertencimento orgânico dele quanto a posicionar bem os detalhes sem a necessidade de tantas explicações. Há ainda complementações acerca de sua cultura de caça. Seu colecionismo de esqueletos e sua organização tribal. Tudo proposto de forma orgânica. Funcional. Gera uma curiosidade acerca do universo daquela criatura, e ainda brinda o espectador com uma cena foda ao seu findar. O esquema tribal.

Sobre explicações por demais há a exceção de uma cena onde as ações do primeiro filme são citadas, e esta, no caso, funciona bem quando vem da boca do malucão sensacional do Gary Busey como Petter Keyes. Que faz um agente federal cientista que busca estudar o predador. O elenco fora escolhido de forma bem cosmopolita numa demonstração esperta de uma veia multifacetada de Los Angeles, lotada de imigrantes. E este elenco defende muito bem seus ignorantes personagens. Com grande destaque também para o protagonismo de Danny Glover e seu Mike Harrigan. Compõe uma figura irascível e brutal com um toque de humor e cansaço de tudo que o cerca. Não sem resolver o que interessa na base da porrada. O material segue o esquema clássico de atire primeiro e pergunte depois, mas com a especificidade de que os humanos são a caça.

Predador 2 – A Caçada Continua é fita de continuidade direta e sem frescuras, que promove matança e destroçamentos diversos, e tudo aliado a diversão dos exageros a ele vinculado, onde o que é excessivo consegue sê-lo com a consciência do sarro que isto significa. E sem perder a seriedade embutida na violência desejada. Segue como sendo a melhor sequência da saga. Uma pancada de calor e brutalidade visceral.

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