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Críticas

Cineplayers

Uma das piores adaptações de um game para o cinema nestes últimos 20 anos. E isso significa ainda mais do que parece.

1,0

Ah, as adaptações de games... Quando vamos aprender, afinal? Do filme que matou Raul Julia  até Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo, passando pelos atentados contra Alone in The Dark e Resident Evil, o cinema parece não ter se mostrado capaz, até agora, de transportar o universo do game à tela do cinema. Talvez porque nenhum projeto até hoje tenha caído em mãos realmente talentosas, mas acima de tudo, porque os games têm uma vantagem (ou uma “diferença”, simplesmente) que está muito longe do alcance - e do conceito - do cinema: a interação. Por isso só mesmo um gênio reproduziria com uma câmera o que você e eu já conseguimos com um simples joystick em Silent Hill. Às vezes os objetivos até podem ser os mesmos (como no caso do filme de Christophe Gans), mas os recursos são diferentes; quase opostos.

O filme de Mike Newell (Harry Potter e o Cálice de Fogo), da Disney e de Jerry Bruckheimer, estréia em 2010 com a meta de se tornar para esta década o que a série Piratas do Caribe foi para os anos 00, uma trilogia de aventura que identifique uma geração. E vai falhar lindamente.

Príncipe da Pérsia é  um extraordinário desastre de ritmo. Mesmo apesar de se atropelar todo, de apresentar a introdução como se fosse um teaser e dispensar apresentações de personagens como se já os conhecêssemos desde sempre (o que deixa aquela impressão de se entrar no cinema já com as luzes apagadas), leva intermináveis 30 minutos para o filme engrenar na trama primária (aquela que vira sinopse de dvd). Newell não tem idéia de como pontuar os twists previstos no roteiro e o filme inteiro passa como se nada de relevante tivesse acontecido. Cada revelação importante e cada personagem que morre parecem na verdade obstáculos entre um princípio torto e um final que mal se contém em chegar de uma vez (embora leve uma eternidade).

Pegando o game como referência, o melhor de Prince of Persia é a jogabilidade. Fazer coisas impossíveis, voar, caminhar nas paredes e dar um duplo carpado antes de dilacerar um inimigo, voltar no tempo, e dilacerá-lo de novo. Como todos quando moleques ficamos ansiosos para ver os poderes do Sub-Zero e do Scorpion em Mortal Kombat - O Filme, parte da responsabilidade de um filme baseado em game é transpor ao menos a sensação original para a grande tela. Mas como Mike Newell não sabe filmar a ação, é conveniente estilhaçar cada seqüência em centenas de pedaços e jogá-los quase que aleatoriamente numa centrífuga para que o espectador deduza estar vendo algo que aparente ser melhor do que de fato veria se conseguisse, afinal, ver alguma coisa. É como tentar ler em outro alfabeto. Newell tenta vender uma energia e um vigor através da ação que simplesmente não é capaz de oferecer, não tendo outra escolha senão maquiar o que na verdade foi desde sempre uma cena mal coreografada e mal captada.

Outros problemas são especialmente irritantes, pelo nível e pela recorrência. Sabe-se por exemplo que não se traduz verbalmente uma informação que acabou de ser transmitida em imagens. Toda redundância, quando intencional, soa como uma ofensa grave à inteligência do espectador, que sai de uma sessão de Príncipe da Pérsia destratado até a 5ª geração. É incrível, acontece o tempo todo. Há momentos, inclusive, em que os diálogos entre Tamina e Dastan são teleportados ao nível de narração em off e empossados de um tom didático de tele aula onde se explica incansavelmente o que, afinal, acabou de acontecer.

Seria preciso nascer de novo - e de pais diferentes - para que Príncipe da Pérsia se tornasse ao menos um bom entretenimento. Supõe-se engraçado, divertido, bonito, romântico; supõe-se grande o suficiente para ser a primeira franquia bilionária da década, e é apenas mais um dos vários títulos que ficam melhores quando em polígonos, em plataformas, em 8, 16 e 32-bit.

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