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Críticas

Cineplayers

Joe Swanberg cavando pela felicidade.

7,0
Depois de duas obras-primas em sequência, Um Brinde à Amizade (Drinking Buddies, 2013) e Um Novo Começo (Happy Christmas, 2014), o novo filme de Joe Swanberg no seu trabalho pós-mumblecore, Digging for Fire, é superficial, fraco de experimentação e de pouca identidade, mas ainda assim bonito. Se algo permanece, é o aspecto de crônica, que agora surge de um formato mais tradicional, e a confirmação do otimismo de Swanberg.

O diretor visita o mesmo tipo de personagem de seu filme anterior, a jovem família de classe média passando pela crise financeira que, embora não tire o seu lugar de conforto, não os permite ir adiante também. Tim (Jake Johnson) e Lee (Rosemarie DeWitt) são um desses casais, presos um ao outro, a uma rotina, a um bebê e às circunstâncias sociais de sua classe, permitindo que o amor que sentem um pelo outro seja filtrado por um jogo de aparências que deve ser mantido. Em Um Novo Começo, a visita de uma irmã/cunhada quebra esse filtro das circunstâncias que existe na relação entre o casal e na relação deles com a própria busca pela felicidade. Em Digging for Fire, eles deixam a claustrofobia da relação por um fim de semana e partem cada um em uma jornada distinta em busca da felicidade.

Não sei se meus problemas com o filme são tanto problemas quanto um susto pela convencionalidade agora adotada por Swanberg. Pela primeira vez, o diretor permite que seus personagens falem demais sobre o que estão passando. O personagem de Orlando Bloom, por exemplo, tem um diálogo sobre a busca coletiva pela felicidade, elaborando filosofias pessoais que não deixam o lugar-comum; e Rosemarie DeWitt encontra em todas as casas por que passa o mesmo livro de autoajuda sobre felicidade no casamento. Eu acho Swanberg mais interessante quando ele permite que essas coisas surjam no silêncio de personagens que não conseguem falar sobre elas, e então falam de tudo (dos problemas da casa, do trabalho, dos impostos, do filho, dos pais, etc.), menos isso.

Swanberg também afastou a sua câmera e abriu os seus planos. Há perdas e ganhos óbvios quando se escolhe largar mão dos rostos e favorecer a praia, o céu, as casas da alta sociedade e um quintal misterioso. Estas mudanças favorecem o contraste entre os personagens e rendem algumas belas cenas, principalmente na relação entre Tim e os vários amigos que o visitam e Lee e sua amiga (Melanie Lynskey) e, principalmente, entre o próprio casal. Mas, por outro lado, há personagens demais, e Swanberg sacrifica mais do que ganha ao não fechar sua câmera (literalmente) em nenhum deles.

Há muita ingenuidade nos resultados de cada busca. Dentro de casa, Tim acha ossos; fora, Lee descobre Júpiter. É tudo muito esquemático e didático, mesmo para um filme indie americano. Sinto falta de um pouco de dureza que fez tão bem a filmes como Complicações do Amor (Charlie McDowell, 2014) e Cala a Boca, Philip (Alex Ross Perry, 2014), sobre uma mesma geração de uma mesma classe social. Se a falta de conflito é o que engrandece os outros filmes de Swanberg, é o que enfraquece este. Em Digging for Fire falta também a muito natural intenção do conflito, antes sempre presente na obra do diretor.

Sustento, ainda assim, que há beleza no filme, principalmente na descoberta final do afeto. O otimismo de Swanberg pela primeira vez parece barato, fácil e até um pouco ridículo, mas a doçura que vem da essência de seus personagens (e de seus filmes) é bem-vinda. O diretor segue acompanhando seus personagens na busca pela felicidade. O que mais gosto nele é como ainda consegue expressar a surpresa de encontrá-la nos lugares mais simples.

Comentários (1)

Alexandre Koball | sexta-feira, 25 de Março de 2016 - 09:23

Filmão. E não é Júpiter, é Saturno.

O título nacional ficou "Quem Procura Acha".

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