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Críticas

Cineplayers

Uma das grandes obras-primas da Disney, que consegue divertir com o carisma de seus personagens e tocar em temas importantes.

9,0

A Disney sempre gostou de ter animais como protagonistas em suas animações. Se formos um pouco atrás, encontramos clássicos como Dumbo, Bambi ou o próprio Mickey Mouse; se não quisermos ir tão longe, é só pensarmos em filmes recentes como Irmão Urso ou Nem Que A Vaca Tussa. Só que em 1994, a Disney lançou aquela que considero uma de suas obras-primas de toda sua história: O Rei Leão. Misturando ótimas cenas divertidas, que fazem tanto crianças quanto adultos sorrirem por praticamente todo o filme, com cenas mais pesadas, que discutem temas como morte e inveja em família, somando-se ainda personagens extremamente carismáticos e bem utilizados na excelente história, a Disney parece ter encontrado a fórmula perfeita de se fazer uma animação.

Uma fórmula que parece ter sido esquecida, já que considero este o filme que fecha a última grande fase da Disney, que contém ainda outras duas obras-primas: A Bela e a Fera e Aladdin. Não gosto muito de alguns filmes famosos, como Tarzan, O Corcunda de Notre-Dame ou Pocahontas. Se compararmos esses filmes à O Rei Leão, por exemplo, a diferença é gritante. E pensar que este era para ter sido uma animação secundária do estúdio, dá para se entender o porquê do encerramento das produções neste estilo, devido a falta de competência dos diretores da empresa, esboçados dez anos atrás e hoje confirmada. Ainda bem que o público não costuma cair nessas politicagens e fez de O Rei Leão um dos filmes em animação mais rentáveis da história, perdendo o título há pouco tempo para Procurando Nemo, da Pixar – que convenhamos, vem sustentando a Disney por alguns anos, com uma ótima qualidade freqüente em seus títulos.

Simba é um príncipe filhote de leão que acaba de chegar ao mundo, em uma das mais belas aberturas que a Disney já criou, mostrando o respeito de toda uma geração de animais em reverência à Mufasa, o leão-rei de onde a história é contada. Nala é a pequena leoa, melhor amiga de Simba e sua futura pretendente. Quando se juntam, Simba e Nala costumam aprontar poucas e boas através da conhecida “diversão adolescente”. Apesar de todos os avisos de Zazu, o conselheiro bicudo do rei, Simba e Nala acabam por entrar no território proibido das hienas. Conhecemos então outras três personagens do filme, que causam sempre problemas ao reino com suas invasões. Fechando o grupo de personagens iniciais, temos ainda o tio invejoso Scar, que sofre com o destino de ser apenas a sombra de Mufasa,  a má aproveitada na história, porém boa com seu “povo”, a rainha Sarabi, e o macaco shaman Banzai.

O filme é um prato cheio para os pais discutirem com seus filhos os mais diversos temas, já que todas as ações do filme podem ser perfeitamente comparadas às ações dos seres humanos. Essa metáfora é ajudada pelo carisma dos personagens, todos muito bem desenhados e com uma arte final muito bem chamativa. Temas como inveja, ganância ou aquelas brincadeiras inocentes que as crianças acham que não vão ter problemas, e até mesmo a morte – uma importante perda na família – são apresentados as crianças com conseqüências que não as iludam ou incentivem a fazer o mesmo.

Depois da metade do filme, o tempo passa e Simba cresce na companhia de dois novos amigos: Timão, um suricata extremamente engraçado (seu referente na vida real é ainda mais engraçado) e Pumba, um javali que odeia ser chamado de porco e adora andar por aí atrás de comida. Eles ensinam à Simba o modo Hakuna Matata de ser, ou simplesmente deixe viver, viva a vida como ela deve ser vivida. Simba então proporciona mais um tema para pais e filhos: o confrontamento com os erros do passado. Cabe a Pumba uma excelente referência ao filme Taxi Driver, de Martin Scorsese, quando as hienas o chamam de porco e ele repete o gesto de Robert De Niro ao dizer repetidamente e de forma intimidadora “are you talking to me?”.

Se todo o carisma dos personagens e a ótima história já não bastassem para um bom filme, aqui ainda temos excelentes canções interpretadas pelos próprios personagens durante o filme, coisa que a Disney sempre fez muito bem, mas parece ter esquecido também disso hoje em dia. As canções são tão boas que Elton John concorreu com ele mesmo no Oscar, com as belíssimas “Can You Feel The Love Tonight” e “Circle Of Life” (faturando a estatueta de canção por essa primeira música), e ainda com mais uma canção do filme, “Hakuna Matata”, além de levar também mais uma estatueta, a de trilha sonora.

Somando-se todas essas características em perfeita simetria, fica fácil entender porque O Rei Leão tornou-se um clássico. Se sua equipe não acreditasse que o resultado final pudesse ser tão bom, os pais não teriam um grandioso filme familiar para ver com seus filhos, não teríamos as belas canções que são escutadas até hoje e não teríamos a enorme coleção de bonecos de pelúcia também. Se tudo isso não bastasse, ainda fica martelando em nossa memória grandes momentos do filme, como quando Simba, após aprontar uma ‘daquelas’, segue seu pai enquanto este lhe aplica um sermão. Simba então pisa no mesmo local onde seu pai havia acabado de pisar e deixar uma pegada; Simba se espanta com a diferença entre sua pequenina pata e a de seu pai. Cenas como essa dão gosto de continuar acreditando que os desenhos da Disney poderão voltar a ser grandes um dia.

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