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Críticas

Cineplayers

Um filme fraquíssimo, que pode ser relegado ao DVD sem problemas.

4,0

HQs e games. Esses dois segmentos já estiveram lado a lado, partilhando a mesma falta de interesse da indústria cinematográfica em investir em projetos que fizessem jus à qualidade que ambos vêm demonstrando ao longo dos anos. Mas esse companheirismo há muito já não existe, pois certo dia o cinema teve um feliz encontro com os quadrinhos e relembraram a fase de ouro onde juntos produziram bons filmes como Superman e Conan. E uma nova safra surgiu nos trazendo boas produções como Batman e O Máscara. Ou citando as mais recentes boas produções,  Homem-Aranha, X-men e Anti-Herói Americano.

Já seus companheiros de jornada, os games, que antes vinham sendo maltratados com produções baratas como Street Fighter e Mario Bros e o recente House of the Dead, tiveram alguns lampejos de micro-destaque com produções medianas como Mortal Kombat (falando apenas do primeiro), Tomb Raider e Resident Evil - O Hóspede Maldito. Esse último, particularmente, até considero um dos melhores exemplos de adaptação de um game de sucesso às telas de cinema.

Baseado em um game de sucesso desenvolvido pela japonesa Capcom, tradicional produtora do setor, o filme Resident Evil - O Hóspede Maldito conseguiu um certo destaque utilizando apenas elementos do game, mas se baseando em um enredo diferenciado, evitando deixar pontas que conduziam a maiores e mais aprofundados detalhes da trama, coisa que funciona bem em um game, que pode ser destrinchado em vários volumes, mas impensável para o cinema, onde é preciso agradar à grande massa dos não-fãs do jogo que não teriam muita (ou nenhuma) familiaridade com os elementos comuns do game.

No primeiro filme, uma grande corporação conhecida como Umbrella pesquisava secretamente (em uma laboratório subterrâneo na cidade de Raccoon City) armas biológicas. E através de um incidente envolvendo grupos ecológicos, um perigoso vírus conhecido por "T" escapa, infectando instantaneamente todos os seres vivos do local. Os seres infectados ficavam em um estágio de pós-morte onde a única e maior necessidade que o cérebro processa é a alimentação, fazendo os "zumbis" partirem atrás de carne fresca. Isso ainda inserindo na trama criaturas alteradas geneticamente.

Esse segundo filme praticamente começa onde o primeiro terminou, ou para ser mais exato, momentos antes. Mostrando os acontecimentos paralelos à cena final do primeiro filme, onde a cidade de Raccoon City é infestada pelos vírus T, e conseqüentemente, os mortos-vivos e outras criaturas (que aparecem na cidade sem maiores explicações), tendo todos seus habitantes presos na cidade pelos administradores e seguranças da cidade (todos funcionários da Umbrella).

Voltamos a encontrar Alice (Milla Jovovich) e Matt (Eric Mabius) e descobrimos que ambos se tornaram cobaias vivas dos experimentos da Umbrella, sendo que Matt passa a ser conhecido como Nemesis, uma criatura grotesca, porém a mais perfeita máquina de matar já desenvolvida. Já Alice tem modificações apenas internas, ganhando força e agilidade acima do normal. E além dos personagens sobreviventes do último filme, são inseridos diversos outros personagens, para a alegria dos fãs da série, pois muitos são velhos conhecidos dos games.

Ou melhor, apenas nomes conhecidos (e alguns com alguma semelhança física), mas com personalidades totalmente diferentes das já conhecidas pelos jogadores. Aí reside um dos problemas (e não são poucos) de Resident Evil 2: Apocalipse. No entusiasmo de agradar aos fãs, que ficaram um tanto decepcionados pela ausência de nomes e acontecimentos conhecidos no primeiro filme, o roteirista simplesmente jogou vários personagens e eventos de vários capítulos dos games em um único filme, criando um verdadeiro emaranhado de personagens e eventos que tiveram pouco ou nenhum desenvolvimento.

Temos por exemplo vários grupos separados, como Alice, Jill Valentine (Sienna Guillory), Carlos Olivera (Oded Fehr), L.J. (Mike Epps) e muitos outros que atuam desconectados um dos outros, mas que previsivelmente se encontrarão em determinado momento, correndo para salvar suas vidas e, a pedido de um dos criadores do vírus T, uma criança chamada Angélica Ashford (Sophie Vavasseur), sua filha. O problema desse monte de personagens é que, como comentei, eles são pouco trabalhados. E alguns até mesmo desnecessários à trama. Temos por exemplo uma Jill Valentine, heroína incontestável da série, relegada a um segundo plano, sem grande destaque e ainda totalmente apagada pela boa presença de Milla Jovovich. Temos também vários agentes, alguns até mesmo nomes conhecidos dos fãs, que estão ali apenas para servir de alimento, morrendo de maneira totalmente desnecessária ou de forma absurda.

Mas maior que a quantidade de personagens desnecessários só mesmo a quantidade de sustos artificiais, situações previsíveis, furos no enredo e argumentos inconsistentes que o filme apresenta em seus 94 minutos de duração. Um bom exemplo de argumento furado é a vã tentativa de se encontrar uma explicação para a frieza de outros agentes da Umbrella, que aproveitam a situação para testar a máquina de matar Nemesis, não para exterminar zumbis ou outras criaturas soltas em grande quantidade na cidade, mas agentes da S.T.A.R.S, que estavam combatendo os inimigos. Estranho pensar que todos da Umbrella são assim tão frios, que não se revoltam ao ver seus companheiros sendo comidos vivos por criaturas grotescas. Isso ainda sem comentar a total desnecessidade do visual sexy de Jill Valentine.

Não dá para deixar de mencionar o fraco desempenho na atuação da grande maioria dos atores, cenas de ação confusas e com pouco foco, efeitos de câmera usados e repetidos exaustivamente, total falta de originalidade em cenários, eventos e  até mesmo em algumas cenas, que lembram bastante outras já vistas em filmes como Matrix e Robocop. E como não poderia deixar de ser, não faltam clichês. Como a presença de um personagem cômico que tem sempre uma piadinha pronta para soltar nos momentos mais improváveis que a situação possa permitir.

Infelizmente Alexander Witt, o diretor que assumiu o projeto depois da saída de Paul Anderson, não tenha sabido aproveitar os momentos sombrios que o game oferece, tornando essa continuação um filme de ação desinteressante e pouco original. Privando-o de constar ao menos entre os muitos filmes medianos baseados em games. E o pior ainda é encerrar o filme com uma ponta totalmente desnecessária para uma provável continuação. Tudo isso faz de Resident Evil 2: Apocalipse um filme descartável, que pode tranqüilamente ser relegado ao DVD.

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