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Críticas

Cineplayers

Um filme genérico.

4,0

Em dado momento de O Ritual (The Rite, 2011), o protagonista assiste a uma sessão de exorcismo e espanta-se com a “naturalidade” daquela prática, indagando este pensamento ao exorcista presente, que logo retribui perguntando se o rapaz esperava ver cabeças girando e sopas de ervilha. Essa pequena cena resume a notória vontade do filme de estabelecer um espírito vanguardista, que não se limita apenas à ótica do tema que fez famoso O Exorcista (The Exorcist, 1973) na década de 1970. Esta produção pretende, mais que tudo, construir uma visão mais “humanizada” de sua temática religiosa, pôr a prática do exorcismo sob um novo prisma de interpretação. Infelizmente, suas promessas jamais são cumpridas.

Para ilustrar sua pretensão, o filme inicia-se com uma imponente citação do Papa João Paulo II, que revela uma ligação direta existente entre os humanos e o demônio; a partir desse ponto, nota-se uma clara intenção de conectar o tema ao público, fazendo com que o espectador sinta-se o mais próximo possível ao tópico que será dissecado. Desse modo, a fita se assemelha ao recente - e superior - O Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose, 2005), no entanto, fica muito aquém da discussão proposta por esse, pois mesmo que tenha a intenção de difundir um antigo tabu religioso, O Ritual parece preocupar-se mesmo com suas investidas de promover o horror ao público, não se importando com a confecção de sua trama e personagens.

O diretor Mikael Håfström, portanto, descarta a possibilidade de tornar sua obra relevante quando passa a priorizar os elementos mais básicos para assustar a platéia, relegando totalmente os debates que poderiam ser ocasionados com a abordagem de um assunto dessa dimensão. Custa a crer que um cineasta possa desprezar a reflexão de seu projeto em troca de um ou dois sobressaltos do espectador; e esse desleixo passa a ser cada vez mais óbvio quando a auspiciosa trama começa a ser guiada pela equivocada estrada da previsibilidade, tanto em matéria de situações quanto na fabricação dos sustos. É então que percebemos que a leve piada satirizando os elementos presentes em O Exorcista fora apenas um simples prenúncio de inovação nunca realizado.

E essa era realmente a atmosfera em que o filme parecia respirar: inovação. Tendo em visão que difere da maioria, este não mira sua atenção nas vítimas de possessão, mas nos profissionais responsáveis por realizar o ato de esconjuração - no caso, os personagens interpretados por Anthony Hopkins e Colin O'Donoghue. Tal como ocorreu em O Exorcismo de Emily Rose (que, mesmo não sendo um grande filme, conseguiu ir um pouco além dos padrões), esta obra parecia possuir um “quê” de originalidade, que conseguiria se desprender dos padrões impostos pelos inúmeros títulos que abrangem o tema como principal. Toda esta mensagem de reinvenção se exalta quando temos a ciência de que o filme é baseado em fatos reais, e todas as imagens que veremos foram inspiradas em acontecimentos verídicos. Contudo, essa clara jogada de marketing naufraga na incapacidade de seus responsáveis em construir sobre este aspecto uma produção ao menos assustadora, conseguindo fracassar até mesmo nesse quesito.

A previsibilidade que envolve a trama é compartilhada até mesmo por sua estética, que opta sempre por fotografia escura e nebulosa para enaltecer o terror que as figuras da história sofrem ou estão para sofrer. Mais que isso, em determinadas cenas, os personagens são enquadrados pela câmera em algumas paisagens vastas, onde se tornam apenas ínfimos pontos diante da magnitude do espaço (veja, por exemplo, a cena em que o personagem Anthony Hopkins tem a noção do aparecimento de alguns sinais de possessão enquanto está numa praça), apenas para alertar ao público o quão pequenos são os humanos diante do desconhecido, do sobrenatural. No entanto, esses lances visuais somente se estabelecem como surtos de obviedade dentro da história, visto que são os recursos mais básicos que um cineasta poderia utilizar ao realizar um filme desse cunho.

Desse modo, qualquer fragmento promissor que existia na obra inicialmente desapareceu em instantes, à medida que os caminhos que traçava tornavam-se cada vez mais arruinados. O prometido sopro fora do convencional foi inteiramente asfixiado por um filme genérico, perdido dentro de pretensões infundadas e limitações evidentes. Ele se sabota, se prejudica, entrega ao fracasso suas próprias fórmulas e propostas. E essa é a prova mais do que nítida que o maior problema presente em O Ritual é ele mesmo.

Comentários (5)

Matheus Soeiro Villela | domingo, 14 de Agosto de 2011 - 13:40

Crítica excelente. Júnior arrazando.
Mas só eu reparei que ele só escreve críticas com notas baixas? Quer dizer, não que eu não concorde com todas as notas que deu até agora, mas seria legal vê-lo fazer a crítica de um filme bom.

bruno dos santos | segunda-feira, 15 de Agosto de 2011 - 08:15

bela critica mesmo, e este filme é realmente muito chato.
Não gostei e este anthony hopkins está em sua pior forma, pois
''O ritual'' é desprezível.

Caio Gouveia | terça-feira, 20 de Setembro de 2011 - 08:20

Tb achei mto fraco. Não me despertou medo e nem mto interesse na história.

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