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Críticas

Cineplayers

Grande sucesso popular francês finalmente chega às telas brasileiras.

4,0

Há uma quantidade bastante satisfatória de filmes franceses estreando no Brasil. A impressão é de que praticamente toda semana aportam por aqui pelo menos um ou dois títulos vindos da terra dos irmãos Lumière. No entanto, a julgar por um filme novo como esse A Riviera Não é Aqui, dir-se-ia que a situação do cinema francês atual é realmente crítica. Até mesmo porque estamos nos referindo a uma comédia que se converteu no maior sucesso de bilheteria no seu país de origem em todos os tempos, com espantosos vinte milhões de espectadores.

Porém, o filme do ator-diretor Dany Boon está muito longe de servir como amostra representativa da recente cinematografia francesa. Aliás, os dois anos que demorou para somente agora entrar discretamente em cartaz nos cinemas brasileiros explica a sua condição (que tanto serviu para torná-lo um sucesso em sua terra natal quanto um produto desinteressante ao resto do mundo): trata-se de uma fita regional demais para ser exportada. Ao contrário do cinema mais autoral francês que costuma despertar a atenção de um determinado público específico, A Riviera Não É Aqui é quase um equivalente às comédias enlatadas norte-americanas que nos acostumamos a assistir na sessão da tarde ou em horário nobre, com a diferença de que essas produções hollywoodianas são geralmente estreladas por astros que contam com uma presença cativa na percepção das grandes platéias, facilitando a empatia com esse tipo de filme. Em outras palavras, ver esse A Riviera Não é Aqui deve ser algo próximo de um francês (ou europeu, em geral) diante de alguma das comédias de Daniel Filho.

O ponto de partida pode soar universal no começo da narrativa. O diretor de uma agência dos correios em Salon-de-Provence (no sul da França), Philippe Abrams (interpretado pelo próprio cineasta), sonha em ser transferido para a bela Riviera Francesa, para agradar a sua esposa, Julie, de natureza depressiva. Para vencer os concorrentes que também almejam a transferência, o personagem articula uma fraude que resulta em conseqüências desastrosas (e em pelo menos uma cena hilariante). Desde o princípio A Riviera Não é Aqui é um filme que se pretende engraçadinho demais, do tipo “ria a todo custo”. A presença em cena do ator-diretor Boon é comedida e equilibra, mas como cineasta ele exagera em jogar para a cima do personagem toda uma série ininterrupta de malezas e vicissitudes, envolvendo-o numa maré de azar a partir da punição do funcionário fraudulento sendo transferido para Bergues, uma pequena cidade no norte do país. Para o casal, essa nova realidade é um pesadelo, pela iminência de partir em direção a uma região fria e encontrar uma população de hábitos e linguajar completamente diferentes dos seus.

Com a chegada do personagem ao norte (a esposa e o filho preferiram não acompanhá-lo), o cineasta assume a postura com que lidará com o seu filme dali em diante, contrastando o tempo inteiro os modos civilizados de Philippe com o comportamento interiorano dos seus novos colegas de trabalho. As confusões na primeira noite na casa do carteiro responsável por aguardar o diretor na cidade, o constrangimento diante dos hábitos alimentares a que tem que se submeter para se socializar, e sobretudo, a graça com o peculiar dialeto chamado “ch’ti” (popularizado em toda a França desde os seus primeiros tempos de humorista pelo próprio Dany Boon, originário do lugar) são choques regionais que em grande parte beiram a caricatura em sua busca incessante pelo riso. Em questão de algum tempo, seguindo os velhos clichês, o protagonista se adapta ao lugar e se torna parte integrante do seu novo meio, inclusive tentando ajudar o carteiro em seus problemas particulares, quando o filme então adquire um teor mais sentimental, ao mesmo tempo em que o personagem precisa resolver a situação com a esposa, quando esta decide visitá-lo e conferir com os próprios olhos a vida que Philippe vai levando.

Tendo caído no agrado das platéias francesas (o que foi ajudado pela simpatia do seu protagonista, comediante popular por aquelas bandas), dificilmente vai repetir o feito em terras brazucas. Quando muito, poderá vir a ser refilmado por Hollywood, transportando e adaptando o seu argumento para a América, na tentativa de faturar alguns trocados. O original, entretanto, não possui nada de memorável.

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