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Críticas

Cineplayers

Depois de tantas produções, finalmente um filme clássico de samurais de Yôji Yamada.

6,5

Yôji Yamada é um dos mais antigos cineastas japoneses em atividade. Com 67 produções sob a sua batuta – uma delas posterior a este O Samurai do Entardecer – Yamada, de 74 anos, jamais tinha dirigido um filme clássico sobre samurais. Essa decisão foi tomada a partir da vontade do diretor em mostrar sua visão pé no chão sobre os guerreiros japoneses, contrastando com as produções fantasiosas que já estão fixadas no imaginário popular do Ocidente. Acabou vendo seu filme competir no Festival de Berlim e ser indicado ao Oscar de filme em língua não-inglesa.

Aqui não há espaço para lutas acrobáticas ou cenários deslumbrantes. Há sim uma bela história de honra, coragem e amor, como em todos os filmes do gênero, centrada em um homem humilde e paupérrimo: Seibei Iguchi (Hiroyuki Sanada, que depois foi fazer O Último Samurai em Hollywood), que lida com as misérias do cotidiano com a simplicidade que a vida lhe impôs. Viúvo, com duas filhas pequenas para criar, a mãe sofrendo de uma doença degenerativa e um serviço burocrático que mal permite colocar comida em casa, Seibei é o típico perdedor.

Suas obrigações para com a família obrigam-no a estar em casa antes do anoitecer, e por não poder socializar com os companheiros após a jornada de trabalho, recebe o apelido pejorativo de ‘Crepúsculo Seibei’ (o título original), que serve também de alcunha para uma reflexão do diretor Yamada sobre o período em que a história é situada: século XIX, quando os tradicionais clãs, de estrutura ainda feudal, começam a ser extingüidos para dar lugar a uma nova organização social. O Japão moderno estava prestes a ser construído.

O herói maltrapilho, sujo e humilhado tem a chance de sua redenção quando descobre que um antigo amor de sua vida acabou de divorciar-se e está livre novamente. Mas o abismo social que os separa e o ex-marido da amada serão obstáculos nem tão fáceis de serem transpostos. Após a vitória em um confronto onde envergou apenas uma espada talhada em madeira (já que sua espada de ‘verdade’ tinha sido vendida para pagar o enterro da esposa tuberculosa), Seibei terá de travar outras batalhas onde nem sempre será o vencedor.

Yamada privilegiou a parte dramática, desvirtuando propositalmente o gênero, já que apenas dois combates são mostrados, e de forma muito crua e real. Com planos conservadores, criou um filme acadêmico e extremamente eficaz, amparado por uma trilha sonora discreta e oportuna. Contra o filme, a redundante  narração em off, o desfecho contrastante ao resto do filme e a excessiva duração, já que poderiam ter sido limados bons 15 minutos de filme. Mas é um trabalho que exala maturidade em cada fotograma e que espelha em um personagem todo um país que ainda hoje briga para manter fortes as suas milenares tradições.

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