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Críticas

Cineplayers

Bons atores e piadas engraçadas garantem a qualidade do novo filme de Jorge Furtado.

8,0

Jorge Furtado é um dos grandes diretores do cinema nacional. Já provou isso desde o início de sua carreira com o curta-metragem Ilha das Flores. Anos mais tarde, viria a dirigir dois elogiadíssimos longas-metragens: Houve Uma Vez Dois Verões e O Homem que Copiava. Agora, Furtado nos apresenta uma comédia escrachada, divertidíssima. O novo trabalho do cineasta é, sem dúvida, o melhor exemplar brasileiro do gênero dos últimos anos. 

Na comunidade de Linha Cristal, na serra gaúcha, um pequeno grupo de moradores é escolhido para pleitear, junto à subprefeitura, a construção de uma fossa para tratar o esgoto local. Depois de ouvir as reclamações dos moradores, a prefeitura reconhece a necessidade de realizar a obra, porém, argumenta não possuir recursos para esse fim no orçamento municipal. Entretanto, a secretária da prefeitura explica que o município dispõe da quantia de dez mil reais, dinheiro proveniente do governo federal, para a produção de um vídeo. Para conseguir o dinheiro, os moradores terão que entregar roteiro e projeto de um curta-metragem de ficção. Com o passar do tempo, os moradores vão se envolvendo cada vez mais na realização do vídeo.  

Saneamento Básico, o Filme proporciona um bom divertimento durante toda a projeção. As risadas começam antes mesmo do início da primeira cena. Não chegue atrasado de maneira alguma, para não perder a atriz Fernanda Torres orientando a entrada do público na sala de cinema. Com a platéia conquistada antes mesmo do começo da história, coube a Jorge Furtado apenas continuar alimentando a audiência com uma dose elevada de bom-humor. É inegável que a história é simples, entretanto, é uma história simplesmente muito divertida. As piadas não param. O roteiro, do próprio Furtado, é ágil, e conta com ajuda da boa edição do filme. O diretor demonstra saber como fazer uma bela comédia sem cair no ridículo ou no vazio de conteúdo. As piadas são inteligentes, permitindo risadas verdadeiras. É, sem dúvida, uma produção muito gostosa de se acompanhar. Com tantos acertos, o que poderia atrapalhar o longa seria uma metragem muito extensa. Mas Furtado sabe o momento certo de parar. Por essas e outras, Saneamento Básico é um filme na medida certa.

Entre as diversas piadas sensacionais estão as citações de que é melhor fazer um vídeo qualquer com a verba federal do que não fazer e ter que devolver o dinheiro para Brasília. “Devolver não dá”, acrescenta um personagem. Furtado mostra bom-humor e irreverência na hora de criticar a corrupção. Seria uma espécie de “é melhor gastar mal a verba por aqui, do que devolver aos políticos de Brasília para eles gastarem mal por lá”. Há, também, a divertida piada sobre um morador local com curso superior (High School, segundo outro personagem). As primeiras cenas, em que os moradores tentam entender o que é cobrado no regulamento da promoção, também são ótimas. 

Mas, as piadas e o bom roteiro não funcionariam de modo algum caso os atores não estivessem ótimos. O sensacional elenco está inspiradíssimo. Wagner Moura interpreta Joaquim, marido de Marina, interpretada por Fernanda Torres. O ator está mais uma vez ótimo, bastante engraçado, mas quem brilha mesmo é Fernanda Torres, hilária, no melhor estilo Vani, de Os Normais. A atriz possui um timing incrível. Fica claro que muito da graça do filme não existiria caso fosse outra atriz no lugar dela, que sabe o momento certo de soltar as piadas, de fazer pausas, etc. Lázaro Ramos dispensa comentários. O ator aparece apenas mais próximo do final da projeção, mas seu personagem também se destaca. Na parte feminina, Fernanda Torres não brilha sozinha. Camila Pitanga dá um show. Ela vive Silene, uma moradora que atua como atriz principal no curta-metragem. Na pele de sua personagem, Camila Pitanga está ridiculamente engraçada ao demonstrar a “qualidade” de Silene para interpretações. Em matéria de personagem sem a mínima competência para interpretar, Bruno Garcia teve a tarefa mais difícil. Se Silene já não leva o menor jeito para ser atriz, Fabrício é, sem dúvida, o pior de todos. Deve ser complicado para atores ótimos como os de Saneamento Básico interpretar pessoas sem a menor capacidade para ser artista de cinema.

Saneamento Básico é diversão com qualidade garantida. Jorge Furtado continua mostrando porque é um dos grandes cineastas brasileiros. “Se é para fazer, melhor fazer bem feito”, diz o slogan do filme, em referência ao desafio proposto aos personagens da história. E este, felizmente, é um exemplar do nosso cinema muito bem feito.

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