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Críticas

Cineplayers

Se você é amante de cavalos, esse é o seu filme. Fora disso, tão lento que consegue deixar de ser chato em poucos momentos.

6,0

Nada como sete indicações ao Oscar para fazer com que um filme, que havia passado despercebido no circuito nacional, volte a cartaz em dez cidades do país. E como eu havia perdido, corri aos cinemas e aproveitei para conferir o único indicado ao Oscar de melhor filme que ainda não havia visto. Deixo logo avisado: assim como Velozes e Furiosos é para os amantes de carros, Seabiscuit é para os amantes de cavalo. Quem não curtir esses belíssimos animais, mas curtir muito mesmo, é melhor ficar bem longe, pois achará o filme lento, extremamente detalhista, com algumas partes chatas, previsível e tudo mais. Mas para quem os curte será um prato cheio, pois as paisagens são lindíssimas, o filme é bem interpretado e conta com cavalos extremamente bem fotografados.

Convenhamos, a indicação ao Oscar para melhor filme é forçada. Ele tem diversos erros, mas diversos erros mesmo, até básicos, que comprometem muito o resultado final. O engraçado é que o diretor disso tudo é o experiente Gary Ross, o responsável por títulos como A Vida em Preto e Branco e o maravilhoso Quero Ser Grande, o que torna os erros ainda mais inaceitáveis. Um deles que posso citar, logo de cara, é o método documental que o início do filme apresenta. Poderia funcionar se não interferisse tanto no ritmo do filme, quase se tornando um sonífero em grande parte do tempo.

Mas... documental? Como assim? Simples! O início e algumas passagens de tempo contam com imagens históricas e uma narração over que vai contando o que aconteceu no período que estamos vendo. O problema ainda maior é que, simplesmente, de uma certa parte para frente, o aspecto documental some e entramos com Tobey Maguire como o narrador do filme. Como podem simplesmente trocar a estrutura básica de uma hora para outra? E o pior, sem um motivo concreto qualquer? Para que então começar com o estilo documental? Isso mesmo, esse erro – grave – existe.

Outro erro grave da estrutura é que o cavalo que dá nome ao filme, Seabiscuit, só aparece quase na metade da projeção. Quando entrei no filme, confesso que simplesmente não sabia quem era, o quê era, ou porque era Seabiscuit. Milagrosamente, o título nacional finalmente ajuda em alguma coisa dessa vez, ao invés de deixar o título ainda mais ridículo – convenhamos, é bem comum isso acontecer. Uma apresentação, ou uma deixa deveria dar pelo menos uma chance de nos ligarmos no título – afinal, ninguém é obrigado a saber quem é Seabiscuit. Claro que o filme explica isso, mas tarde demais, quando já temos uma hora de projeção e já é tarde demais para começar a situar o público de maneira ideal.

O que poderia ser isso então? Creio que um excesso de detalhismo. Tudo está mastigadinho demais, está tudo sendo mostrado, quando alguns acontecimentos poderiam ser apenas citados. Novamente falo que, para quem curte cavalos, isso não irá incomodar, mas para quem for apenas casualmente ao cinema, poderá servir como um belo sonífero. A previsibilidade, a partir do momento que sabemos do que o filme se trata, joga contra o patrimônio, uma vez que as corridas ficam menos interessantes e sem objetivos fortes.

Aliás, falhei com vocês ao não contar a história do filme. É para morder minha língua, falei que o filme falhou nesse ponto e também só irei situá-los da história na metade do meu texto, exatamente o mesmo erro. O filme é sobre um cavalo azarão que fez muito sucesso logo após a grande depressão de 1929, correndo e batendo adversários considerados incrivelmente mais fortes. Só que antes disso tudo acontecer, temos a famosa hora que tanto comentei nas linhas anteriores para explicar, tim tim por tim tim, a vida de quem está envolvido na trama. Inclusive algumas partes com aspecto documental do início me lembraram a obra-prima de John Ford, As Vinhas da Ira.

Como minha nota poderia ser um "6" então, se até agora só falei mal dele? Algumas características do filme são simplesmente maravilhosas, a começar pela trilha sonora. Analisando pelo seu apelo dramático, fica bem fácil perceber porque muitas pessoas conseguem se emocionar mesmo depois de quase serem arrastadas por duas horas. Os temas empolgam e conseguem tocar o coração do mais durão. E ao mesmo tempo que tudo fica extremamente mais lento e cansativo no início, quando a parte realmente dramática do filme entra em prática, nós percebemos que toda essa preparação não foi de todo um mal, uma vez que nos identificamos com os personagens e, apesar de não duvidar muito, nos importamos com seus destinos.

Os cavalos estão extremamente bem fotografados e as paisagens que os rodeiam nos jogam dentro dos anos 20, nos fazem literalmente vontade de viver naqueles locais ambientados. Há de todos os gostos e tipos, inclusive o meu preferido foi um todo branco, usado ainda na introdução dos personagens. Cavalo extremamente bonito, forte, dá gosto de se ver. A direção de arte está impecável e conseguiu arrumar boas imagens para a parte documental da história. Quanto à fidelidade na parte real do filme, tudo está como o esperado, bem reproduzido, com carros de corrida, ternos, penteados e tudo mais.

Agora, as interpretações são um destaque à parte. Jeff Bridges está simplesmente maravilhoso, inclusive construindo expressões faciais para seu personagem, que realmente lembram filmes da década de 20 e 30. A famosa boquinha meio fechada de um lado funciona incrivelmente bem e faz identificar-nos com o seu personagem – de longe com o que eu mais me afeiçoei na história. Tobey Maguire já encarna Red Pollard de maneira bem simples, mas correta, como um rapaz reagiria normalmente ao se defrontar com os problemas que ele teve na vida. Chris Cooper faz o papel de mentor de Tobey, treinando-o para os obstáculos que deve enfrentar.

Seabiscuit - Alma de Herói recebeu suas indicações ao Oscar, mesmo que algumas delas eu tenha achado bastante exageradas. Principalmente por ser um filme lento, cheio de defeitos e sobre um tema tão específico que pode agradar somente algumas pessoas. Será esquecido um tempo depois, nada mais. A não ser, claro, que você seja um amante dos eqüinos.

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