No rancho Barnyard (o título original do filme), basta o fazendeiro virar as costas para que os animais comecem a fazer a festa. Assumindo características humanas, passam a andar sobre duas patas, conversam entre si e fazem toda uma sorte de bagunça. Entre eles está Otis (voz de Kevin James, o gorduchinho que roubou a cena de Will Smith em Hitch – Conselheiro Amoroso), um boi adolescente que só quer saber de diversão, para preocupação de seu pai, Ben (voz de Sam Elliott), responsável pela segurança do local – que sempre é atacado por coiotes atrás das saborosas galinhas do lugar.

Otis está naquela difícil fase de transição, na qual responsabilidades começam a aparecer, mas ao mesmo tempo é grande a vontade de continuar a se divertir e a viver sem compromissos. Uma tragédia mudará a sua vida para sempre e Otis então terá de enfrentar novos desafios em sua vida, ao mesmo tempo em que se interessa por Daisy (voz de Courteney Cox, a Monica da finada série ‘Friends’), uma vaquinha grávida recém-chegada ao lugar. 

A difícil transição da fase adolescente para a vida adulta já foi tema de inúmeros filmes, e aqui novamente é recontada pegando emprestados elementos de filmes como O Rei Leão, Bambi e até a derradeira animação tradicional da Disney, Nem Que a Vaca Tussa. Dirigida por Steve Oedekerk, conhecido como roteirista de comédias de sucesso e também responsável pelo script de outra animação da Nicklodeon, Jimmy Neutron: O Menino Gênio, Oedekerk dá a seu filme uma leveza interessante, e tudo discorre sem maiores problemas, mesmo que com nenhuma novidade em termos narrativos ou estilísticos. Pelo menos não é aborrecido, como animações recentes como O Bicho Vai Pegar.

O grande problema é que aconteceu uma explosão de produções computadorizadas – afinal, após o sucesso da Pixar, todo mundo quis tirar proveito. E a maioria dos projetos tem se revelado pouco imaginativos. O Segredo dos Animais é mais um que se encaixa nesse perfil. É engraçadinho, tem alguns bons momentos, mas no final tem-se a sensação de já ter visto tudo aquilo antes, e melhor. 

A primeira estranheza que o filme provoca é em relação à técnica de animação. Na contramão dos filmes do gênero, Oedekerk fez questão de um background muitíssimo bem trabalhado, cheio de detalhes e texturas, enquanto para os personagens usou linhas estilizadas e suaves, sem qualquer tipo de preocupação em pormenores. Como disse, é estranho a princípio, mas logo essa impressão passa. Duvidosas também algumas escolhas quanto ao desenvolvimento do roteiro: além de apresentar uma personagem adolescente grávida – sem maiores questionamentos – o filme também apresenta atitudes de Otis que não são lá muito recomendadas para crianças pequenas – até porque não há algum tipo de "redenção": Otis tem seu final feliz, claro, mas sem deixar de lado sua personalidade, digamos, extrovertida em excesso.

Sem personagens marcantes, o filme também incomoda por alguns diálogos longos demais, o que poderá cansar a criançada. Mas a trilha sonora cheia de canções divertidas é um ponto alto. O Segredo dos Animais é isso: um filme na média e nada mais que isso. Facilmente esquecível.

Uma coisa em relação ao filme é intrigante: nos créditos, Otis é creditado como "the cow", ou seja, "a vaca", mas é um personagem masculino (em inglês a palavra designada a boi é "ox"). Para reforçar essa estranheza, neste personagem há desenhadas tetas. Não consegui entender...