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Críticas

Cineplayers

Um trabalho de Copolla lotado de simbolismos. Uma pequena obra-prima sobre a falta de conteúdo da juventude.

9,0

Genialidade e poesia são marcas presentes num talento singularmente visionário e sensível de um mestre do cinema. Coppola faz neste filme uma análise sobre a falta de perspectivas na juventude pós Beat Generation. Juventude decadente que idealiza um passado que deixou de existir e de fazer sentido, restando apenas reminiscências sem valor humano.

Mickey Rourke interpreta um personagem mito que retorna à sua cidade, onde se fizera lenda urbana: o selvagem da motocicleta – um líder de gangue de rua cuja moto é seu turbinado e sanguinário trono, de onde comandava seu séqüito de jovens sem rumo e imersos em violência, sexo e drogas. Uma das razões que o fez exilar-se em busca de motivos e objetivos à sua existência. Rusty James (Matt Dillon) é o irmão caçula do motoqueiro que o tem como ídolo e um modelo de vida. James reivindica a insígnia de seu irmão, promovendo brigas entre gangues, crendo que a época das ruas voltará a existir, até o retorno da lenda.

O diretor usa o P & B, que sugere o daltonismo do motoqueiro (pretexto de significação) e passamos a ver como o personagem, que afirma perceber as coisas como uma TV em preto e branco com um som quase inaudível, logo, sua visão “sem cores” e sua audição reduzida o tornam introspectivo (Coppola sublinha aqui com um close com o fundo em foco nulo e som alterado, indicando isolamento subjetivo), vivendo um exílio interno.

A ausência de estímulos sedutores catalisa, portanto, uma percepção aguçada e existencialista da vida – uma abordagem do existencialismo sartriano e fenomenológico. Coppola ainda utiliza as cores em momentos chave sugerindo a identificação dos jovens de rua com os peixes beta – daí o título original do filme, Rumble Fish (peixe de briga).

Não por acaso, o selvagem da motocicleta se identifica com os peixes e decide libertá-los, simbolizando o desejo de jovens como ele em serem livres sem que a sociedade (representada pela autoridade policial) os enclausure em condição de engrenagens do consumismo. É válido destacar que o diretor justapõe um plano da cabeça de um lobo com a do policial na loja de animais – um predador em busca da presa.

Enfim, o motoqueiro é “eternizado” em uma emboscada, e Rusty James conclui a missão de seu irmão rejeitando seu próprio passado (quebrando a janela do carro que o refletia em cores) e se torna o novo motoqueiro existencial em liberdade. Indubitavelmente, o cineasta da semiose, uma vez mais criou poesia sobre um tempo de questionamentos e soube fazer como poucos uma obra repleta de significados duma época de intensidade e anarquia.

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