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Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, O

(Lord of the Rings: The Return of the King, The, 2003)
8,9
Média
1645 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um épico de fantasia que chegou para ratificar o status de "obra-prima" à trilogia de Peter Jackson.

10,0

O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei é a obra cinematográfica mais grandiosa já lançada nos cinemas, desde que Lumiére inventou a câmera e Griffith dirigiu seus primeiros filmes, entre eles O Nascimento de uma Nação e Intolerância. Algumas obras, durante a história do cinema, já chegaram perto do escopo deste final de trilogia do diretor Peter Jackson: Encouraçado Potemkin foi um filme grandioso em 1927; Os Dez Mandamentos e Ben-Hur, entre outros, elevaram o cinema a níveis épicos na década de 50... enfim, são filmes que contribuíram para fazer do cinema um lugar de espetáculo grandioso e inesquecível.

Em 2001, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel surpreendeu o estúdio New Line Cinema (e mesmo os fãs mais otimistas) ao superar todas as expectativas de crítica e público, faturando quase 900 milhões de dólares no mundo inteiro e sendo indicado a 13 Oscars. O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, um ano mais tarde, foi um sucesso ainda maior, tendo rendido ainda mais e sendo indicado para outros 6 Oscars (entre outros prêmios a que concorreu e venceu). O fechamento da trilogia era carta certa no baralho. Deve faturar mais do que os dois anteriores e ganhar mais prêmios do que eles também (e, quem sabe, o almejado Oscar de melhor filme e melhor diretor).

As expectativas para um filme só estiveram maiores, talvez, em 1999, quando Star Wars Episódio I - A Ameaça Fantasma, o primeiro da nova trilogia Star Wars, foi lançado. Corresponder a elas foi um trabalho árduo para o diretor Peter Jackson e toda a equipe do filme. Aliás, tais expectativas foram erguidas com a ajuda do próprio elenco, que sempre disse, já meses antes do lançamento, que esta terceira parte seria “melhor do que as duas anteriores juntas”. O diretor disse ter um carinho especial por esse terceiro episódio, tendo colocado muito mais energia e coração em seu desenvolvimento do que nos dois anteriores.

Bem, o que o diretor e o elenco achavam do filme, antes de todo mundo ter visto ele, já pouco importa. A pergunta que deve ser respondida é: afinal, O Retorno do Rei é o épico prometido e principalmente esperado? Após dois imensos sucessos, as chances dele NÃO ser eram pequenas, na verdade posso dizer que logo após a primeira sessão que vi de As Duas Torres, já sabia que O Retorno do Rei seria um filme esplendoroso. E, de fato, ele é! Mas não, ao contrário de Elijah Wood, não acho que este seja “melhor do que os dois filmes anteriores”. O Retorno do Rei é, pra dizer a verdade, o filme com o maior número de problemas de toda a trilogia, e a maior parte deles são recorrentes do roteiro.

Até um certo ano, no passado, todos no meio do cinema acreditavam que O Senhor dos Anéis era “infilmável”. Envolvia efeitos demais, problemas de logística imensos, e uma responsabilidade que ninguém queria para si. O Retorno do Rei – o livro – é também o mais complicado nesse sentido. É o que exige o maior número de efeitos especiais ao mesmo tempo em que obriga o diretor a ter a sensibilidade necessária para manter as emoções sofridas pelos personagens, no decorrer de suas jornadas, num nível alto, para fazer o espectador sofrê-las junto com eles. Resumindo, é um material complexo demais para um ser-humano comum poder transformar em filme com qualidade aceitável.

Toda essa exigência (“culpa” do escritor Tolkien) acabou, então, acarretando problemas de ritmo durante algumas partes do filme. Não é o mesmo problema encontrado em alguns pontos de Sociedade e As Duas Torres, quando o ritmo caía vertiginosamente, e sim problemas de irregularidade com o seguimento da história. O maior causador dessa sensação é, claro, a curta duração do filme. 200 minutos podem parecer muita coisa, mas o diretor deixou ainda uma parte da história de As Duas Torres para ser contada neste terceiro filme, roubando minutos preciosos de O Retorno do Rei. Uma versão que corrigisse esses problemas deveria ter pelo menos 30 minutos a mais, falando por baixo (a versão estendida certamente eliminará boa parte deles). Mas então, quais, especificamente falando, seriam esses problemas?

Meu maior problema foi em relação à resolução da grande batalha dos Campos de Pelennor (que é, só para deixar registrado, a melhor e maior cena de ação de todos os tempos da História do cinema). Sem entrar em detalhes que contem a resolução do enredo, posso dizer que situação inverte-se num ritmo muito rápido e duvidoso. Quem não tem como referencial o livro, pode achar toda essa resolução absurda e até mesmo tosca, no sentido de mal executada. O problema geográfico também mostra-se aparente: os personagens vão e vêm, de Minas Tirith para Osgiliath, de Rohan para Minas Tirith, de Osgiliath de volta para Mias, enfim, toda essa andança pode confundir o espectador. Novamente, as pessoas que não leram o livro (sempre elas) podem se sentir perdidas. Há outros problemas, mas eles são pormenores, e não vale a pena perder tempo com eles (só para dar um exemplo, o final após o clímax é um tanto longo – mas necessário para a história).

O caso é que esses problemas são microscópicos comparados à carga visual, emocional e à intensidade das cenas que estão presentes no filme na sua última hora (ou pelo menos até a hora do climax). Jackson consegue, aí sim, criar um ritmo alucinante, de tirar o fôlego, mostrando as diversas histórias paralelas com edição perfeita (ao contrário do problema ocorrido em As Duas Torres, onde a edição da batalha do Abismo de Helm ficou devendo, não por causa do diretor, mas sim pela própria estrutura dos livros, que não permitia que fosse diferente). O clímax vai chegando num crescente de emoções perfeitamente realizado, milimetricamente sincronizado pelo diretor, que extrapola os limites visuais de tudo o que já se viu no cinema até hoje. A cena do clímax (tanto a dos hobbits quanto a dos homens) é por si só uma obra de arte visual, sonora e emocional. Jackson merece todos os prêmios por isso.

E excetuando-se os momentos épicos, é nas pequenas coisas que O Retorno do Rei mostra-se magistral, também. Por exemplo, as piadas do anão Gimli praticamente desapareceram, o que é um ponto enorme a favor deste filme em relação ao anterior. Aliás, os papéis de Gimli e Legolas, bastante destacados no filme anterior, estão muito menores agora. Mesmo assim Peter Jackson conseguiu encaixar um momento “uau” para o elfo, na grande batalha dos Campos de Pelennor, onde ele faz acrobacias em cima de um imenso Olifante. É uma cena visualmente espetacular (que fez todo o cinema arder em palmas), tecnicamente bem executada, mesmo que obviamente falsa, e talvez desnecessária para o enredo.

Em termos de adaptação, a história contada no filme não é muito derivativa. Mas é o filme cuja versão estendida certamente mais acrescentará em relação à versão original quando a mesma for lançada. Foram inúmeros momentos (inclusive alguns deles estavam no trailer do filme) que acabaram ficando de fora da edição final. Tenho certeza que O Retorno do Rei – Edição Estendida será um filme MUITO MELHOR do que foi a versão teatral, mesmo que esta seja maravilhosa e funcione por si só. Os fãs mais ávidos, claro, têm muito o que reclamar, mas não é o caso deste fã que vos fala, que sabe distinguir perfeitamente a diferença entre a mídia impressa e a cinematográfica (esta é, obviamente, uma puxada de orelha para os mega-fanáticos que não aceitam uma mínima mudança em relação ao livro).

A trilha sonora é poderosa, sem dúvida a melhor de todos os três filmes. Novamente Howard Shore mostra-se impecável com novas melodias (o tema de Gondor é lindo de doer) e trilhas apropriadas para cada cena. Laracna, por exemplo, cuja cena seria magistral mesmo que fosse muda, ganha uma intensidade, uma tensão que faz o espectador ficar sem fôlego, devido à habilidade do diretor de filmar cenas como essa (Jackson é especialista em filmes “B”), mas também por causa da música de fundo. Sem perceber, o espectador é jogado numa corrente de enorme tensão, uma mistura de imagem e som que o faz se segurar na cadeira. Como é pra ser, a trilha sonora nunca se sobrepõe às imagens, apenas dá uma força tremenda para elas.

Assim como a história, a qualidade das interpretações adquire uma nova escala com O Retorno do Rei. Sean Astin, o Sam, é o melhor ator deste terceiro filme. É o que mais sofre, o que tem que suportar mais problemas, mais preconceitos e mais dificuldades. Gollum (ou Sméagol) é um personagem ainda mais complexo e amplo do que em As Duas Torres. Agora ele quer o anel a qualquer custo, e ele demonstra isso com uma raiva tamanha que é fácil esquecer que o que vemos na tela são apenas pixels computadorizados. Aragorn, Gandalf, Éowyn, Pippin, Merry, enfim, todos os personagens principais passam por uma gama enorme de emoções, e são sempre convincentes. Mesmo sendo uma fantasia, o filme é melhor interpretado que muitos dramas vencedores de Oscar.

Haveria ainda um bocado para falar em relação ao filme. Mas não acho necessário. A apreciação dos detalhes, que hoje já acontece com Sociedade do Anel e As Duas Torres, cada vez que revejo algum deles, acontecerá com o tempo. Diziam que este era um filme para derramar rios de lágrima, mas confesso que não chorei no momentos que obviamente foram criados para chorar, de intensidade dramática (os momentos de tristeza, desesperança – é um filme mais triste e negativista que alegre, o regente Denethor que o diga), mas chorei com a grandiosidade do filme, ao presenciar um sonho de anos, como cinéfilo, na minha frente. Ao final, em vez de encantado, extasiado, sem fôlego (isso ocorreu em um bocado de cenas DURANTE o filme), senti apenas um vazio. Mas esse vazio após a sessão é o melhor sinal de que amei a obra, por mais ilógico que isso pareça.

O Retorno do Rei é um filme com mais falhas do que os dois primeiros da Saga do Anel, mas é maior (aliás, é justamente por isso que as falhas existem), mais bonito e mais emocionante que eles ambos juntos, por isso pode ser considerado o melhor filme dos três, e por isso a nota e a etiqueta de “obra-prima” são merecidas. As falhas, pelo menos a maior parte delas, certamente serão aliviadas com a edição estendida, que será lançada daqui a um ano aproximadamente. Para finalizar, posso dizer, com toda a segurança, que O Senhor dos Anéis também é a mais impressionante trilogia já lançada no cinema. Os três filmes juntos – principalmente se vistos em suas edições estendias – são obras que ficarão no coração das pessoas por gerações e gerações de cinéfilos. Você deve se sentir privilegiado de poder ter acompanhado seu lançamento e vivenciado a história do cinema sendo escrita em mais um capítulo. Eu me sinto!

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