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Críticas

Cineplayers

Muitos anos e feridas

6,5

Existe coerência na obra que Affonso Uchoa vem construindo, e essa característica precisa ser celebrada em tempos de artistas dispersos. Se de A Vizinhança do Tigre para Arábia há uma evolução tão clara quanto necessária, criando um autor com a qual a expressão 'marginalidade' seja traduzida de todas as formas possíveis, nunca se restringindo ao óbvio dessa ou de qualquer outra questão, atravessando a pertinência por temas distintos, o olhar para Sete Anos em Maio é de atenção, porque seus signos e temas já previamente estabelecidos voltam a se fazer presente, dessa vez sem riscos e sem novidades.

O filme é um média-metragem (cerca de 40 minutos), e essa zona de duração costuma ser perigosa por não representar aceitação fácil em festivais ou circuito, mas uma das maiores qualidades do filme é não querer ser um longa, se aproveitando das benesses de contar sua história nesse espaço. O plano de abertura e a sequência seguinte não tem necessariamente algo de novo em concepção imagética ou proposta narrativa, na verdade essa é uma característica do filme quase como um todo, mas Uchoa consegue ultrapassar essa barreira de maneira elevada, graças ao seu talento como realizador. Se o Homem que invade a escuridão vem sendo super representado pelas imagens que o cinema brasileiro produz, o diretor encontra sua luz, seu tom, sua delicadeza para transpor essa progressão ao obscuro de maneira especial.

O jogo cênico seguinte mescla jogo e "realidade", ficção e representação ficcional, teatro e cinema, igualmente com resultados eficientes, reafirmando o jovem talento mineiro. A maior parte da duração desse novo filme se ocupa de um relato em primeira pessoa, olhos injetados, labaredas de fogo a criptar no rosto moreno de Rafael do Santos, acima de tudo um sobrevivente. Seu relato é o motivo primordial para assistir ao filme, e nos remete ao cinema de fabulação particular que Uchoa já experimentara em seus longas, câmera explicitamente a explorar cada expressão de Rafael, um homem constantemente partido que se rasga em busca de redenção. Como construção da matriz do cinema na arte de contar histórias, Sete Anos em Maio sai ileso de análise.

Já como apresentação e evolução das ferramentas de Uchoa, estamos diante de um produto que reafirma somente os predicados do realizador; o contador de histórias Rafael e sua laboriosa via crucis sai com o bônus que Affonso Uchoa nos deve, dessa vez. 

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