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Críticas

Cineplayers

Um antigo sucesso, uma nova geração.

1,0

Dos diálogos modernosos às referências visuais, é possível observar nesta adaptação de Os Smurfs (idem, 2011) uma urgência em adequar a obra original aos tempos atuais. A começar pela escalação do ídolo pop Kate Perry, que empresta sua voz na dublagem da personagem Smurfette, os responsáveis pela produção se valem de todos os meios possíveis para abater dois coelhos com uma única cajadada, visto que, diante dos chamarizes utilizados, dois públicos distintos serão atraídos para o cinema: os jovens e os nostálgicos. E é sobre essa intenção que a nova aventura das criaturinhas azuis é contada, numa mescla perigosa de saudosismo e contemporaneidade.
 
E essa promiscuidade na linguagem traz à tona a dificuldade de uma produção como essa agregar públicos diferentes, e, mais que isso, não se perder em meio aos seus paradoxos. Os problemas nesse aspecto já se anunciavam desde as cenas iniciais (ou melhor, desde que tomamos conhecimento de seu enredo), onde é criada uma situação incrivelmente oportunista para transportar os pequenos azuizinhos à cidade de Nova Iorque, sendo este o caminho por onde a história começa a desmoronar. Antes de estabelecer uma estrutura à trama, os roteiristas já começam a destruir gradualmente as possibilidades de se criar, ao menos, algo divertido (já que a união entre os dois universos se mostra totalmente fracassada) - ou que consiga, no mínimo, compensar o tempo que estamos gastando.
 
Essa pretensão em contentar ambas as plateias revela-se ainda mais inconsequente se observarmos que este é o tipo de filme que já nasce engatinhando. Só a ideia de transportar a famigerada obra de Peyo para as telonas certamente já traria às salas de exibição saudosistas e fãs por todo o mundo, visto o sucesso que tanto o desenho quanto o quadrinho obtiveram décadas atrás - logo, um projeto como esse poderia ser tudo, menos um tiro no escuro. Mas o medo de soar obsoleto impediu seus idealizadores de confiarem nos frutos que o filme seria capaz de render, apelando assim para uma estranha fusão de épocas, onde o humor oitentista - período de transmissão original do desenho animado - encontra a comédia dos dias atuais. E tal acoplagem rende cenas constrangedoras (em especial o momento no qual os Smurfs e seu acolhedor na cidade jogam, descontraidamente, Guitar Hero - ou também a Smurfette parodiando, através de um diálogo, uma famosa canção de sua dubladora), que denunciam, de imediato, a incompatibilidade do trabalho original com os dias de hoje.
 
Com certeza, seria mais feliz se focasse exclusivamente nos pequenos e em seu mundo encantado. Era uma maneira segura de satisfazer os nostálgicos e apresentar a esta nova geração um pouco daquilo que marcou toda uma época. Isso se concretizaria nas mãos de um diretor mais interessado nas possibilidades que seu material pode oferecer que simplesmente no retorno lucrativo que ela terá. Raja Gosnell, cineasta popular por “ressuscitar” antigos sucessos infantis e convertê-los ao fracasso, repete aqui exatamente o mesmo que fez com Scooby-Doo (idem, 2002) e Esqueceram de Mim 3 (Home Alone 3, 1997), ao descartar a importância sentimental da obra para os fãs em favor de uns trocados a mais em seu bolso.
 
O que fica claro é que Os Smurfs, com sua bagunça narrativa e seu mal uso da técnica CGI (basta perceber o quão desconfortável é a dinâmica entre os personagens gráficos com os atores e cenários), justifica o temor do público em ver clássicos antigos como esse ganharem  adaptações cinematográficas atualmente. Ou melhor, o filme legitima sim nosso medo em ver qualquer desenho querido da infância parar nas mãos de alguém como Raja Gosnell que, além de deturpar seus valores emocionais, certamente fará com que a obra acabe por penetrar erroneamente nas tendências de uma nova geração.
 
Ou você duvida que Tom e Jerry nas mãos dele acabem cantando Justin Bieber?

Comentários (3)

Bruno Kühl | quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011 - 01:36

Pelo jeito, todo mundo adorou o filme...

Gabriel | quarta-feira, 21 de Dezembro de 2011 - 02:20

CONCORDO EM GÊNERO, NÚMERO E GRAU!!

Rodrigo Barbosa | quinta-feira, 22 de Dezembro de 2011 - 18:46

Deuso-livre desse último parágrafo.

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