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Críticas

Cineplayers

Simpatia é quase... Nada.

3,5

De que adianta você organizar um projeto calcado no fino humor naturalista se não rolar uma preparação prévia, ensaios, um background entre os atores, uma sintonia? Cameron Crowe não acerta há muitos anos e chega aqui bem perto do fundo do poço, depois de estar no topo do mundo. Indicado ao Oscar por Jerry Maguire - A Grande Virada e Quase Famosos (vencendo pelo último), esse ex-crítico musical começou tão bem seu lado cineasta/roteirista e até o início dos anos 2000 ainda tinha o mundo (leia-se Hollywood) aos seus pés. Hoje, já não inspira mais confiança e esse seu novo projeto é um fracasso retumbante, de público principalmente. Como conseguir isso mesmo tendo como protagonistas o astro principal da maior bilheteria do ano passado e uma das líderes do último Oscar?

Fácil, deixe-os soltos... Demais. Com toda pinta de ter sido um projeto de entresafra para seus astros, tendo sido rodado numa brecha da agenda, Bradley Cooper e Emma Stone não conseguem criar nada, nenhum tipo de laço ou envolvimento emocional com as personas que deveriam construir. Entendam: não faltam talento e carisma aos jovens, mas eles parecem estar pouco à vontade e preguiçosos em grande parte do tempo, usando seus melhores sorrisos e gags pra justificar a química romântica que não nasceu entre seus personagens. Reitero que não consigo apontar culpa aos intérpretes; ninguém da produção notou isso durante as filmagens?

O resto do elenco parece não ter o que fazer, e pessoas como Bill Murray e Alec Baldwin de fato nada fazem, contribuindo para ressaltar os óbvios problemas do roteiro, inflado e com zero preocupação de aprofundar as questões políticas e econômicas envolvendo os protagonistas em sua terra, o Hawaii.

Ah, o Hawaii... Terra d'Os Descendentes de Alexander Payne. Essa insistência nesse exotismo tão específico não vai bem a Crowe (não que Os Descendentes seja grande coisa...), mas ao menos o filme coloca em cena uma meia dúzia de havaianos reais contracenando com nossos protagonistas lindos e loiros, num cuidado que não chegou a outros aspectos do filme. Não, não irei falar que Cooper e Stone não tem nem o branco dos olhos de havaianos, até porque se o filme tivesse muitos méritos ninguém falaria disso.

E quanto aos méritos, devemos mais uma vez ressaltar o quão excelente trilheiro nosso amigo Crowe é. Numa cena de festa onde Murray e Stone se acabam na pista desfilam hits de Tears for Fears e Daryl Hall & John Oats, no que deve ser a "melhor cena nada a ver com o resto do filme" do ano; se tem algo onde Crowe nunca erra é na soundtrack, e aqui não é diferente. Outro aspecto interessante é o fato da deficiência de Cooper (o personagem é manco) nunca "sair de cena", e ter uma função clara em pelo menos três momentos específicos.

Comédia romântica (mal) construída em cima de encontros e desencontros do passado com direito a revelações futuras, diálogos bobos quando não pobres e uma montagem confusa que parece reaproveitar material que tinha sido jogado fora, Sob o Mesmo Céu (cujo título em português é bem mais apropriado do que se supunha) angaria simpatia por cenas esparsas, como a já citada dança, mas que as "descompensa" com construções ruins de situação e personagens (alô, Rachel McAdams, que cria e perde dúvidas em 20 minutos!).

Pra não destruir o todo, Crowe criou um belo personagem no filme e colocou nele uma função que não consegue seguir. Se tivesse observado o piloto John Woodside defendido por John Krasinski, teria sacado que quando não sabemos o que dizer, dizer nada pode ser tudo. Encerrando o filme com uma linda cena que envolve Cooper num acerto com o passado igualmente sem diálogos, observamos Crowe ter maturidade para fazer um filme muito melhor, e jogar no lixo essas chances durante as duas horas anteriores.

Comentários (4)

Thiago Cotta | quinta-feira, 11 de Junho de 2015 - 11:45

Os Descendentes é grande coisa sim.

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 11 de Junho de 2015 - 13:29

Se Crowe é irregular, entregar um filme desses com Cooper na linha de frente é fazer a barba com moto-serra. Não que Cooper seja tão mal ator, mas sempre que foi bem (o Tio Clint mandou lembranças) foi porque o diretor soube como comandá-lo. Alguns atores são operários e precisam de um bom patrão para executarem seus trabalhos de maneira eficiente. Deixar Cooper solto e livre em cena é assinar atestado de falência. E isso não é demérito, apenas uma característica que não é exclusiva dele. Baldwin é esse tipo de ator e talvez Crowe não seja o diretor mais indicado pra lidar com esse tipo de elenco. Um ator com liberdade é uma coisa. Um bando de cobras criadas é outra bem diferente.

Raphael da Silveira Leite Miguel | quinta-feira, 11 de Junho de 2015 - 20:08

Putz, filme tapa-buraco na agenda dos atores? Negócio foi feio aí hein...

Tinha boas expectativas, mas como o Carbone disse, Crowe não faz nada bom há muito tempo (exceto o documentário do Pearl Jam), e tempo ele tinha... Talvez esteja investindo em outras áreas, outros projetos...

Renato Coelho | sábado, 22 de Agosto de 2015 - 22:45

Cara, o Cristian falou tudo velho.... "deixar cooper solto e livre em cena é assinar atestado de falência".... essa foi a melhor...

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