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Críticas

Cineplayers

Divertido, mas convencional demais.

5,0

A frase que estampa o cartaz de Sobrenatural (Insidious, 2010) é bem chamativa e, porque não, segura demais: dos criadores de Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007) e Jogos Mortais (Saw, 2004) – sem citar os nomes dos ‘criadores’. Quando o produto se torna mais chamativo que o artista, é um sério motivo para preocupação. Porém, Sobrenatural não é uma mistura de ambos, como alguns desavisados podem cair na armadilha da sugestão: parecendo muito mais o primeiro do que o segundo, o diretor James Wan (do Jogos Mortais original - o melhor da franquia) cria um filme com dois atos muito distintos, que diferem não só na construção e no desenvolvimento, mas também na qualidade.

A história é sobre uma família que vê sua tentativa de melhorar a rotina abalada quando um dos filhos do professor Josh (Patrick Wilson) e da pianista Renai Lambert (Rose Byrne) entra em um tipo de coma profundo, vítima de um acidente caseiro. Espíritos passam a assombrar a casa, perseguindo-os mesmo após a mudança de residência, tentando se apossar da mente enfraquecida do garoto. Quando especialistas são chamados ao local para tentar entender o que houve (pessoas perdidas no tempo, como os fantasmas; note as roupas e os cortes de cabelos setentistas), revira-se o passado do casal e se explica (até demais) para o público o que está rolando.

Não pense que Sobrenatural é uma cópia de Atividade Paranormal, porque não é. Deixando de lado o tom documental da coisa, o filme é narrado de maneira tradicional, bem ao estilo dos filmes de horror que lotaram os cinemas americanos da metade da década de 90 para cá, com todos seus excessos e convencionalidades. Além das explicações, há também erros de montagem, principalmente quando o filme sobrepõe planos atuais com alguns vistos anteriormente, apontando a lembrança de origem / destino, julgando o público incapaz de perceber por si só as rimas das imagens mostradas. Isto deixa o filme com um aspecto mais burro, teen em excesso.

A semelhança com Atividade Paranormal não está também no baixo orçamento ou atores desconhecidos, já que há bastante grana e Patrick Wilson e Rose Byrne estão em filmes bem mais famosos como Watchmen – O Filme (Watchmen, 2009), Esquadrão Classe A (The A-Team, 2010), Presságio (Knowing, 2009) ou o ainda inédito X-Men: First Class (idem, 2011). A aproximação com o fenômeno de Oren Peli está na sua essência do classic horror, do medo do desconhecido, do sobrenatural em nossa zona de conforto. É o climão da mansão mal-assombrada reutilizado. Nada original, é verdade, mas pelo menos há uma tentativa de dialogar com um assunto atual e ainda não tão explorado pelo cinema. Peca mais pela forma do que pelo conteúdo. Esqueça Jogos Mortais, pois o máximo que você encontrará parecido aqui é um desenho de Jigsaw na lousa do professor Josh Lambert. Nada de mortes, de sangue, de tortura, de sofrimento, de pseudo mensagem.

Sobrenatural é um conglomerado do gênero e de sustos, um atrás do outro, baseados em aparições, assombrações, mortos passeando pela casa, ruídos de passos aqui ou ali e sustos de som alto pontuando quando a platéia deve gritar – ou seja, você certamente já viu isso tudo antes, ainda mais se for fã de horror. Alguns vão realmente ficar incomodados, principalmente os mais impressionáveis e cagões (como eu), mas muitos outros acharão besteira e tudo muito ridículo, levando em conta a troca de narrativa no meio da produção, quando abandona o terror psicológico (mais eficiente) para assumir um tom mais exagerado, onde personagens aparecem do nada para ajudar a família e explicar para os personagens (e, consequentemente, para o público), sem necessidade, o que estava acontecendo. Os efeitos especiais tornam-se mais evidentes e prova a teoria de que o explícito assusta menos do que se deixar a imaginação do ser humano rolar – aí sim, o maior quarto do pânico que pode. Divertido é, mas não esconde a bagunça, os maneirismos e nem seus defeitos.

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