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Críticas

Cineplayers

Uma comédia de ação que não é ágil (sem ação decente) e não diverte (sem comédia decente). Fraco!

4,0

Mais um da recente safra dos gêneros comédia/ação (às vezes ainda somados com o gênero policial), Sou Espião é também mais um da recente safra de fracassos na carreira do ator Eddie Murphy, que vinha sendo amaldiçoado desde que Pluto Nash gerou um prejuízo enorme (mais ou menos 100 milhões de dólares) para a Warner em 2002. O problema é que Murphy já tinha feito um filme não muito diferente (mas que fez um pouco mais de sucesso) um pouco antes: Showtime. Se comparado com ele, em Sou Espião troca-se o "policial" pela "ação", ou seja, os "tiras" são trocados por agentes secretos ao pior estilo James Bond. O resultado é uma daquelas comédias que hoje existem aos montes, e que me farão mais uma vez repetir muita coisa já dita ultimamente: este é mais um filme com roteiro fraquíssimo, final horripilante (geralmente na tentativa de criar uma surpresa que faça o espectador voltar aos cinemas para uma segunda sessão), e piadas escassas no decorrer da projeção.

Murphy é um lutador de boxe arrogante, e Owen Wilson é um agente secreto que quer se tornar o melhor de sua corporação, mas que é sempre ofuscado pelo super agente latino Carlos (que aparece pouco no filme, não tem muita expressão, mas mesmo assim é o melhor personagem do filme). Aliás, Wilson é outro ator que vem repetindo o mesmo papel: o de comediante secundário em uma comédia. Já foi assim nos dois Bater ou Correr, ao lado de Jackie Chan e também pode-se dizer que foi assim em Zoolander, onde contracenava com Ben Stiller. O ator não é um comediante nato, é verdade, mas já merecia uma chance "solo" em Hollywood, fazendo comédia.

Voltando ao enredo, Murphy e Wilson devem se juntar para... você não vai acreditar: para salvar o mundo das mãos de um terrorista lunático, que ameaça vender, na Hungria, um avião a outros terroristas lunáticos, que será utilizado para detonar uma bomba em Washington. Os dois, claro, possuem personalidades bem distintas dentro do filme, e é no relacionamento deles e, em menor escala, no relacionamento de ambos com uma outra agente secreta (sempre há o triângulo amoroso), interpretada por Famke Janssen (que recentemente fez Jean Grey em X-Men 2), que o filme se apóia. Os personagens se ofendem, xingam, apanham, fogem dos bandidos, enfim, há um amontoado de cenas que estão lá para tentar entreter o espectador.

O problema é que, mesmo dentro de um gênero que admite liberdades em termos de realismo, dando ao roteirista a possibilidade de cometer exageros que podem ser perdoados, o filme possui passagens incrivelmente absurdas. A resolução final da missão dos agentes, perto do final do filme, é risível, e parece que foi escrita por uma criança de 10 anos, tamanho a quantidade de furos no roteiro. Tudo isso seria "perdoável" caso Sou Espião fosse engraçado, mas quase nunca é o caso. Eddie Murphy até que possui várias oportunidades para extravasar seu estilo carismático de comédia, com voz alta, muitas caretas, mas não é o suficiente para salvar o filme. Já Owen Wilson praticamente não tem nenhuma cena engraçada. A culpa não é nem do talento dos atores, que já provaram anteriormente (Murphy mais do que ninguém) que possuem carisma para fazer um filme do estilo, e sim do roteiro mesmo.

Os vilões têm pouco ou nenhum carisma, são apenas mais um entre inúmeros personagens que se tornam esquecíveis após o filme. As cenas de ação também não empolgam, bem pelo contrário, são entediantes ao extremo. Hoje em dia precisa-se esforçar muito mais para criar cenas de ação que realmente chamem a atenção, o que não é o caso aqui, novamente. O melhor do filme mesmo, além das poucas piadas, são algumas boas cenas que saem do relacionamento entre Murphy e Wilson, o que é o mínimo esperado de um roteiro do gênero com tais personagens, tão distintos em personalidade.

Não há quase nada mais a citar. O filme é tecnicamente bem feito, com boa fotografia, até porque é sempre bom conhecermos outros países que não os Estados Unidos nesse gênero de filme (no caso, como já foi comentado, a Hungria) e um aparato técnico decente. Mas o ritmo lento das cenas de ação, e irregular das cenas de comédia, fazem de Sou Espião um passatempo difícil de ser acompanhado. Se você ainda não tiver visto, e se quiser escolher entre este filme e Showtime, prefira o último. É mais divertido e a dupla é mais interessante (Murphy e Robert De Niro). Para os fãs de Murphy, pelo menos é animador o fato de que seu último filme, A Creche do Papai, colocou-o novamente na posição de sucesso, já que foi uma grande surpresa nas bilheterias este ano. Em relação a Sou Espião, porém, definitivamente eu não posso recomendá-lo.

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