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Críticas

Cineplayers

Conheça o melhor trabalho da carreira de Judi Dench, que o fará rir do início ao fim! Pena que a direção escorregue...

7,0

Nunca fui admirador do trabalho da Sra. Judi Dench. Que ela é uma atriz competentíssima, isso é inegável, mas seus papéis e sua postura austera (até mesmo em personagens mais sensíveis, como Iris Murdoch) me levavam a crer que lhe faltava versatilidade (digo isso me baseando no trabalho que ela realizou a partir da metade da década passada, que é o que basicamente conheço).

Dito isso, fui surpreendido com a Sra. Dench quando assisti a Sra. Henderson Apresenta, novo filme de Stephen Frears, baseado em uma história real. Nesse seu papel indicado ao Oscar, ela desconstrói sua persona cinematográfica ao entregar um trabalho simplesmente delicioso. E como é gostoso gargalhar com ela! Com uma energia contagiante e com um timing cômico perfeito, Dench entrega provavelmente o melhor trabalho de sua carreira, e só por ela já valeria a pena ver o filme.

Em 1937, Sra. Laura Henderson (Dench) acabou de se tornar viúva aos 69 anos de idade.  Rica senhora da sociedade londrina, acaba por ver sua vida se tornar enfadonha. Com a ajuda de sua melhor amiga, Lady Conway (a famosa atriz britânica de teatro e televisão Thelma Barlow, que finalmente estréia nos cinemas com mais de cinqüenta anos de carreira!), ela tenta encontrar um hobby: fazer rendas, caridades... mas sua personalidade esfuziante procura algo a mais.

Quando ela encontra um antigo cinema abandonado, tem uma idéia genial: reformar o lugar para transformá-lo teatro. Mas ela não tem a menor idéia de como administrar uma casa deste tipo, e acaba por contratar Vivian Van Damm (Bob Hoskins, também produtor executivo do longa, no melhor desempenho de um ator coadjuvante no ano passado), um profissional da área que está desempregado. A idéia inicial de Van Damm, em apresentar no lugar um inédito espetáculo de vaudeville ininterrupto é um sucesso, mas logo é copiado e a casa começa a ficar no vermelho.

Sra. Henderson então tem uma idéia genial, inspirada no Moulin Rouge parisiense: colocar garotas despidas no palco. O empecilho maior era o censor oficial londrino, o notoriamente pudico Lorde Cromer (Christopher Guest), que autoriza os espetáculos com uma condição: as meninas nuas no palco deveriam estar imóveis, como estátuas vivas. As apresentações viram um sucesso estrondoso, mas logo eclode a Segunda Guerra Mundial. Mas Sra. Henderson e Van Damm fazem de tudo para manter aquele lugar como um último refúgio de alegria.

O que há de melhor em Sra. Henderson Apresenta, além de seus notáveis atores, são os ágeis diálogos entre a velha senhora e seu administrador. Dench e Hoskins batalham verbalmente durante grande parte do filme, e as frases proferidas são de rolar de rir. Como não perder o fôlego ao ver a reação de Sra. Henderson ao flagrar Van Damm totalmente pelado (sim, Hoskins faz uma breve cena de nu frontal!)? Outro chamariz pro filme são, claro, as famosas rosas inglesas nuas no palco, com destaque para a bela Kelly Reilly (que está no elenco de Orgulho e Preconceito). Curiosamente, o filme também foi indicado ao Oscar de figurinos, em um filme que se trata basicamente da falta deles!

Há de se lamentar somente a direção do talentosíssimo Stephen Frears, que não foge do esquematismo e que deixa o fôlego do filme cair no ato final, quando entra a guerra na história. O patriotismo entra em cena – com a famigerada cena de discurso – e também o final choroso. O mau aproveitamento de alguns personagens secundários também incomoda – por que não nos presentear com mais uns minutinhos em cena de Thelma Barlow? As cenas dos espetáculos também não chamam muito a atenção.

Mas nenhum desses probleminhas ofusca o brilho do filme, muito menos o de Judi Dench! Que possamos ver essa grande atriz em atividade ainda por muitos e muitos anos. E, se possível, em mais papéis cômicos como esse!

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