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Críticas

Cineplayers

Foram 16 anos de espera e, mesmo se não é uma nova obra-prima, Episódio I é incrivelmente divertido.

8,0

Quase meia década depois do turbulento lançamento do filme que, sem a menor dúvida, já foi o mais aguardado na face da Terra, cá estou eu para falar sobre Star Wars Episódio I – A Ameaça Fantasma. Por 16 anos, milhões de fãs aguardaram ansiosamente o diretor George Lucas lançar o primeiro episódio de uma trilogia cuja história precederia a série de filmes mais adorada de todos os tempos, Guerra nas Estrelas. O nome em português já está perdido (já há algum tempo, em todos os países do mundo, por requisição do diretor, a série deve ser chamada por seu nome em inglês, Star Wars – é a força de um nome), mas será que a famosa magia encontrada nos filmes originais permanece em Episódio I?
 
Bem, essa pergunta tem, em minha modesta opinião, uma resposta bem simples: a magia está sim presente no filme, porém George Lucas cometeu alguns deslizes graves, e este episódio não se equivale a nenhum dos três lançados anteriormente. Vou ser sincero para com você, leitor: minha opinião sobre A Ameaça Fantasma já mudou três vezes desde que vi o filme nos cinemas, no dia de seu lançamento aqui no Brasil, 24 de junho de 1999. É fácil recordar dessa data, desse dia específico. Claro que eu não participei de todo o clima do lançamento dos filmes originais, afinal quando O Retorno de Jedi foi lançado, eu ainda estava de chupeta na boca.
 
Mas naquele longínquo ano de 1999, eu havia me deixado levar pela enorme expectativa em torno do filme, mesmo que a Internet ainda apenas começava a fazer parte de minha vida (e tenho certeza que muitos de vocês que lerão isso aqui ainda nunca tinham se conectado à rede). Durante dias antes do lançamento, já estava roendo as unhas. As notícias vindas do lançamento norte-americano (que acontecera em maio) eram em geral boas, o filme estava “arregaçando” nas bilheterias (embora não tivesse mais chances de ultrapassar Titanic, mas ainda assim é a maior bilheteria dos Estados Unidos desde que foi lançado – nem Homem-Aranha, nem Potter e nem O Senhor dos Anéis conseguiram encostar em Episódio I), e as críticas eram em geral positivas (embora hoje o filme seja facilmente reconhecido como o mais fraco da saga, no início parece que a maior parte das pessoas – inclusive eu, como verão a seguir – deixou-se levar pela expectativa e pelo antigo amor à série).
 
Bem, o que posso dizer? Saí da sessão totalmente satisfeito, até mesmo extasiado. Pronto! Estava aí meu novo filme preferido de todos os tempos (leve em consideração que naquela época eu costumava assistir a apenas 1/4 da quantidade de filmes que assisto hoje em dia, ou seja, era bem menos exigente). Tudo, absolutamente tudo me havia despertado alegria durante aquela sessão. Mesmo Jar Jar Binks, um dos personagens mais detestados da história do cinema. Claro que duas cenas – e isso ocorre até hoje – haviam-me encantado mais. Não foi possível não babar com a fantástica corrida de pods e com o majestoso duelo de sabres-de-luz no final do filme. E ainda tinha a batalha de Naboo e a excelente batalha de espaçonaves, também no final do filme. Àquela época, não havia sido lançado nenhum filme que chegasse perto de apresentar cenas tão visualmente impressionantes como aquela (mesmo Matrix, que fora lançado alguns meses antes, não era páreo, pelo menos era assim que eu enxergava as coisas até lá).
 
Pois bem, esta minha fase de adoração absoluta de Episódio I como melhor – e mais divertido – filme de todos os tempos durou um tempão. Meses e meses, talvez mais de um ano. A impressão ainda era a mesma quando o filme foi lançado em VHS (porque o DVD só chegou ao mercado em 2001). Mas, eventualmente, passando a conhecer melhor o cinema, e depois de ver o filme algumas vezes, percebi que Episódio I “não era tudo aquilo”. As falhas, que certamente os críticos profissionais perceberam logo de cara, tornavam-se muito evidentes para serem desconsideradas. Dessas falhas, falarei em breve.
 
Finalmente, hoje vejo o filme com muito carinho, e tornei a gostar bastante dele. As falhas ainda estão lá, e vão fazer parte do filme para sempre, manchando a trilogia “intocável” de milhões de fãs (e três anos mais tarde Episódio II voltaria a ser outro filme instável, mas isso é outra história). Porém não posso deixar de dar crédito, e um crédito enorme, diga-se de passagem, à visão de George Lucas, um homem que vem, mesmo em meio à tanto criticismo, levando pra frente um sonho interior de um tamanho que poucos podem imaginar – e aqui não vou falar de ganância, enganação, pois ainda acredito que, mesmo que a nova trilogia seja feita SIM, em parte, para vender produtos, os novos filmes sobretudo são a realização do sonho do diretor, de ver sua grande obra-prima original, a primeira trilogia, poder ser completada com a tecnologia moderna, algo que só foi possível de realizar após Lucas assistir ao filme de seu amigo, Spielberg, O Parque dos Dinossauros.
 
Foi somente vendo a evolução da tecnologia presente naquele filme de 1993 (e, claro, tem-se que dar crédito ao filme O Exterminador do Futuro 2, de 1992, por também apresentar modelos computadorizados incríveis) que Lucas teve seu desejo de fazer a nova trilogia reacendido. A partir dali, o diretor viu que a parte técnica não seria mais um problema, pois o filme poderia ser criado inteiramente conforme sua visão. A partir daí, o trabalho começou lento. Lucas nunca tinha escrito o roteiro dos Episódio I a III, apenas idealizado alguns pontos principais, segundo ele mesmo. Os seis anos que separaram O Parque dos Dinossauros do lançamento de seu filme foram árduos. Como muitos não sabem, Lucas ainda é um cineasta independente, e ele próprio, com a sua empresa Lucas Films, é quem deve financiar seus próprios filmes. A 20th Century Fox apenas os distribui. Sendo assim, todos os gastos devem ser ainda mais controlados, pois Lucas deve sempre se preocupar em ter dinheiro para financiar sua próxima obra.
 
E criar um filme como Episódio I exigiu muito de sua percepção financeira. Com o objetivo de baratear custos de edição, o filme foi fotografado quase que inteiramente com câmeras digitais, encurtando os custos de pós-produção. Episódio II, três anos mais tarde, foi o primeiro filme de grande escala a ser filmado TOTALMENTE com esse novo tipo de equipamento. Embora as câmeras digitais ainda (e destaco o “ainda”) não apresentem a mesma qualidade das antigas câmeras, o resultado foi satisfatório o bastante. Lucas então conseguiu manter um custo de produção excepcional (115 milhões de dólares), levando-se em conta o tamanho do filme. Os 115 milhões transformaram-se em 920 milhões no mundo todo, garantindo a existência dos Episódio II e III. Ainda hoje, Episódio I é uma das maiores bilheterias de todos os tempos.
 
Não foi só pelo uso de novo equipamento que Episódio I destacou-se tecnicamente. O filme foi o primeiro a apresentar um PERSONAGEM PRINCIPAL inteiramente gerado por computador. É Jar Jar Binks, logicamente. Independente de suas qualidades artísticas, Jar Jar foi a maior revolução técnica de Episódio I, que garantiu uma indicação na categoria de efeitos especiais no Oscar naquele ano. Acabou perdendo para Matrix e seu efeito “bullet-time” (belíssimo, porém inútil em termos de roteiro), mas em minha opinião a evolução apresentada por Episódio I foi muito mais importante. Os efeitos de Matrix apenas serviram para espalhar uma grande praga de filmes de ação “pseudos-bacanas” em Hollywood, praga essa que ainda hoje se alastra. Mas Lucas com seu filme mostrou que nenhum diretor precisava mais ter limites criativos: tudo o que a imaginação poder criar, os computadores também podem.
 
Mas claro, finalmente chegamos ao ponto de ter que falar da parte ruim de Episódio I. Creio que o roteiro e sinopse hoje sejam conhecidos demais para necessitarem de citações, então passemos adiante. Em 1983, O Retorno de Jedi, dizem os críticos daquela época, foi logo que lançado, assim como Episódio I em 1999, reconhecido como o pior filme da série. Hoje o filme, embora ainda seja considerado fraco em relação a Uma Nova Esperança e O Império Contra-Ataca, é bem melhor aceito. Creio que isso acontecerá, nem que seja em menor escala, com A Ameaça Fantasma no futuro. Quero dizer, as falhas sempre existirão, mas o nome e a importância do filme, mesmo que apenas em termos de diversão, serão elementos vistos como mais importantes do que as falhas. É pelo menos assim que eu já enxergo o filme neste exato momento. Por mais que as falhas venham à minha cabeça, é a cena da corrida de Pod, e o duelo final – aquelas duas cenas que me encantaram dia 24 de junho de 1999 – que teimam em persistir. E é aí novamente que a magia se sobressai aos problemas.
 
Ora, Episódio I tem alguns diálogos risíveis sim. O ator-mirim Jake Lloyd não atua, apenas parece ler suas falas (desde Episódio I, o moleque ainda não conseguiu mais nenhum papel importante no cinema). O filme, talvez justamente por mostrar a infância de Anakin Skywalker, assume deliberadamente uma postura infantilizada (algo que O Retorno de Jedi já havia feito em menor escala, com os Ewoks), o que, claro, ajudou na imensa bilheteria do filme – fato que o mais obscuro Episódio II não teve três anos depois, o que ajudou sua bilheteria a cair bastante em relação a Episódio I. Outra falha grave é a subutilização de um dos vilões visualmente mais bacanas da saga: Darth Maul. O personagem possui poucas falas durante o filme, e só serve mesmo como diversão visual, no incrível duelo final do filme.
 
Em termos de interpretações, os outros atores, como Liam Neeson, Ewan McGregor e Natalie Portman, estão muito bem, considerando o gênero, obviamente. Mas espere aí... diálogos risíveis? Bem, isso é típico da série desde 1977, não era para ser esperado outra coisa. Ah, claro, em relação às falhas de Episódio I faltou ainda citar Jar Jar Binks, o “ET” mais odiado do cinema, por muitos. Pessoalmente, eu não detesto o personagem, acho apenas bobo demais, feito principalmente (mas não somente) para agradar às crianças, com humor chulo e esquecível para quem tem mais de 12 anos de idade. Coisas assim tornam a história, que poderia ser épica, em pouco mais do que uma aventura bem movimentada e visualmente delirante. Voltando à trilogia original... era realmente muito diferente? Diferente sim... muito não!
 
Para acabar de “xingar” o filme, a escolha por super-saturar a película de efeitos especiais (algo que o diretor fez ainda mais três anos mais tarde em Episódio II) mostra-se hoje, quase cinco anos depois, uma decisão um tanto ruim. Por mais modernos que fossem os modelos computadorizados naquele ano, eles envelhecem. Se quando eu vi o filme pela primeira vez nos cinemas, fiquei fascinado com o realismo de Jar Jar Binks, hoje ele fica apenas um nível mais alto do que, por exemplo, os modelos dos filmes de animação da Pixar. Até que um modelo em computador seja o equivalente do que seria um “modelo” real (como o boneco Yoda, que em Episódio I fez sua última aparição como boneco, comandado magistralmente por Frank Oz), ele mostrará os sinais do tempo e desvalorizará, conseqüentemente, o aspecto visual do filme. Obviamente, Jar Jar não poderia ter sido feito de outra forma, mas alguns elementos do filme sim.
 
Outro ponto, mas desta vez a favor do filme, é a volta magistral de John Williams à trilha sonora da série. O músico não conseguiu repetir a performance que teve em 1977, mas ninguém mesmo esperava isso. Episódio I possui músicas originais inspiradíssimas, realmente lindas, de uma qualidade magistral. A ópera cantada sobre o duelo de sabres-de-luz do final é o momento mais emocionante do filme. Neste mesmo momento estou com ela na cabeça. Mesmo assim, quando o texto inicial introduzindo o filme aparece pela primeira vez, com o tema da série, sabe-se logo que esse é “O” momento especial do filme, em termos sonoros. Pra mim, ainda é a melhor música de toda a série e uma das melhores de todos os tempos no cinema.
 
À parte de pontos positivos ou negativos, o principal da série permanece em grande nível neste episódio: o fator diversão! A Ameaça Fantasma serviu para introduzir a história que terá seu clímax na batalha de Luke contra Darth Vader, láááááá no Episódio VI (segundo Lucas, Star Wars sempre foi sobre Anakin, sobre sua ascensão e queda, e Episódio I é muito bom ao mostrar, mesmo com um ator ruim, o início da vida desse personagem). Eu ainda espero ansioso pela maratona Star Wars que farei em 2005, assistindo em seqüência seis dos filmes mais “mágicos” de todos os tempos: A Ameaça Fantasma, O Ataque dos Clones, Episódio III (???), Uma Nova Esperança, O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Fica difícil se divertir mais com cinema do que com isso...

Comentários (2)

Alan Principe | segunda-feira, 29 de Abril de 2013 - 20:05

"mesmo que a nova trilogia seja feita SIM, em parte, para vender produtos, os novos filmes sobretudo são a realização do sonho do diretor, de ver sua grande obra-prima original, a primeira trilogia, poder ser completada com a tecnologia moderna"

E o que falar dessa nova situação?

Marcelo Queiroz | quinta-feira, 31 de Dezembro de 2015 - 14:36

Texto muito bom, sintético, valorizando a obra. Não concordo com a nota. Apesar de tudo, esse episódio passa longe de ser uma vergonha. É bem movimentado, aventuresco e prende a atenção em ALGUNS MOMENTOS. Certas atuações, bem ruins, prejudicam o todo, que engrena muito no terço final, com muita ação e efeitos de primeira pra época.

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