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Críticas

Cineplayers

Tempo de cacoetes.

3,0
Uma simpática abertura aludindo a propagandas americanas típicas dos anos 50/60 é o ponto de partida do novo longa do diretor George Clooney, que pela primeira vez fica totalmente de fora como ator de um projeto seu como autor. Não sabemos dizer se isso seria prova de maturidade, principalmente se levarmos em conta que ele vem decaindo como realizador, chegando aqui num ponto crítico, com um sinal vermelho piscando em sua direção. Nessa sexta produção um dos adjetivos mais elogiosos que poderíamos designar seria preguiçoso, tendo em vista que num sexto tiro alguma assinatura deveria ter adquirido. Depois da inexistente recepção ao seu filme anterior, o igualmente inexistente 'Caçadores de Obras-primas' - uma produção totalmente "Oscar bait", que é a expressão utilizada para designar produtos feitos com a única finalidade de concorrer/ganhar troféus - Clooney resolve replicar os Coens, achando que o roteiro dos mesmos e a experiência com eles o habilita a isso automaticamente. 

O filme nada mais é do que a adaptação desse roteiro nunca filmado dos Coen escrito nos anos 80, que Clooney e seu parceiro habitual Grant Heslov oxigenou sem muito sucesso. Sem perceber, um toque de Woody Allen também é alcançado no contexto familiar apresentado pelo projeto. O filme acompanha cinco membros de uma mesma família que acaba sendo sugada por uma espiral de violência dentro de sua própria casa e que deve conviver com essa onda sangrenta a assolar a América e sua inocência suburbana (alguém também pensou em Onde os Fracos Não Têm Vez?). Aos poucos cada um deles irá aprender a lidar com essa improvável questão, de maneira a se moldar dentro dela, mesmo que sua figura-chave seja o pequeno Nicky, vivido por Noah Jupe, que vê seu entorno piorar a cada novo ataque, mas sai moralmente fortalecido num projeto cuja característica é dizimar exatamente esse viés humano.

Com profissionais do gabarito do fotógrafo Robert Elswitt e do músico Alexander Desplat, ninguém deveria arriscar apostar contra esse festival de acertos em matéria de seleção de craques. Nesses momentos é que entendemos e percebemos a importância do trabalho de direção em um projeto. Clooney não consegue fazer nenhum desses aspectos em separado ter brilho ou mesmo criar uma unidade entre eles, ainda que possamos chamar de repetitivos seus esforços. A direção de arte de Denis Gassner também não torna esse projeto especial de alguma forma, restando a montagem a ingrata tarefa de gerar interesse através de seu ritmo: não acontece. Com um roteiro chupado em situações dos próprios Coens e com esse apelo técnico nada realçado, resta ao elenco tentar o milagre.

Pois bem, não há qualquer mínimo milagre. O único elemento refrescante desse grupo de atores já foi citado, o pequeno Noah Jupe, igualmente intenso e adorável em Extraordinário. Aqui ele corta um dobrado enfiando no bolso intérpretes do quilate de Matt Damon e Julianne Moore. O primeiro é o pai da família em questão, a segunda faz uma dupla de gêmeas, respectivamente mãe e tia da casa principal. Ambos estão presos numa redoma de vidro do clichê que seus respectivos personagens os aprisiona, na típica visão de mundo rasa que se faz desses dois atores, o homem à beira de um ataque de nervos e as mulheres que demonstram ter voz ainda mais ativa que seu cônjuge. Respondendo com exatidão a tudo que se espera deles, não há quase nenhuma expressão que seja de ambos com toque de brilho; a questão chega num ponto em que a excelência não importa, já que eles estão apenas repetindo tipos mais que conhecidos. Lá pelas tantas, Oscar Isaac aparece para duas únicas cenas e consegue algum charme, mas o pequeno Jupe consegue alcançar as notas altas que o filme mira em vão.

Ao observar um material típico do lugar do brilhantismo do cinema americano indie e sair sem nada da experiência, fica o caso de perceber que uma grife não é sinônimo de coisa alguma, mesmo que essa grife seja reproduzida pelos próprios responsáveis. No fim das contas é só essa marca "garantia de qualidade" que o filme novo de George Clooney teria a seu favor, e todos os esforços para moldar algo especial somente nos fazem lembrar do quão 'dentro da caixinha' possa estar vivendo mesmo o típico cinema dito de qualidade e de autor. Quando a única saída para uma grife é repetir cacoetes e utilizar os elencos mais óbvios dentro de um padrão (e criar nessa escolha os mesmos já citados cacoetes), resta ao projeto descansar dentro de sua mesmice e total ausência de sabor diferenciado. São os arquétipos do que se convencionou chamar de qualidade também caindo num poço de mediocridade e desimportância.

Comentários (1)

Walter Prado | quarta-feira, 23 de Maio de 2018 - 21:13

"A direção de arte de Denis Gassner"

A direção de arte é de James D. Bissell.

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