Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

Uma intensa crítica ao modo como os americanos se alimentam, no maior estilo Moore de fazer documentário.

8,0

A primeira impressão que temos ao assistir ‘Super Size Me’ é que realmente estamos presenciando uma mudança substancial e qualitativa nessa categoria do Oscar que muitas vezes, antigamente, passava batido por grande parte do público: os documentários. Durante a década de 80 e 90 muitas vezes os documentários exibidos tinham o intuito de relatar algumas situações peculiares e abrangentes como a situação precária de vida de alguns povos africanos, a vida em países árabes e até mesmo, recentemente, à vida em Nova York antes dos atentados de 11 de setembro.

Foi então que um homem, mundialmente conhecido, diga-se de passagem, mudou a forma de apresentação desses mesmos documentários com sua obra máxima ‘Tiros em Columbine’. Hoje, o mundo dos documentários é dividido em antes e depois de Michael Moore. Essas produções, antes consideradas passivas e expositivas, hoje deram lugar a películas de orçamento limitado mas com um poder arrebatador de cativar, influenciar e alavancar apoio para sua causa. E o diretor de ‘Super Size Me – A Dieta do Palhaço’, Morgan Spurlock, parece ter aprendido exatamente as lições passadas por Moore. Uma postura ofensiva e agressiva regada com muito humor negro ao redor de um ponto polêmico que engloba grande parte da sociedade gera resultados surpreendentes e positivos, além de manter o publico muito mais preso ás telas, ponto que muitas superproduções hollywoodianas atualmente deixam a desejar.

A dieta do palhaço foca-se encima de um problema tipicamente norte-americano: a massiva e crescente onda de obesidade que assola os Estados Unidos. Ao longo dos 100 minutos de projeção você vai encontrar de tudo um pouco na obra de Spurlock. Na maior parte desse tempo de vemos o diretor procurando por respostas a cerca do problema. Morgan, defendendo sua tese, afirma que os maiores culpados para tal problema são as próprias indústrias alimentícias de seu país que criam mecanismos para ludibriar e viciar, diretamente ou indiretamente, as crianças de todo o mundo a serem consumidores fiéis, pro restante de suas vidas, de seus produtos. É evidente que, apesar do assunto ter abrangência incalculável, o diretor prefere apontar todas as suas armas para o maior representante do comércio fast food do mundo, o McDonald’s.

Diferentemente de Michael Moore, Spurlock tenta concentrar seus esforços para tentar achar uma possível causa para o problema, ao invés de simplesmente começar a atirar para todos os lados. Entretanto, ambos também apresentam erros comuns, como divagar demais sobre as causas e/ou conseqüências sem lembrarem, também, de apresentarem soluções para esses mesmos problemas, deixando escapar a oportunidade de tornar a obra um pouco mais politicamente correta. Mas como grande parte dos diretores que descendem dessa escola a la Moore de fazer documentários não possuem muita ligação com o politicamente correto, esse ponto acabou por ficar excluído de ‘Super Size Me’. Contudo, adotando mais uma técnica “Mooriana”, Morgan supera esse defeito com outras duas qualidades. A primeira delas é o tom ofensivo com que entrevista altos dirigentes das empresas com a utilização de uma pitada de humor negro. Chamo atenção, aqui, para a ótima e extremamente bem conduzida entrevista em que um executivo de alto escalão acaba por perder o emprego.

A segunda qualidade é também um dos aspectos mais importantes do filme e que, desde a fase de pré-produção, era um dos principais focos do filme. O diretor gostaria de provar que se comesse apenas fast food por 1 mês inteiro estaria pondo seriamente sua vida em risco, após uma decisão judicial de uma corte norte-americana ter afirmado que não poderia dar ganho de causa aos apelantes por não ter constatado que a ingestão desse tipo de comida durante um período de tempo consecutivo possa fazer mal ao organismo humano.

E é ai que se tem início, pelas mãos do próprio diretor, o espetáculo da auto-flagelação.

Em sua busca por debates em relação a obesidade, Spurlock ainda toca em alguns pontos interessantes como a distribuição de alimentos nas escolas norte-americanas. Apesar disso não soar familiar à maior parte dos estudantes brasileiros, nos Estados Unidos é comum os alunos almoçarem em suas próprias escolas. Apesar de ter lá seus defeitos e uma pequena queda de ritmo durante algumas passagens, Super Size Me – A Dieta do Palhaço consegue manter seu principal objetivo: alertar, informar e deixar o McDonalds em maus lençóis (não, não estou brincando). Que comer fast food faz mal, isso todo mundo sabe; o que o filme tenta passar são as conseqüências físicas desse ato e uma feroz oposição a forma de marketing e comercialização dessas redes de fast food. Tendo dito isso, basta relaxar e curtir o introvertido jeito de ser de Morgan Spurlock.

Comentários (0)

Faça login para comentar.