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Críticas

Cineplayers

Tartarugas Ninjas padrão Michael Bay.

5,0

Quando eu era mais novo, passava horas na locadora escolhendo filmes. Era uma espécie de segunda casa, onde me sentia realmente confortável. Não raro, alugava o mesmo VHS várias vezes – criança tem essa mania boa de assistir ao mesmo filme sem cansar. E sempre havia a correria para rebobinar a fita no dia da entrega. Não que fosse o meu maior objeto de fissura ou algo assim, mas eu adorava locar as obras da franquia das Tartarugas Ninjas. Se eu tinha outra forma de contato com os personagens, honestamente, não me lembro. Nem precisava: gostava mesmo era dos filmes. Achava o máximo, especialmente o Michelangelo – talvez por me identificar com toda a sua alopração. Nunca esquecerei, contudo, do dia em que aluguei o único título que não havia visto da franquia e, na metade da projeção, a fita relevou-se estragada. Foi um arraso. Lembro-me apenas de uma cena em uma piscina – talvez ela sequer exista, exceto na minha cabeça.

Honestamente, não sei dizer se por trauma ou algo do tipo, os anos se passaram e ainda não sei de qual das sequências das Tartarugas Ninjas se tratava. Pode ser que o charme viesse a acabar se eu descobrisse. Essa repaginação moderna de As Tartarugas Ninjas, dirigida por Jonathan Liebesman (ou o espectro de Michael Bay), poderia ser o filme que eu não conferi na infância, dele esperando, de coração aberto, o melhor. Infelizmente, não é. Ao contrário: distante daquela inocência oitentista, onde não eram necessárias tramas mirabolantes para divertir, há a corrupção pelo espírito frenético da escola Michael Bay de cinema.

Seria injusto equiparar o nível de esquizofrenia da montagem de As Tartarugas Ninjas (Teenage Mutant Ninja Turtles, 2014) ao de qualquer produção realmente dirigida por Michael Bay, de fato. Embora os cortes ocorram com uma frequência considerável, Jonathan Liebesman abre um espaço, por vezes, para a ação se desenrolar de maneira fluida e sem interrupções constantes. Nesse sentido, bate aquela nostalgia com Mestre Splinter a lutar ou todo o senso de irmandade das tartarugas, o que acaba rendendo boas sequências de batalha. Não obstante, o humor recorrente resulta anticlimático. Várias piadas do filme funcionam, mas a necessidade constante de ser cômico incomoda. E confunde-se, mais de uma vez, o que é engraçado para os personagens e o que pode ser engraçado para o público. Desculpe-me, mas exige-se muito talento para fazer boas piadas de peido atualmente.

Uma jornalista obstinada (Megan Fox) cujo emprego não corresponde aos seus anseios ideológicos, entra de cabeça ao se deparar com um possível furo, sendo desacreditada para depois dar a volta por cima, tendo sua vida abalada pelo seu encontro com as Tartarugas Ninjas. Ser esse fiapo de trama um clichê passa longe de ser o maior problema do filme. O espaço para qualquer desenvolvimento de um possível drama cede lugar à ação desenfreada. Fica muito patente essa posição quando, na primeira oportunidade, utiliza-se um momento dramaticamente forte como mero trampolim para a ação. Não há tempo para qualquer contemplação das consequências emocionais nos personagens, como se não existissem além da função de servir de acontecimento para o desenrolar da pancadaria.

Quando o drama parece progredir, acaba deturpado por uma ânsia de explicação. E dá-lhe longas sequências puramente didáticas, em que uma pergunta ou um personagem aparece com o único intuito de esclarecer a situação, contar algo do passado, a origem dos personagens e coisas do gênero. Parte considerável desse tempo se destina a traçar as conexões mais absurdas entre os personagens, no intento de tornar a trama a mais intrincada e elaborada possível. Ocorre, evidentemente, o completo oposto – e toda a força empregada nessa elaboração de coincidências revela sua fragilidade.

Considero sempre a possibilidade de eu ser um saudosista em relação aos filmes anteriores da série. E tenho medo de conferir hoje, com uma visão diferente, qualquer uma das versões das Tartarugas Ninjas dos anos 80. Podem ser, de fato, produções de qualidade duvidosa. Quem sabe as crianças contemporâneas (ou simplesmente possíveis consumidores de subprodutos) não adorem esta versão moderna das tartarugas mutantes, adolescentes, ninjas e fãs de pizza? Dito isso, permito-me certo saudosismo em preservar intacta a memória do filme a que nunca assisti.

Comentários (13)

Samuel Otávio | quarta-feira, 20 de Agosto de 2014 - 10:30

Tanta coisa interessante pra Hollywood filmar e me aparece um filme sobre as tartarugas ninjas... é pra acabar com o pequi de goiás....

Danilo Itonaga | quarta-feira, 20 de Agosto de 2014 - 12:02

Para dançar isso aqui é (Bomba)

Cristian Oliveira Bruno | quarta-feira, 27 de Agosto de 2014 - 21:12

Assisti ontem. Cara, é um legítimo Bay/Liebesman. Tudo rápido, cortes frenéticos, gostosa inútil, piadas fracas (algumas se salvam, realmente), tudo explode, coisas caem, o filme acaba, o filme recomeça, uma cena pós-crédito inútil mas engraçada, e um dia depois já nem lembramos direito do filme.

Karlos Fragoso | segunda-feira, 06 de Julho de 2015 - 09:29

Achei muito ruim, bem estilo Transformers.

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