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Críticas

Cineplayers

No papel, era engraçado.

5,0
Nova fanfarronice da temporada, Te Peguei! é um filme inusitado baseado em uma inacreditável história verdadeira: segundo relatado no Wall Street Journal 10 amigos nascidos em Spokane, Washington conseguiram manter uma conexão ao longo da vida brincando do famoso “pic pega”. À medida que envelheciam, o jogo ficou restrito ao mês de fevereiro, com maneiras cada vez mais elaboradas de passar o cargo de perseguidor aos fugitivos, como viajar sem avisar e brotar de trás de veículos, disfarçar-se de mascotes de torcida ou irromper em eventos sociais para continuar a inacreditável saga.

Em matéria de filme, o que temos é uma reunião estrelar em ritmo de pura despretensão, contando com Ed Helms (Se Beber, Não Case) Jon Hamm (Mad Men), Jeremy Renner (Os Vingadores), o comediante stand-up Hannibal Buress, Isla Fisher (Arrested Development) e Rashida Jones (Parks and Recreation) em uma ode à meia idade que, curiosamente, dedica-se bem mais a uma dramédia de “bromance” (brother + romance, amor afetivo e não sexual entre amigos do mesmo sexo) passada na meia idade que na loucura de jogar o mesmo jogo por tanto tempo. Em uma primeira olhada, é meio notório que nem todos os atores são especialmente aptos à comédia, o que causa uma química estranha e artificial com os que o são.

O filme de estreia nos cinemas do até então diretor de TV Jeff Tomsic tem sim certa quantidade de elaboradas set-pieces dedicadas exclusivamente à tentativa de amigos contrastantes (um executivo bem-sucedido, um pacato homem de classe-média, um desempregado que vive de fumar maconha) em conseguir pegar Jerry Pierce, que, em décadas de disputa, jamais perdeu o jogo. 

O retorno à Spokane também reacende o triângulo amoroso entre dois deles e uma antiga paixão, o que dá uma cor a mais para os personagens e escapa de enxergá-los da maneira habitualmente sugerida no filme - uma orgulhosa síndrome de Peter Pan que é o grande mote do filme no final das contas.

O problema é o equilíbrio necessário em uma comédia entre o riso e o desenvolvimento de personagens e, nesse sentido, Te Peguei! é um filme de raras risadas, onde comédia verbal de tiradas predomina sobre o senso paródico de ação e o que temos são os homens constantemente reclamando que não conseguem pegar Jerry de jeito nenhum, como a vida deles gira em torno disso, como o que era divertido começou a se tornar obsessivo. A comédia amalucada é logo trocada por uma certa “dramédia” carregada, especialmente em seu final, querendo ter tanto “coração” quanto zoeira e problematicamente tratando isso como universos à parte.

E curioso que, mesmo tão dedicado ao desenvolvimento de seus personagens, também evidencia o clima de “clube do bolinha” ao não dar um desenvolvimento satisfatório para nenhuma de suas personagens femininas - a menina que começou o triângulo amoroso vira o estereótipo da mulher sexy, charmosa e inalcançável, a esposa que é proibida de jogar por ser competitiva e agressiva demais é pouco aproveitada na sua “piração” e a jornalista do Wall Street Journal, que descobriu a história, é mero penduricalho narrativo, que permanece do início ao fim do filme mas raramente é lembrada, raramente tem falas, poucas vezes reage e por muitas vezes simplesmente desaparece da narrativa.

Máquina de industrializar tudo e transformar as mais bizarras, loucas e fantásticas histórias em um grande pastiche cíclico, Hollywood é em parte culpada do que acontece em Te Peguei!, seguindo a cartilha religiosa de protagonistas com arcos grandes, dramas individuais (ainda que genéricos), soluções repentinas e diálogos preguiçosamente dirigido. Onde está o abuso plástico de câmera lenta, troca de lentes, manobras físicas impossíveis e afins? Completamente diluído em um filme que poderia ser uma versão crescida de Superbad - É Hoje ou um spin-off de Se Beber Não Case, sem a mesma excelência dos dois, e apegando-se a um conceito que acabou mais engraçado no papel do que na execução propriamente dita.

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