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Críticas

Cineplayers

Um terror psicológico chinês com tudo necessário para gelar a sua espinha.

7,5

A indústria cinematográfica chinesa, aparentemente, tem oferecido bons filmes ao mercado, com competente edição de imagens, boa seleção de atores e ótimas direções, o que se exemplifica em The Eye - A Herança, terror psicológico dirigido pelos irmãos Pang.

Wong Kar Mun (interpretada pela bela Angelica Lee) é uma jovem chinesa levemente diferente da maioria: ela é cega desde os dois anos de idade. Acostumada ao breu que sempre impregnou sua vida como deficiente visual, ela decide fazer um transplante de córneas, para voltar a enxergar e, conseqüentemente, tornar-se mais independente. Entretanto, ela percebe que voltar a ver o mundo como ele realmente é, pode não ser tão animador.

A cirurgia ocorre tranqüilamente, mas Mun deve passar por um período de adaptações antes de deixar o hospital. Neste ínterim, ela conhece Yingying (papel da convincente Yut Lai So), uma menina acometida de um trágico tumor no cérebro. Mesmo sabendo que pouco tempo de vida lhe resta, a garota mostra-se esperançosa e promete mostrar o belo mundo exterior a Mun, sua nova amiga, assim que as duas estiverem em condições para isso.

Em pouco tempo, Mun percebe coisas estranhas à sua volta. Ainda não completamente adaptada à visão, ela enxerga formas e vultos que definitivamente não deveriam estar onde estão. Ela chega a conclusão, logo depois, de que o problema reside nas córneas, e parte em busca do doador, ainda que burlando a ética da medicina.

Não existe em The Eye nenhuma atuação inteiramente marcante. O destaque fica mesmo para Angelica Lee que, no papel de Mun, deixa claro ao espectador seu sofrimento enquanto tenta se adaptar à nova vida e às visões que lhe perturbam. O resto do elenco, embora pouco marcante, realiza seu trabalho com respeitável competência. Nele, sobressaem-se Yut Lai So (a menina Yingying) e Lawrence Chou (Dr. Wah), a primeira por ser uma criança e lidar com um papel relativamente difícil, e o segundo por acompanhar fielmente a protagonista durante boa parte do filme.

Os irmãos Pang, diretores da película, merecem um elogio à parte. Donos de uma idéia inusitada para compor a trama e de outras inúmeras idéias originais para compor os momentos de sustos, eles definitivamente sabem como criar tensão e modelá-la para fazê-la ajustar-se às mais diversas situações. Existe a tensão rápida, concretizada em sustos, e a prolongada, presente em momentos mais complexos e incomuns. Como se isso não bastasse, os diretores acertam em inúmeras escolhas, no que diz respeito ao modo como a trama é conduzida - alguns erros, porém, deixam-se transparecer em momentos arrastados demais, que certamente poderiam ser encurtados para deixar o filme mais ágil.

A produção técnica de The Eye é, de fato, deslumbrante. Os efeitos sonoros e visuais fazem enorme diferença num filme deste gênero, e a película dos irmãos Pang dá uma aula de produção impecável. A fotografia é bem-feita, aplicando ao filme um ar moderno e recente. Os efeitos visuais são incríveis. Em seu estágio de adaptação, a visão de Mun é um borrão ininteligível, uma mistura de formas e cores que deixa o espectador esperando por qualquer tipo de aparição assustadora. Além disso, os fantasmas que aparecem quando a visão de Mun já está boa apresentam características bizarras, como ausência de membros ou rostos mutilados. Existem também outros tipos de efeitos visuais, como as cenas em preto e branco para representar imagens do passado e um jogo de cenas rápidas que se refere a momentos futuros.
 
E, para acompanhar os momentos mais assustadores, nada como bons efeitos sonoros. Elaborado pelo diretor Oxide Pang, o som de The Eye é basicamente composto por barulhos altos e distorções sonoras, que funcionam perfeitamente nas cenas tensas e são fundamentais em suas ocorrências. O filme ainda conta com belas composições musicais, para os momentos mais calmos e felizes.

Com uma trama que lembra bastante a de O Sexto Sentido e com um final inesperado, The Eye - A Herança é a escolha certa para quem quer ver um filme intrigante e bem trabalhado, sem precisar recorrer às opções de sempre. Os estúdios do astro americano Tom Cruise inclusive mostraram interesse em refilmar a película. Neste jogo incessante de refilmagens norte-americanas para filmes orientais criativos, é o espectador que certamente tem tudo a ganhar.

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