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Críticas

Cineplayers

Um desfile de clichês e lugares comuns - a escatologia toma conta de mais uma comédia norte-americana.

4,0

O roteirista e diretor Bart Freundlich deve ter ficado feliz: seu quarto filme, Totalmente Apaixonados (Trust the Man, 2005) é um triunfo de elenco: Julianne Moore, Maggie Gyllenhaal, Billy Crudup, David Duchovny e Eva Mendes. Trata-se de uma comédia passada em Nova York sobre dois casais (Julianne-Duchovny/ Maggie-Crudup) que estão com problemas no relacionamento. Há muitas piadas sobre a guerra dos sexos, brigas, discussões, trapalhadas, desencontros... até que tudo acaba em casamento e gravidez. Sim, é um horror, o clichê do clichê; quem for ver o filme deve se dar por satisfeito de dar uma ou no máximo duas risadas amarelas. O resto é puro constrangimento. 

O filme começa com flatulência e fezes. O filho do casal não consegue fazer cocô e o pai o aconselha, da mesa do café da manhã, a arrotar em vez de defecar, pois o efeito seria tão eficiente quanto. Enquanto isso, Tobey (Billy Crudup) despede-se de sua namorada de sete anos Elaine (Gyllenhaal) com um sonoro peido – isso depois de se recusar a dar carona a ela em seu xodó, um carro caindo aos pedaços que será guinchado várias vezes ao longo do filme. A escatologia vai continuar até o fim do filme: vômitos, espirros, engasgos, simulação de sexo anal, etc. Só de líquidos derramados nos outros são três cenas, fora as cuspidas. É um filme que, não sabendo dizer as sutilezas da vida a dois, resolveu apelar para a grosseria.

Nunca funciona. Julianne é uma atriz de sucesso que não consegue fazer sexo com o marido (Duchovny), um publicitário desempregado, perdido na vida, em tese priápico, que passa o dia inteiro se masturbando, vasculhando pornografia na internet, vendo filmes pornôs, comprando revistas pornôs – até que tem um caso. O outro casal é assombrado pela imaturidade dele: ela quer casar e ter filhos, ele nem sequer cogita a hipótese de isso acontecer. Então ela arranja um caso com um imigrante, que não fala inglês direito, tem um pau enorme e é ilegal nos EUA.

O porquê de Julianne Moore estar no filme é fácil explicar: ela e o diretor são casados desde 2002, quando Julianne estrelou o primeiro (O Mito das Digitais, 1997) e o segundo (World Traveler, 2001) longa dele. Casaram-se no ano seguinte e têm dois filhos. Ótima atriz em papéis dramáticos, Julianne não se saiu bem nessa sua segunda tentativa de fazer comédia – a primeira foi ao lado de Pierce Brosnan em Leis da Atração (Laws of Attraction, 2004), com resultados também pouco animadores. Melhor esperar pela atuação de Julianne em Savage Grace, apresentado no último Festival de Cannes, em que a atriz faz uma mãe incestuosa. Ou mesmo o papel que ela desempenhará em Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles. Ela será a mulher do médico, a única não afetada pela epidemia de cegueira.

Não só Julianne, mas o elenco todo não se acha no filme – Duchovny, coitado, o menos talentoso deles, limita-se a fazer cara de bobo o tempo todo. A idéia principal defendida é que os homens são infantis e imaturos bobalhões incapazes de compreender ou satisfazer suas amadas inseguras e histéricas. Ninguém se entende. Culpa de quem? Segundo a personagem Elaine, da recusa de todos em aceitar novas formas de relacionamento que não seja a tradicional, muito simples, que não resiste mais hoje em dia ao ritmo da vida moderna, onde falta romantismo e sobram sarcasmo, individualismo e egocentrismo.

É fácil concordar com a premissa, como é fácil concordar com tudo o mais no filme, um desfile de lugares comuns. Séries como Sex and the City foram mais fundo que esse pálido filme, que deve ficar no máximo duas semanas em cartaz, pulando em um par de meses para o DVD, o formato ideal para esse tipo de divertimento fugaz e estúpido, produzido aos montes hoje em dia, que em tese deve fazer a alegria do grande público.

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