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Críticas

Cineplayers

Rindo de Hollywood, seus exageros e suas futilidades, filme é ótima comédia, especialmente para quem é conhecedor do cinema.

7,0

Dirigida por Ben Stiller, Trovão Tropical é uma das ótimas comédias do ano, feita pensando com carinho no público que realmente gosta de cinema. Ela conta com várias referências a filmes e é basicamente sobre a indústria do cinema. Afora isso, é ainda um filme bastante engraçado, desde que você suporte humor grosseiro e parcialmente ofensivo para algumas minorias. Seu elenco inclui estrelas como Robert Downey Jr., em alta na carreira após Homem de Ferro; Jack Black, fazendo papel de gordo; Tom Cruise, de visual originalíssimo sem parte de seu cabelo; Nick Nolte, como um militar da Guerra do Vietnã; Matthew McConaughey, como o empresário que está prestes a deixar seus escrúpulos de lado; e, claro, o próprio Stiller.

O que surpreende logo de cara é o ritmo incessante que Stiller – o diretor – dá ao longa, apresentando seus personagens em uma cena de ação divertidíssima – uma grande brincadeira sobre as produções de guerra de Hollywood. E o filme é bem isso: uma grande piada sobre Hollywood (que gosta de rir de si mesma) e seus atores cheios de frescuras. Stiller sabe como o público os vê e utiliza essa visão para criar cenas bem elaboradas, de diálogos ágeis e bem ritmados. Mesmo que o estereótipo do “ator fútil” seja utilizado à exaustão, dificilmente as piadas não são inspiradas. Mas, como foi dito, é um filme que vai ser bem melhor aproveitado por quem ama o cinema, por quem gosta de sua história e não apenas por quem gosta de “assistir a filmes” descompromissadamente.

Esse não é o primeiro esforço de Stiller na direção. Antes disso, ele havia feito os fracos O Pentelho e Zoolander (o pior deles). Agora a história é outra. O momento para a comédia adulta está ótimo em Hollywood, graças, principalmente, ao diretor e produtor Judd Apatow, que ressuscitou a “baixaria de classe” e trouxe ao mundo sucessos de crítica e bilheteria como O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos. Trovão Tropical tem um pouco desse espírito boca-suja e anárquico, além de não ser nada bonito visualmente – cenários sujos, montagem confusa, metalinguagem (cuja definição formal é: “linguagem utilizada para falar sobre outras linguagens”), que geralmente embaralha a cabeça do espectador, exigindo um pouco a mais de seu cérebro, entre outros elementos.

Se o filme tem problemas é no fato de não saber quando utilizar o freio. Perto do ápice, sua sujeira vira uma  bagunça generalizada e somos presenteados com explosões, tiroteios, atos heróicos e inimigos estúpidos sem fim. Então, tentando rir de todos esses elementos que identificam o exagero do cinema de Hollywood, Stiller acaba utilizando deles para prender seu público. Não da forma irônica e engraçada como na já comentada cena inicial, mas sim como uma necessidade forçada de mostrar ação – talvez na insegurança de que o filme não conseguiria ser melhor sucedido se tivesse permanecido apenas na sátira. Ainda assim, os diálogos interessantes e as boas situações visuais acabam salvando o trabalho de se tornar apenas mais um entre tantas comédias de ação. Trovão Tropical certamente é muito mais do que isso.

Entre erros e acertos, esta aqui é uma ótima comédia. Filmes onde os atores riem de si mesmos são perigosos porque muitas vezes a piada é apenas interna, ou seja, só é engraçada para que faz parte do ramo, e o espectador assiste àquilo desinteressado. Aqui, há ótimos motivos para rirmos também, já que o filme divide suas risadas com o seu público (como na divertida dancinha estúpida que Tom Cruise faz nos créditos finais). Há pelo menos um par de cenas impagáveis (com destaque para a explosão de determinado personagem – inesperada e com algo de chocante) e outros tantos ótimos diálogos. A única lamentação é a de que, para aproveitar plenamente a mensagem e esses mesmos diálogos, o espectador terá que ser um conhecedor pelo menos mediano de cinema – senão eles se perderão e o filme perderá, consequentemente, um pouco de sua graça, transformando a “ótima comédia” em um trabalho engraçadinho. Mas ainda assim bastante acima da média.

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