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Críticas

Cineplayers

Cameron Crowe mostra que não perdeu o bom ritmo de suas produções recentes, dirigindo outro trabalho encantador.

8,0

Devo corrigir uma injustiça aqui: este novo trabalho de Cameron Crowe vem sendo, falando de forma geral, banalizado pela crítica e por muitos espectadores, quando na realidade é seu terceiro melhor filme, perdendo apenas para Quase Famosos e Jerry Maguire (isso, por si só, não quer dizer muita coisa, visto que ele tem seis filmes em sua ficha como diretor). Tudo Acontece em Elizabethtown é encantador, consegue levantar a moral e a motivação, e apresenta personagens com os quais pessoas comuns podem se identificar. Além, é claro, de trazer uma trilha sonora maravilhosa, o que é comum nos filmes do diretor, sendo que esta trilha é agente ativa do roteiro, não sendo utilizada apenas como plano de fundo do enredo.

Começo falando do elenco. Orlando Bloom ganhou má fama como ator desde sempre, o que também pode ser dito como injustiça. Seu trabalho na trilogia O Senhor dos Anéis foi correto para o exigido, e apenas em filmes imbecis como Menino Cálcio ele realmente foi desprezível (mais pelo papel horroroso mesmo do que por sua culpa). Ok, em Tróia certas atitudes suas são discutíveis, mas a qualidade apenas intermediária daquele filme certamente não é culpa sua. Aqui ele é a estrela maior, e com Kirsten Dunst elabora um personagem multidimensional muito interessante. Um fracassado que foi demitido por fazer sua empresa perder 1 bilhão e, quando estava prestes a se suicidar, descobre que seu pai, com quem não vinha mantendo muito contato ultimamente, acabou de falecer. Pode acontecer com qualquer um, tirando a parte dos 1 bilhão de dólares, obviamente. Todos conhecem alguém com má sorte, ou que já passou por algum fiasco. O filme encanta por fazer de uma tragédia pessoal algo positivo, mostrando que a vida deve continuar. Soa clichê, é verdade, mas na prática ficou ótimo, principalmente pelo homem atrás das câmeras: Cameron Crowe, de quem falarei mais para frente.

O restante do elenco - que é absurdamente enorme - envolve o personagem de Bloom às vezes como um alívio e às vezes trazendo incríveis problemas para ele. Sua mãe, vivida por uma Susan Sarandon apagada (mas que recebeu um discurto bacana lá pelo final do filme), sua irmã, seus tios, sobrinhos... formam todos uma grande família. Uma família normal, com elementos bons e ruins, que vivem em uma cidadezinha que deu nome ao filme, de especial encanto (cidadezinhas do interior norte-americanas são geralmente agradáveis). Enfim, tudo remete a um clima pessoal com o qual você sente que pode se aconchegar. O tom do filme, dessa forma, é absolutamente perfeito. A atriz Kirsten Dunst consegue não ser irritante como em alguns de seus trabalhos recentes (O Sorriso de Mona Lisa?), bem pelo contrário: sua personagem é a personificação da simpatia, e justifica o motivo pelo qual o personagem de Bloom se apaixona por ela. O romance entre ambos, sendo assim, de forma alguma pode ser considerado forçado.

O ponto alto de qualquer filme de Crowe é sempre sua trilha musical. Em Elizabethtown ele não decepciona novamente, provando suas raízes musicais, sempre dando um grande peso a cenas-chave com o uso de uma canção correta para o momento. Muitos poderão considerar isso um truque barato, visto que é fácil elevar o valor de uma cena medíocre com trabalhos de bandas e cantores famosos, para tocar no coração dos espectadores. Ainda bem que não é o caso aqui. Além da trilha sonora, as cenas são bem construídas, bonitas (a fotografia é especialmente muito boa) e o ritmo proposto pelo roteiro não deixa um espectador atento desconfortável. Crowe prova novamente suas habilidades como diretor de filmes contemporâneos e urbanos. Apesar de se passar a maior parte em uma cidadezinha de pessoas ignorantes (mas honestas), os temas tratados são universais e o mais importante: dirigidos a pessoas ordinárias, como eu e você.

Este, ao contrário do que dizem as más línguas, é um trabalho extremamente charmoso, viciante (assim que terminou, já deu vontade de rever, o que acontece raramente comigo) e com uma pequena-grande história. Há poucos pontos negativos, e estes são muito ínfimos e são facilmente encobertos pelas grandes qualidades do filme. A história bem batida seria o maior desses pontos. Mas quando percebi que estava torcendo para o filme durar mais do que suas duas horas, percebi também que deveria escrever algo saudando o diretor, e não gastando letras para falar desses pontos mais do que o estritamente necessário. É uma recomendação ótima, sem dúvida.

Ps.: um texto totalmente off aqui: apenas queria deixar registrado que está é minha ducentésima crítica para o Cine Players (e, consequentemente, para qualquer veículo de informação). Não é uma marca realmente importante, há muito para produzir, aprender e, com isso, tentar repassar a vocês. Falta experiência em muitos pontos, muitos estilos de cinema, e espero que 200 críticas daqui pra frente já esteja no ponto para passar opiniões ainda mais embasadas e corretas a todos vocês. Obrigado para quem lê.

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