Saltar para o conteúdo

Montanha em Movimento, Uma

(Uma Montanha em Movimento, 2025)
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

O cinema do eu.

7,0

O cinema do Eu tem sido uma constante dentro da 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes. E dentro todos os filmes que centralizam a figura de um autor como epícentro de sua narrativa, nenhum foi tão divisivo quanto Uma Montanha em Movimento, expiação de Caetano Gotardo que já há tempo suficiente se centraliza em tela para entendermos que seu cinema se baseia na confissão, no abrir de um leque de fragilidades, questionamentos, tensões e amores do próprio que além de dirigir e protagonizar, roteiriza e edita sua própria obra. Nesse cinema de autoimagem, Gotardo busca falar o que precisa, transmitir o que precisa, confessar o que precisa através do uso do corpo como um objeto performático. Claro que há a narração que acompanha as imagens e outros relatos de desconhecidos que se juntam ao de Gotardo em busca de criar um espelhamento. Funciona aqui, se torna disfuncional ali.

Porque, no fim das contas, é o corpo nu de Gotardo dançando em cena, às vezes agressivo, às vezes delicado, que importa para sintetizar o que este cineasta quer confessar para nós, o público. Cinema de egotrip, óbvio. E nenhum problema nisso até então, visto que apesar da centralização, Gotardo não se isola e se apresenta vulnerável, ao mesmo tempo que busca a vulnerabilidade de outros diante de uma câmera que abraça e observa suas histórias com o devido interesse (emblemática a participação de Salloma Salomão). Ao contrário do que pode ser entendido do cinema do Eu, o diretor/protagonista/narrador não é avesso às experiências alheias. Suas dores e seus medos também lhe interessam. É cinema do Eu que ainda busca uma expiação coletiva, um abraço de histórias que, pasmem, podem ser reais ou não. “Tem que ser muito idiota para morrer afogado no raso. Mas pode ser também.”

Ao filmar seu filme inteiramente com seu celular, carregando as imagens com uma pixelização que lhe coloca imediatamente no posto do cinema caseiro, Gotardo desfruta de total liberdade para ficcionalizar um acontecimento de sua vida envolvendo um relacionamento e um desejo, uma vontade que nunca se materializou, a vontade de ver o namorado dançando e filmar isto. Desta negação, quem dança em tela é o cineasta, ele se torna a imagem que seu imaginário tanto precisa e necessita. Sim, cinema de egrotip! É para lá de honesto dentro dessa definição. Mistura de narcisismo com um discurso poético e até acadêmico (Ernest Lubitsch, Humberto Mauro, Katsushika Hokusai são referências óbvias aqui, além de Andy Warhol) sobre o corpo. Catártico neste sentido, principalmente quando Gotardo faz do uso de um vestido, antes somente descrito em narração, para finalizar esta narrativa… de materialização, seja de desejos, seja das histórias de outros. Lindo filme.

Filme assistido na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes.

Comentários (0)

Faça login para comentar.