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Críticas

Cineplayers

Um filme que mostra em estágio inicial as principais características de Baz Luhrmann.

6,0

Com apenas três filmes no currículo, Baz Luhrmann já pode ser considerado um dos mais inventivos cineastas da atualidade. Sua chamada “Trilogia da Cortina Vermelha” mostrou que Luhrmann é um dos poucos “autores” do cinema, capaz de imprimir seu toque pessoal a cada uma de suas obras. Basta analisar o ousado Romeu + Julieta e o espetacular Moulin Rouge para perceber algumas das características do diretor, como a extravagância, a energia e a forte presença das cores.

Antes destas duas produções, porém, Luhrmann realizou este Vem Dançar Comigo, em 1992. O roteiro, escrito pelo próprio cineasta, conta a história de Scott, um dançarino que perde uma competição e a parceira por inventar passos próprios na hora da apresentação. Enquanto sua mãe e companheiros buscam uma nova parceira para ele, Scott começa a treinar com Fran, uma desconhecida de sua academia para a qual ninguém jamais havia dado atenção.

Vem Dançar Comigo é uma espécie de ensaio para os trabalhos seguintes de Luhrmann. Aqui podem ser apontadas todas as principais características de seus filmes posteriores, mas em uma fase, digamos, embrionária. O cineasta parece ter aproveitado a história e sua primeira oportunidade em longa-metragens para mostrar que tem uma visão diferenciada, mesmo que ainda não completamente amadurecida.

O primeiro fator que podemos apontar em seu cinema é a falta de realismo. Todos os seus filmes parecem ocorrer em uma dimensão paralela, onde tudo é exagerado e superlativo. Em Vem Dançar Comigo, nota-se que as atuações são histéricas, os diálogos se auto-parodiam e as próprias situações criadas pelo roteiro beiram o fantasioso. É uma característica de Luhrman que funciona maravilhosamente bem em Moulin Rouge, mas que aqui nem sempre sai como o diretor pretendia.

Isso se dá pelo fato de que, ao contrário do citado musical com Nicole Kidman e Ewan McGregor, Vem Dançar Comigo ainda não se passa totalmente no mundo cinematográfico de Luhrmann. Em outras palavras, significa dizer que, apesar de exagerar nas cores, diálogos, atuações e na direção em diversos momentos, existem outros na qual a história assume “tons reais”. Essa contradição acaba trazendo certa estranheza ao filme.

O mesmo pode ser dito no manejo da câmera por Luhrmann. Ainda que abuse de enquadramentos inusitados, especialmente nas cenas de diálogos, em outros momentos o diretor parece deixar o usual tomar conta. É o caso, por exemplo, das cenas de dança, nas quais certamente Luhrman poderia ter oferecido maior dinamicidade através da direção, não deixando esta tarefa apenas para os atores.

Da mesma forma, é impossível não comentar que o roteiro de Vem Dançar Comigo é simplista ao extremo. Não há a menor tentativa de criar algo de inovador na história ou mesmo na construção dos personagens, assumindo soluções fáceis e até ridículas para os conflitos estabelecidos. No entanto, deve-se levar em conta que a força de Vem Dançar Comigo não vem do roteiro, mas da direção – e que essa é uma opção do próprio diretor.

No final, é apenas a criatividade visual e a técnica de Luhrmann que fazem o filme funcionar. Na verdade, Vem Dançar Comigo pode ser melhor classificado mais como interessante do que bom. Interessante porque é curioso ver um diretor hoje respeitado ensaiando seus primeiros passos. Passos cambaleantes, um tanto inseguros, mas, desde já, diferenciados.

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